Nós, os auto-móveis

Uma polaridade política já sedimentada reemergiu com alguma força em Lisboa. Trata-se da oposição entre os que defendem a ampliação dos condicionamentos, nalgumas zonas da cidade, à circulação dos automóveis, e os que contestam essas medidas com o argumento de que elas servem apenas para satisfazer uma série de tendências fúteis que o ar do tempo promove de maneira irresponsável e demagógica, tais como deslocar-se nesse meio de transporte neo-freak que é a bicicleta. Não se trata da luta entre peões e automobilistas porque o mais comum é cada um de nós ser as duas coisas alternadamente e sabermos que isso é causa de uma esquizofrenia cheia de consequências. Esse esquizofrénico prolonga-se na hostilidade constitutiva do automobilista face a todos os outros que são seus pares, embora tendencialmente inimigos. O inferno é sempre o carro dos outros, a proliferação automóvel no exterior. Dentro da nossa carroceria estamos instalados numa bolha micro-climatizada.

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