Uma “caravana solidária” de Portugal à Polónia

Mais de 60 pessoas partiram de Portugal para levar mantimentos à Polónia e trazer pessoas. A “caravana humanitária”, que o P3 acompanha numa carrinha de nove lugares, partiu a 8 de Março e deverá chegar no início da próxima semana. Primeira paragem neste primeiro dia: a bomba de gasolina logo a seguir a Vilar Formoso, na fronteira.

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Tiago Lopes
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Os primeiros 700 quilómetros da “caravana humanitária” que partiu hoje de Portugal

A caravana está a chegar a San Sebastián, Espanha.

Carlos e Filipe Almeida — e uma carrinha de família

Os irmãos Carlos e Filipe Almeida trouxeram a espaçosa carrinha dos passeios de família. “Começou com uma página de Facebook em que alguém perguntava quem tinha alojamento para receber pessoas que fugiam da Ucrânia. Até que alguém apareceu a perguntar quem tinha carrinhas de nove lugares disponíveis. Eu disse que tinha uma. Depois cresceu para virmos nós. Falei com o meu irmão, ele disponibilizou-se para vir e a partir daí foram 24 horas até estarmos aqui.”

Têm alojamentos em Loures e na Arruda dos Vinhos, mas sabem que pode haver preferência pelos centros das cidades. Mantêm a disponibilidade, “caso exista necessidade”.

13h20, bomba de gasolina em Espeja, município raiano de Espanha, na província de Salamanca

Numa bomba de gasolina na raia, daquelas que fazem virar cabeças pela diferença dos preços dos combustíveis, a fila de carrinhas e autocarros com autocolantes de bandeiras portuguesas e ucranianas “é um ânimo do caramba”. Um dos motoristas do autocarro ri-se dos inevitáveis croquetes e bolinhos de bacalhau que já preenchem as mesas de plástico onde o grupo se abriga da chuva.

Beatriz Moutinho, estudante de Enfermagem de 22 anos, conversa com Hugo Fernandes e Henrique Ramos, presidente e vice-presidente da União de Freguesias de Fornelo e Virão, em Vila de Conde.

Souberam da “caravana humanitária” através de dois moradores da cidade à beira-mar, que pediram ajuda financeira e viaturas para transportar bens e pessoas no Instagram. Estão agora a conduzir uma das carrinhas.

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Beatriz Moutinho, estudante de enfermagem de 22 anos Tiago Lopes

“Ainda não sabemos se alguma das pessoas que vamos trazer vai para Fornelo. O que interessa é que venham em segurança”, dizem. É esperado que a “caravana” a que se juntaram traga 230 pessoas que chegaram nos últimos dias a Cracóvia e Varsóvia.

Lyubov Balog (lê-se Lhubov, explica) tem a maior parte da família na Ucrânia. “Vão resistindo”, diz, principalmente porque “estão a menos de 50 quilómetros da Hungria”.

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Dia 27 Fevereiro, três dias depois de a Ucrânia ser invadida pela Rússia, a irmã chegava a Portugal, num voo que partiu de Praga. Saiu da Ucrânia com a filha e com quatro netos, conta, que ficaram na República Checa. “É muito longe chegar a Portugal e hoje em dia todo o apoio é pouco porque somos muitos”, diz.

Desde o início da guerra que mais de dois milhões de pessoas fugiram da Ucrânia, contabiliza o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

A Polónia, para onde se dirige Lyubov Balog, recebeu mais de metade destas pessoas: um milhão e 200 mil. Natural da Ucrânia, Lyubov vive há mais de 16 anos em Portugal, país onde também é cidadã. Trabalha na Câmara Municipal de Odivelas, que forneceu um dos autocarros.

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Vão deixar, num centro de recepção de refugiados em Cracóvia, na Polónia, medicamentos, comida enlatada, cobertores, comida para bebé. Tiago Lopes
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João Amorim na carrinha de nove lugares emprestada pela Junta de Freguesia de Arada Tiago Lopes

Acredita que pode oferecer uma ajuda preciosa, de aproximação cultural e linguística.

O início da viagem

A logística seria o suficiente para arrasar qualquer boa intenção. São 25 viaturas: carros, carrinhas, dois autocarros e um minibus. Levam de Portugal 65 cidadãos que se organizam, pela primeira vez, por uma causa em comum. Chamaram-lhe “Caravana Humanitária”. Vão deixar, num centro de recepção de refugiados em Cracóvia, na Polónia, medicamentos, comida enlatada, cobertores, comida para bebé. Querem trazer 238 pessoas, de Varsóvia e Cracóvia, sinalizadas previamente com a ajuda de um grupo voluntário informal, o movimento Ucrânia SOS Portugal. Partiram do Algarve, Setúbal, Lisboa, Paços de Ferreira, São João da Madeira, Vila do Conde, Torres Vedras.

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Lyubov Balog, ucraniana há 16 anos em Portugal Tiago Lopes

A Cruz Vermelha juntou-se nos últimos dias, numa acção paralela. Leva um camião TIR e um autocarro com mantimentos até à fronteira. Espera trazer 57 pessoas para Portugal.

João Amorim foi buscar a carrinha de nove lugares emprestada pela Junta de Freguesia de Aradas, no município de Aveiro, na segunda-feira. Com uma página no Instagram com 100 mil seguidores (@followthesuntravel), não foi difícil encontrar quem lhe emprestasse um veículo para a missão a que se juntou.

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“Esta carrinha só pode ser utilizada para fins de apoio social, por isso enquadra-se perfeitamente. Não podemos ter uma carrinha nova, pronta a arrancar, e ficar indiferentes”, acredita a presidente da junta, Catarina Barreto, que lançou uma campanha de recolha de medicamentos e outros bens essenciais na quarta-feira, 2 de Março.

A adesão conta-se pelas caixas que se amontoaram no edifício da junta — iguais às caixas de cartão que desde o início da guerra na Ucrânia se amontoam nas juntas de freguesia, seminários e pontos de recolha informais por todo o país.

Mariana Bueri está na organização da viagem solidária que deverá demorar sete dias. É uma das três pessoas que vão de avião de Portugal para Cracóvia, onde estão a criar um posto de recepção num hotel, para juntar as pessoas que pretendam vir para Portugal. Muitas têm familiares e amigos à espera.

Na carrinha onde o P3 vai, fala-se de outras viagens movidas por motivos mais felizes e testam-se os tradutores de voz. Os dois condutores principais, que se vão revezando ao longo de 30 horas de viagem, aprendem a cumprimentar alguém em ucraniano. Telefonam a pessoas nas outras carrinhas, tentam perceber como vão funcionar as paragens. “Tranquilo, tranquilo”, ouve-se, do outro lado.

A primeira paragem para juntar o grupo está combinada para o meio-dia, na primeira bomba de gasolina espanhola depois de Vilar Formoso, na raia portuguesa, na Guarda. Os três carros eléctricos começaram a viagem no domingo. Os autocarros deverão chegar com algum atraso. “Carro 16, a bandeira vai voar! Atenção!”, alertam no grupo de WhatsApp. A caravana partiu.

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