Cartas ao director

Boa sorte, J.M.T.

A vetustez de Henry Kissinger (H.K.) não garante nada, muito menos a sua infalibilidade. Atesta apenas a longa experiência que acumulou no desempenho dos múltiplos cargos em que influenciou decisivamente o mundo.

Escrevendo, na sua crónica de 26 de Maio no PÚBLICO, sobre as posições reiteradas por H.K., João Miguel Tavares (J.M.T.) desejou “boa sorte” a todos quantos escolhem “prudência, prudência, muita prudência” no tratamento da questão ucraniana. Diria eu que quem vai precisar de muita “boa sorte” será J.M.T. e os outros (todos nós!) caso se prossiga o proposto exercício de displicente indiferença quanto ao que virá a seguir às exibições de bravura dos ucranianos, como se elas dependessem apenas deles e não do empenho concreto dos países e povos que proporcionam as condições necessárias a tanto heroísmo. Um princípio, não infalível, mas básico, de quem aspira à “boa sorte”, é, no mínimo, não desafiar a “má sorte”.

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

​Liberdade de expressão (e soberania nacional)

A propósito da guerra russo-ucraniana, os comentadores têm sido unânimes em considerar a defesa da Ucrânia como a da própria liberdade. Um episódio ocorrido recentemente com um dos meus netos evidenciou consequências problemáticas deste pensamento. Cabendo aos alunos da Escola Alemã, por ocasião da entrega dos diplomas do 12.° ano, escolher a canção que acompanharia a entrada em palco de cada um, apenas num caso a escolha foi recusada: tratava-se da Internacional. Serviu de justificação a presença na festa do embaixador da Alemanha. O governo alemão, aquando das comemorações do fim da II Guerra mundial, proibiu a exibição de bandeiras vermelhas. Foi uma limitação da liberdade de expressão, aplicada pelo governo da RFA no seu território. No caso que relatei, a autoridade do governo alemão estendeu-se a Portugal. Quer dizer, a defesa da liberdade ucraniana serviu não só para reprimir a liberdade de expressão como para violar a independência nacional.

João Arsénio Nunes, Norwich

Mais uma situação incrível

Portugal vai destacar para os Países Bálticos uma companhia de fuzileiros numa missão de protecção contra uma possível ameaça russa àquela zona nevrálgica do norte da Europa, naquilo que deve ser o espírito de solidariedade entre os trinta Estados que integram a NATO.

Porém, pode-se dizer que essa unidade, das mais especializadas das nossas pobres Forças Armadas, vai para um local perigoso num momento complexo da situação internacional e porque não se sabe o que o ditador do Kremlin tem em mente para os próximos tempos. Indo estar empenhada numa missão de alto risco, essa unidade da Armada vai coxa - os meios que lhe estão atribuídos não lhe dão qualquer garantia de segurança pois sem viaturas blindadas (e as velhas Hummer não são, na verdade, veículos fiáveis em termos de blindagem contra os mísseis modernos e com alto poder de penetração) e sem capacidade de defesa contra meios aéreos estarão extremamente frágeis face a, por exemplo, um único helicóptero de combate que, em poucos segundos, pode destruir a unidade dos fuzileiros sem apelo nem agravo.

Na verdade, fazer a guerra da década de vinte do século XXI com os meios da guerra colonial não cabe na cabeça dos responsáveis pela Defesa Nacional.

Aliás, alguém pode explicar da razão de quase todas as unidades do Exército estarem já equipadas com armas ligeiras modernas e os fuzileiros, tropa de elite, usar as velhas G3 dos inícios dos anos sessenta? O actual CEMA tem razões mais que suficientes para estar preocupado com a segurança dos seus homens face às condições em que irão desempenhar mais uma missão fora do território nacional.

Manuel Alves, Lisboa

Os juízes do TC estiveram a dormir?

Fiquei a saber pelo PÚBLICO que o Tribunal Constitucional esteve entre 24 de Setembro de 2019, data em que o Parlamento lhe enviou toda a documentação que tinha sido solicitada, e Novembro de 2021 sem iniciar a discussão da lei dos metadados. A independência entre os poderes é algo que nunca poderá ser posta em causa e, por isso mesmo, os juízes do TC devem uma explicação ao país especialmente pela forma como, pela decisão tomada sobre a lei dos metadados em 2022, deram meios extras aos criminosos para efectuarem a sua actividade ilícita ao mesmo tempo que dificultaram a busca de provas para condenar esses mesmos criminosos. Até parece que o TC preferiu o lado da transgressão e por isso é que eu, tal como outros, continuarei a escrever buscando o dia em que a justiça seja, na realidade, igual para todos. Nunca devemos perder a esperança. Nunca mesmo.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

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