Fragilidade defensiva do Lyon é a face visível da inadaptação às ideias de Bosz

O FC Porto defronta hoje no Estádio do Dragão o clube francês, na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga Europa

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Peter Bosz, treinador do Lyon LUSA/ESTELA SILVA

Não é segredo para quem acompanha regularmente o futebol francês e, mesmo não sendo comum haver essa análise táctica por parte de treinadores sobre os rivais, Sérgio Conceição não teve pudor em identificar uma das fragilidades do seu adversário nos oitavos-de-final da Liga Europa: “É verdade que se têm apontado em França, e eu sigo o campeonato, algumas fragilidades defensivas, que [o Lyon] tem. E é por aí”. A atravessar um bom momento, o FC Porto recebe esta tarde (17h45, SIC) o Lyon, equipa que tem denotado dificuldades em adaptar-se às ideias ofensivas, tipicamente neerlandesas, de Peter Bosz.

Quando, em Maio, Vincent Ponsot, director-geral do Lyon, ligou a Peter Bosz, o antigo treinador de Ajax, Borussia Dortmund e Bayer Leverkusen estava de férias em Curaçao, ilha no Sul das Antilhas neerlandesas, bem próximo da costa da Venezuela. Despedido dois meses antes pelo Bayer Leverkusen, Bosz não demorou a aceitar o convite de um dos “grandes” do futebol francês e, dois dias mais tarde, era confirmado como sucessor de Rudi Garcia no comando do Lyon

Adepto de um estilo de jogo ofensivo, baseado na posse de bola e num pressing agressivo, e confesso admirador de Johan Cruyff, Bosz foi de imediato comparado em França a outro técnico com ideias similares que já trabalhava no país (Jorge Sampaoli, do Marselha), mas, na terceira experiência fora dos Países Baixos após abandonar o Ajax, no Verão de 2017, o neerlandês continua sem conseguir replicar o sucesso que teve no clube de Amesterdão.

Apesar de o fato europeu não estar a vestir mal ao Lyon de Bosz — cinco vitórias e um empate num grupo acessível —, a nível interno, com um grau de exigência superior, o clube do Rhone tem fraquejado. Com 11 vitórias, nove empates e sete derrotas, o Lyon ocupa um decepcionante 9.º lugar, a 21 pontos do líder PSG, e os 33 golos sofridos em 27 jogos pelos dois guarda-redes utilizados (Anthony Lopes e o alemão Julian Pollersbeck), são um indício de um dos pontos fracos do rival portista: o seu sector defensivo.

À semelhança do que acontece por regra com clubes dos Países Baixos, o Lyon de Peter Bosz tem exibido dificuldades na zona central da sua defesa — a ausência do internacional alemão Jérôme Boateng agrava o problema —, quando actua com bloco baixo e nas transições defensivas.

Ontem, na antevisão da partida, Sérgio Conceição tocou no ponto fraco do adversário, acrescentando que, “olhando para a equipa [do Lyon] no seu todo, há que perceber o que o FC Porto pode aproveitar”, mas também deu conta da necessidade de ter “algumas precauções” preocupando-se com o que terá de “fazer como equipa.”

Reconhecendo que o clube francês está a “fazer um campeonato não muito dentro da qualidade e do orçamento que tem”, Conceição destacou “uma equipa muito capaz no plano ofensivo”, detalhando a análise: “Tem dois avançados — o Toko-Ekambi joga mais pela esquerda, mas é praticamente um avançado, e o Dembélé é muito forte fisicamente. Com o Paquetá, que tem muita qualidade, a entrar por trás; o Faivre juntou-se ao grupo e veio dar muita qualidade à equipa, partindo por dentro e com bastante potencial na definição. É uma equipa diferente daquela que defrontámos na pré-época e tem evoluído de forma positiva.”

Feito o raio-X do opositor, o treinador do FC Porto debruçou-se sobre os problemas com que se pode deparar e, um dos principais, é a sobrecarga de jogos de uma equipa que ainda está na luta pela conquista de três competições: campeonato, Taça de Portugal e Liga Europa.

“Quando se fazem três jogos por semana, ao fim de algum tempo torna-se desgastante. Este treino [de ontem] foi para os jogadores menos utilizados e não utilizados no jogo com o Paços de Ferreira. A preparação é mais à base de vídeo, o que não aprecio tanto, porque prefiro o trabalho de campo, mas nestas situações fica mais difícil”, admite. Ainda assim, acredita no conhecimento que os jogadores já têm dos seus métodos de trabalho e na competência do staff: “O trabalho de toda a gente é importante, do departamento médico, à equipa técnica onde está inserido o fisiologista. Trabalhamos em conjunto para que os jogadores estejam a 100%.”

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