Pepe deu ao título do FC Porto um toque de sabedoria

“Animal”, “competitivo”, “dura”, “exigência”, “ganhar”, títulos”. Todas estas palavras saíram, em Março de uma reflexão de Sérgio Conceição. Juntas, embora tiradas de outro contexto, definem o que foi mais uma temporada de Pepe como capitão do FC Porto.

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Pepe, defesa do FC Porto LUSA/JOSE COELHO

Ancião: adj. n. m. Que ou quem tem idade avançada e é geralmente merecedor de respeito.

Esta definição do dicionário enquadra-se perfeitamente em Pepe, homem de idade futebolística avançada e merecedor de respeito. E foi também disso que se fez este título do FC Porto: experiência e liderança de alguém muito respeitado.

A 16 de Junho de 2012, em pleno Europeu, o PÚBLICO escrevia que “Képler Laveran Lima Ferreira foi distinguido pela UEFA, na quarta-feira, com o título de homem do jogo. Como reagiu o luso-brasileiro na entrega do prémio? “O mais importante foi o esforço colectivo””.

Nesse perfil de Pepe, o artigo citava, depois, o primeiro treinador do central em Portugal, já no longínquo ano de 2001: “Sempre foi um jogador muito determinado. Era um bocado impetuoso, mas vinha disposto a vencer e isso é o que diferencia os grandes atletas dos atletas medianos: é a atitude mental”.

Uma década depois desse texto e mais de duas décadas depois de chegar a Portugal, Pepe, com quase 40 anos, mantém tudo o que lhe era apontado. Continua impetuoso nos duelos, determinado no objectivo, com a atitude mental de um campeão e com o altruísmo de um jogador de equipa.

Em declarações ao PÚBLICO, o ex-avançado brasileiro Gaúcho recorda que quando Pepe chegou a Portugal, para o Marítimo, já tratava o corpo como um templo. “Ele sempre se cuidou muito. E também por isso com quase 40 anos parece um menino. Mas ele sempre foi assim, cuidando-se muito”, garante.

Também por isto Pepe foi, em 2021/22, o capitão do FC Porto campeão, com 18 jogos já disputados na I Liga. Aos 39 anos, tornou-se também o quarto jogador mais velho de sempre a marcar no campeonato nacional, mas foi noutros pelouros que voltou a ser fundamental.

A série de invencibilidade do FC Porto esteve assente em muito talento ofensivo, mas também na capacidade de não sofrer golos. Apesar de alguns problemas físicos durante a temporada, Pepe foi, sempre que possível, o patrão da defesa, ao lado de Mbemba, mantendo, depois, o que mais continua a surpreender: os predicados individuais.

Pepe chegou ao topo do mundo pela conjugação de força física, capacidade no desarme e velocidade e tudo isso se mantém. Gaúcho recorda-nos o que viu de Pepe logo de início, ilustrando um diálogo com o então treinador dos insulares, Nelo Vingada. “Mister, temos central”. “Achas, Gaúcho?”. “Com certeza, temos mesmo”.

A profecia do avançado brasileiro confirmou-se por inteiro e Gaúcho recorda que “quando o Pepe chegou ao Marítimo, veio lesionado. Esteve 30 ou 35 dias sem treinar e começou aos poucos. Quando entrou na equipa, não saiu mais. Era um central muito forte na marcação, rápido e agressivo”.

Com quase 40 anos, continua a superar, na velocidade, atacantes com metade da idade e, pelas valências no desarme, conseguiu também destacar-se, por exemplo, em jogos europeus nos quais o FC Porto viveu períodos em defesa baixa.

Pepe é, para Sérgio Conceição, a garantia de competência nos dois momentos defensivos: se é preciso defesa alta, como quase sempre na I Liga, Pepe tem velocidade para prosperar, se é preciso defesa mais baixa, como muitas vezes na Europa, Pepe tem experiência e capacidade de desarme para ser determinante.

Por fim, se a equipa passa por dificuldades, é ali que está a estabilidade e a liderança e, se vive períodos fulgurantes, é ali que está o esfriar da euforia.

No meio de todos estes predicados, só há uma coisa que não se pode pedir a Pepe: perfeita noção geográfica. “Quando ele chegou, o Marítimo estava a estagiar no Canadá. Ele chegou, entrevistaram-no e ele apareceu na televisão a dizer “agora que já chegámos aqui ao Canadá…”. E o repórter a dizer “Pepe, você está na Madeira”. Foi uma risota incrível”, recorda Gaúcho, num episódio que nada tem que ver com futebol, mas que o ex-jogador quis partilhar na hora de falar do ex-colega.

Recentrando o tema, esta temporada tem até contornos interessantes no sentido em que Pepe “renasceu”, aos 39 anos, depois de uma época pouco conseguida aos 38. Na altura, teve erros individuais que custaram golos ao FC Porto e até levaram o luso-brasileiro para o banco de suplentes em determinada fase da temporada.

Mas isso mudou. Em Março de 2022, quando teorizava sobre o futebol de formação, Sérgio Conceição elogiou o seu capitão: “Tenho um animal competitivo como o Pepe e depois apanho três ou quatro miúdos que ficam fragilizados porque o mister deu uma dura. Tem que ver com a dificuldade de incutir nesta malta a exigência do FC Porto, que luta a cada três dias por ganhar jogos, que depois, no final, podem ser transformados em títulos”.

“Animal”, “competitivo”, “dura”, “exigência”, “ganhar”, títulos”. Todas estas palavras saíram da reflexão de Conceição. Juntas, definem o que foi mais uma temporada de Pepe como capitão do FC Porto.

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