Balenciaga presta homenagem aos refugiados da guerra em Paris

“Tornei-me um refugiado para sempre”, contou o criador Demna Gvasalia, que foi ele próprio um refugiado em 1993, quando fugiu da guerra na Geórgia.

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Homens e mulheres a lutar contra a neve e o vento, a carregar tudo o que lhes resta em sacos — assim foi o desfile da Balenciaga, este domingo, na Semana da Moda de Paris. Enquanto as modelos desfilavam, o director criativo da casa espanhola, Demna Gvasalia, recitava um poema em ucraniano, num momento que confessou ter sido difícil a nível pessoal. É que o criador de moda foi ele próprio refugiado em 1993, quando fugiu da guerra na Geórgia.

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Homens e mulheres a lutar contra a neve e o vento, a carregar tudo o que lhes resta em sacos — assim foi o desfile da Balenciaga, este domingo, na Semana da Moda de Paris. Enquanto as modelos desfilavam, o director criativo da casa espanhola, Demna Gvasalia, recitava um poema em ucraniano, num momento que confessou ter sido difícil a nível pessoal. É que o criador de moda foi ele próprio refugiado em 1993, quando fugiu da guerra na Geórgia.

Estima-se que um milhão de pessoas já tenha abandonado a Ucrânia e, segundo as projecções da ONU, mais de dez milhões de pessoas poderão tomar a mesma decisão em resultado da invasão russa. Ainda que possa ser polémico usar uma crise humanitária mundial como elemento estético de um desfile de moda, Demna Gvasalia garantiu que o objectivo era prestar uma homenagem a todos os que, tal como ele, têm de abandonar o seu país.

A crise na Ucrânia, escreveu o designer num comunicado partilhado antes da apresentação, fez ressurgir um trauma antigo. Gvasalia tinha apenas 12 anos quando foi obrigado a fugir com a família da Georgia, fruto da guerra provocada pelos separatistas ossetas, que levou 250 mil georgianos a abandonar o país. “Tornei-me um refugiado para sempre”, contou o criador. “Para sempre, porque isso é algo que fica em nós. O medo, o desespero, a percepção que ninguém nos quer”, acrescentou.

É por isso que hesitou quanto à decisão de manter o desfile deste domingo. “Em alturas como estas, a moda perde a sua relevância e o direito de existir. A semana de moda parece uma espécie de absurdo”, defendeu. Mas cancelar o desfile, sublinhou, seria “render-se ao mal”, que tanto mal lhe fez ao longo de “quase 30 anos”. “Decidi que não me posso sacrificar por uma guerra de egos sem coração e sem sentido”, determinou.

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Instagram/Balenciaga

O desfile, sublinhou, foi “dedicado à bravura, à resistência, e à vitória do amor e da paz”. Em cada um dos 525 lugares, Demna Gvasalia deixou uma t-shirt com a bandeira da Ucrânia e uma nota com o comunicado. “Nós, como marca, temos de fazer alguma coisa… Não podemos usar armas e ir lá lutar, mas podemos usar as nossas vozes”, lembrou, em entrevista à Reuters, na sequência da apresentação do próximo Outono / Inverno.

As modelos percorreram a passerelle turbulenta onde se fazia uma tempestade de neve (falsa, claro). Os convidados assistiram à apresentação protegidos por um vidro. O primeiro coordenado a cruzar a passerelle foi um vestido preto, estilo capa. Na mão, a modelo trazia um saco preto, semelhante a um saco de lixo. Seguiram-se outros coordenados clássicos da marca, como os hoodies com estruturas exageradas e os padrões florais.

Ao som de um poema citado por Gvasalia, uma modelo com um vestido azul fechou o desfile, fazendo referência à bandeira ucraniana. O criador, cuja língua materna é russo, tem uma ligação especial àquele país, uma vez que viveu lá durante dois anos, depois de fugir da Geórgia, antes de rumar à Alemanha, onde a família se instalou.

No início desta semana, a Balenciaga apagou todos os conteúdos da conta de Instagram, que soma quase 13 milhões de seguidores, deixando apenas uma imagem com a bandeira ucraniana. A página naquela rede social, explicaram, passará temporariamente a ser usada apenas para partilhar informação sobre a crise no leste europeu.

O grupo de luxo francês Kering — a que pertence a casa fundado por Cristobal Balenciaga em 1927 no País Basco — anunciou, na passada sexta-feira, a suspensão de todas as operações na Rússia. Além disso, informaram que estavam a apoiar financeiramente o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Valentino e Givenchy marcaram o resto do dia

Depois da tempestade de neve da Balenciaga, a casa italiana Valentino também deixou uma mensagem de esperança aos ucranianos. “Nós vemos-vos, nós sentimos-vos, nós amamos-vos”, lembrou o director criativo Pierpaolo Piccioli, segundos antes de começar o desfile da colecção que descreveu ser uma celebração do poder individual.

A proposta do criador do próximo foi construída com uma única cor, um rosa tipo fúcsia, que em breve se tornará uma cor oficial da Pantone, com o nome Pink PP. A opção de Piccioli surge como uma agradável alternativa ao vermelho clássico da Valentino. E apesar da passerelle monocromática, os coordenados destacaram-se pelo jogo de texturas: entre as lantejoulas, as flores aplicadas e as transparências.

Já na Givenchy, que encerrou o dia de desfiles, a guerra não foi tema. O norte-americano Matthew Williams recuperou as influências do streetwear trazidas para a marca por Riccardo Tisci (agora na Burberry), como as botas em pele e os anoraques, e coordenou-as com detalhes mais femininos, em especial as pérolas, o tule e os folhos em organza.

A Semana da Moda de Paris continua até esta terça-feira, 8 de Março. Em destaque no calendário, esperam-se, ainda, as apresentações da Louis Vuitton, da Chanel e da Miu Miu.