Cartas ao director

Logo se vê…

Dois dos principais temas na primeira linha da actualidade mediática nacional, a recepção aos refugiados ucranianos em Setúbal e a inconstitucionalidade da lei dos metadados, aparentemente muito distintos, revelam algumas semelhanças na atitude de como somos governados. Colocando de lado segundas intenções dissimuladas e assumindo que tudo não passa de simples distracção e inacção, é demasiado.

Assumir responsabilidades, gerir e governar não passa apenas por cumprir normas e carimbar despachos; inclui muito de “e se, e se, e se…?”: prever, avaliar, analisar possíveis consequências e antecipar soluções.

Ninguém se ter preocupado, nem se sentir responsável por ter russos pro-Kremlin a receber e a registar refugiados ucranianos é dormir na forma e, já agora, para que precisamos de serviços de informação? Quando já em 2014 o Tribunal deJustiça da União Europeia tinha colocado em causa a validade da recolha dos metadados, ninguém responsável se ter preocupado e termos continuado 8 anos a instruir e a julgar processos, que agora se esvaziam … 8 anos é incompetência ou irresponsabilidade, muitas.

Como se nos lembrássemos de pensar nos travões apenas depois de bater no muro…

Carlos J F Sampaio, Esposende

A protecção da impunidade

A indispensável protecção legal da privacidade dos cidadãos seguiu, como tantas outras boas causas, por caminhos que só podem perverter os bons e justos objectivos iniciais. Não vou discutir detalhes legais nem preceitos constitucionais. Penso apenas em como esse valor importante, fundamental, que é a reserva da intimidade da vida privada, foi servido por uma regulamentação europeia pesadíssima, por legislação nacional do mesmo cariz, por uma jurisprudência fundamentalista da CNPD, e agora por uma decisão do Tribunal Constitucional que, dado o quadro vigente, não podia ser outra. De tudo isto se fica com a impressão de que o sistema serve sobretudo muito bem os que têm coisas inconfessáveis a esconder, em todos os campos da criminalidade. Para aí apontam coisas discutíveis como o regime da prova ilícita e o da conservação de metadados. Uma coisa é a protecção da intimidade, outra é a da impunidade, e não parece que haja nada de fatal em que uma conduza à outra.

António Monteiro Fernandes, Lisboa

Bicicletas voadoras

A primeira bicicleta voadora que vi foi no filme de Spielberg levando um E.T. em segurança para a sua nave. Depois, com o meu amigo de infância chamado Armando, voei numa velha bicicleta Órbita que se desmontou em andamento quando estava sentado no suporte traseiro.

Agora, num hotel em Trancoso, onde uma equipa de ciclismo do norte com nome de medicamento estava instalada, foram descobertos uns instrumentos e umas substâncias estranhas que faziam voar as bicicletas em provas profissionais. Espero que o engenheiro, que por acaso também é director desportivo, não tenha registado a patente, confesso que precisava dum velocípede assim para atravessar o túnel de Águas Santas e o trânsito caótico da auto-estrada A4 em direcção ao trabalho, ainda para mais com o custo elevado dos combustíveis.

Disseram-me que Lance Armstrong tinha um par dessas bicicletas e eu nunca quis acreditar, até hoje!

Emanuel Caetano, Ermesinde

Chagas na Saúde

A maior fatia de uma dotação orçamental deveria ter como prioridade o setor da sociedade que num contexto adverso, como aquele que vivemos, exigisse maior esforço dos profissionais envolvidos, como forma dos mesmos se sentirem valorizados, não apenas no desempenho das suas funções mas também na eficácia das respostas necessárias que se esperam ser dadas no sector como o da saúde.

Não é de estranhar que num contexto de maior exigência de meios técnicos e humanos neste sector em particular, muitos profissionais acusem desgaste e cansaço, face à inexistência de respostas da tutela, e estejamos a assistir a demissões em várias unidades de saúde de norte a sul do país que fragilizam ainda mais um sector já deficitário e adiando respostas.

A verdade é que uma entidade com problemas agravados carece de mais meios, mas a inexistência dos mesmos revela as fragilidades e a incapacidade do sistema, onde a demissão dos profissionais de saúde exaustos com exigências pouco ou nada recompensadas vem atrasar a realização de consultas, sendo que os que sofrem as consequências são aqueles que dependem de um sistema falhado.

Américo Lourenço, Sines

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