Os irmãos

Dedico este dia 31 de maio, muito justamente designado o “Dia dos Irmãos”, a todos os que são irmãos, aos que desejam irmãos e, acima de tudo, aos que, apesar das dificuldades da vida, decidem com coragem proporcionar aos filhos a experiência humana maravilhosa de ter irmãos.

Desde os cinco anos que passei a dividir o meu quarto com a minha irmã. Do outro lado da parede, os dois rapazes.

O quarto era o espelho dos nossos dois mundos, separados por cinco anos. Um mundo de livros e partituras de música. Outro de brinquedos e, mais tarde, maquetes e porta-desenhos. Sempre fomos muito diferentes. Entre os rapazes igual: um rugby e carros e outro futebol! Fomos e somos quatro mundos únicos e essa individualidade é, acima de tudo, mérito dos nossos pais.

O que une os irmãos? O tronco da mesma raiz. É mais que cumplicidade. É identidade que não dita uniformidade nem nenhuma espécie de determinismo. Seguimos todos caminhos próprios. O que une os irmãos? Os irmãos sabem de onde vimos. Sabem muito de nós. São mesmo parte de nós. Mas, e as zangas, as ofensas e as incompreensões? A nossa primeira escola de perdão. E até de compaixão pelas fraquezas que, por vezes, só os irmãos conhecem entre si. Quantas vezes o primeiro contacto com o “inaceitável” surge entre os irmãos. E é entre irmãos que se consegue, ou não, esticar os nossos limites interiores para margens e lugares novos.

Por tudo isso, os irmãos são uma espécie de zona de conforto. Entre os irmãos, fala-se o que não se diz mas o outro percebe. Cala-se o que se devia dizer, por tacticismo. Vale o amor que sentimos para lá da compreensão. Vale mesmo, vale acima tudo. Os irmãos são o lugar onde as palavras e a matemática dos cálculos não são a lei. Nem o tempo ou o espaço funcionam como condicionantes, como habitualmente. Entre os irmãos não funciona a máxima “longe da vista, longe do coração”. Alguma vez na vida alguém conseguiu esquecer no coração um irmão apartado?

Hoje vejo os irmãos que os meus filhos são entre si. Confirmo neles o ser único e irrepetível que cresce em cada um. E o papel insubstituível que cada um representa para os seus irmãos. Dou por mim frequentemente a perguntar: e se o terceiro ou o quarto não existissem? Delicio-me com orgulho quando os vejo à distância a funcionar entre irmãos.

No momento presente, em que se tenta densificar “novos” Direitos Humanos, reconhecer o direito humano a ter irmãos é o menos absurdo que tenho ouvido!

Por isso, dedico este dia 31 de maio, muito justamente designado o “Dia dos Irmãos”, a todos os que são irmãos, aos que desejam irmãos e, acima de tudo, aos que, apesar das dificuldades da vida, decidem com coragem proporcionar aos filhos a experiência humana maravilhosa de ter irmãos.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 4 comentários