Hungria: Orbán festeja vitória que “se vê de Bruxelas”

Resultados preliminares das eleições legislativas apontam para uma quarta vitória consecutiva do primeiro-ministro húngaro, estando em dúvida uma manutenção da maioria de 2/3.

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Vikor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, a votar este domingo, em Budapeste Reuters/BERNADETT SZABO

O ultraconservador Viktor Orbán, que já é o chefe de Governo há mais tempo no cargo na União Europeia (12 anos), preparava-se para celebrar mais uma vitória eleitoral, a quarta consecutiva, este domingo: resultados preliminares davam a vantagem ao seu partido, o Fidesz, sobre a oposição unida, que juntou seis partidos, da antiga extrema-direita à esquerda tradicional e incluiu ainda a movimentos cidadãos recentes. “Ganhámos!”, escreveu simplesmente Vikor Orbán no Twitter.

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O ultraconservador Viktor Orbán, que já é o chefe de Governo há mais tempo no cargo na União Europeia (12 anos), preparava-se para celebrar mais uma vitória eleitoral, a quarta consecutiva, este domingo: resultados preliminares davam a vantagem ao seu partido, o Fidesz, sobre a oposição unida, que juntou seis partidos, da antiga extrema-direita à esquerda tradicional e incluiu ainda a movimentos cidadãos recentes. “Ganhámos!”, escreveu simplesmente Vikor Orbán no Twitter.

Com mais de 70% dos votos contados, o Fidesz tinha uma vantagem de dez pontos percentuais sobre a oposição, com 54% contra 34%. A dúvida parecia ser se a contagem em zonas urbanas como Budapeste, onde a oposição é mais forte e onde a contagem demora mais, poderiam evitar uma nova maioria de 2/3, e já não se poderia reverter a vantagem do partido no Governo. A noite da oposição parecia perdida, com derrotas pesadas mesmo em círculos que lhe seriam favoráveis, como o do candidato da oposição unida, Péter Márki-Zay, que foi derrotado na localidade em que conseguiu ser eleito presidente da câmara em 2018 para o candidato do Fidesz.

“A nossa vitória pode ver-se da Lua, ou definitivamente, de Bruxelas”, disse depois Orbán aos apoiantes, aludindo aos desentendimentos que o seu Governo tem tido com a União Europeia pelo desrespeito pelas regras do Estado de direito.

A luta da oposição era totalmente desigual à partida, já que o Governo de Orbán tem vindo a apoderar-se de áreas-chave do Estado, entregando-as a aliados, e deixando a oposição sem grande espaço público ou mediático, dos cartazes eleitorais nas ruas à presença nos media audiovisuais (mesmo os privados, que estão nas mãos de aliados de Orbán).

Também o redesenhar de círculos eleitorais faz com que seja difícil prever um vencedor com base apenas nas percentagens totais, já que a oposição precisaria de mais entre 3 a 5 pontos percentuais do que o Fidesz para conseguir uma maioria parlamentar.

A guerra na Ucrânia dominou a campanha, e o Governo parece ter conseguido fazer passar a sua ideia de que era a garantia de que o país não iria participar na guerra, acusando a oposição de o querer fazer (o que não é verdade). Mesmo a proximidade de Orbán com o Presidente russo, Vladimir Putin, não parece ter afectado negativamente o Fidesz.

Há uns meses, tudo parecia muito diferente: o Governo fez aprovar um referendo ao mesmo tempo que a eleição, para tentar centrar a eleição em questões LGBTQ, com quatro perguntas focadas em educação e crianças. A oposição escolheu para defrontar Orbán o candidato Péter Márki-Zay, católico praticante, o que já deixara este tema com menos possibilidades de mobilizar um eleitorado conservador para o Fidesz.

A guerra fez com que o tema fosse, afinal, irrelevante na campanha, mas organizações de apoio a pessoas LGBTQ apelaram a que os eleitores invalidassem o voto para declarar o referendo nulo. As redes sociais estavam cheias de imagens criativas de boletins com desenhos, vários tinham representações de um homem a descer por um cano no exterior de um edifício – é uma referência ao antigo eurodeputado József Szájer, apanhado a sair por uma janela de uma festa gay em Bruxelas (a casa onde decorria a festa foi alvo de uma visita da polícia por estar a quebrar as regras então em vigor em Bruxelas para conter a pandemia de covid-19).

A preocupação com fraude eleitoral era significativa. A OSCE enviou uma missão alargada, com 200 observadores, algo muito raro em países da União Europeia, e há ainda um grupo significativo de observadores húngaros reunidos numa coligação de ONG.

A coligação de ONG disse já ter recebido várias queixas de irregularidades, incluindo contrapartidas pelo voto: 10 mil fortins (cerca de 27 euros) ou um pedaço de carne, relata o diário britânico The Guardian.

Na semana passada, foram encontrados restos de boletins queimados na zona da Transilvânia, na Roménia, onde vivem muitos húngaros com dupla cidadania e direito ao voto.

O risco de fraude nesta eleição era considerado muito mais alto, porque embora as eleições anteriores tenham sido consideradas livres mas não justas pela desigualdade de oportunidades e desenho a favorecer o Governo, o Fidesz não esteve em risco de perder, enquanto desta vez essa hipótese era real – ou seja, fraude poderia ser o factor decisivo para uma vitória do Fidesz.