Destino de Valieva em Pequim será decidido no TAD

A Agência Antidopagem da Rússia levantou a suspensão à patinadora de 15 anos. O COI e a AMA recorreram para o Tribunal Arbitral do Desporto e uma decisão será tomada antes da próxima terça-feira, primeiro dia da competição feminina individual.

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Kamila Valieva durante um treino, em Pequim Reuters/EVGENIA NOVOZHENINA

O futuro imediato de Kamila Valieva nos Jogos Olímpicos de Inverno, que estão a decorrer em Pequim, está nas mãos do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD). Depois de ter sido revelado que a jovem patinadora russa de 15 anos teve um teste antidoping positivo de uma amostra recolhida em Dezembro, a Agência Antidopagem da Rússia (RUSADA) decidiu, primeiro, suspender a atleta, levantando, depois essa suspensão após apelo, o que permitiria a Valieva manter-se em competição na capital chinesa. Mas o Comité Olímpico Internacional (COI) e a Agência Mundial Antidopagem (AMA) avançaram com um recurso para o TAD, que terá de decidir sobre o caso antes da prova feminina individual, agendada para a próxima terça-feira.

O que o TAD irá decidir é sobre a validade do levantamento da suspensão da atleta por parte do comité disciplinar da RUSADA, que aconteceu para que Valivea pudesse continuar a competir em Pequim. O tribunal já confirmou que recebeu os recursos do COI e da AMA e que irá nomear em breve os juízes para arbitrar o caso.

O caso foi tornado público nesta quarta-feira, já depois da equipa de patinagem artística que representa o Comité Olímpico Russo, ter conquistado o título olímpico colectivo, à frente dos EUA e do Japão. Valieva foi uma das “estrelas” da equipa, tornando-se na primeira mulher a conseguir fazer um salto quádruplo durante o programa livre individual feminino da competição por equipas. A cerimónia de entrega das medalhas estava prevista para terça-feira, mas acabaria por ser adiada devido ao caso de Valieva – e ainda não aconteceu.

O que está em causa é um teste positivo a uma amostra recolhida em Dezembro passado, durante os campeonatos de patinagem da Rússia em São Petersburgo. A amostra foi enviada para um laboratório acreditado pela AMA em Estocolmo, mas os resultados da análise só foram enviados à RUSADA a 8 de Fevereiro, um dia depois do último dia da prova por equipas. A substância detectada foi trimetazidina, um medicamento usado para tratar angina de peito – está na lista de substâncias proibidas da AMA desde 2021 na categoria de “modeladores hormonais e metabólicos”.

Este é mais um caso de doping a envolver atletas russos, que não podem competir com a bandeira da Rússia desde os Jogos de Inverno de 2018 em Pyenongchang – oficialmente, a Rússia está banida dos Jogos Olímpicos até ao final de Dezembro deste ano, depois das evidências de um sistema de doping e encobrimento no desporto do país com patrocínio estatal durante os Jogos de Sochi, mas os seus atletas podem competir desde que apresentem determinadas garantias. Mas Valieva, por ser menor, pode nem sequer ser alvo de suspensão, como prevê a mais recente versão do Código Mundial Antidopagem. Os seus 15 anos de idade fazem de Valieva uma “pessoa protegida” ao abrigo do Código e a pena mínima prevista para “pessoas protegidas” é uma “reprimenda”.

Americanos ameaçam

Do lado russo, a intenção é lutar pelo direito de Valieva em continuar a competir em Pequim – e ela é a grande favorita à medalha de ouro na competição individual – e manter a conquista do título colectivo em Pequim, argumentando que a jovem já fez testes desde que está na China, todos com resultados negativos.

Em sentido contrário vai a posição das autoridades norte-americanas. Em declarações à CNN, Travis Tygart, chefe da Agência Antidopagem dos EUA (USADA), diz que pode avançar para um processo criminal contra os envolvidos no doping de Valieva, algo que lhe é permitido por uma legislação aprovada em Dezembro de 2020, conhecida como a Lei Rodchenkov.

“Dependendo de como o caso avançar, essa lei pode aplicar-se. Se há um médico, um treinador, alguém do governo, um agente desportivo, então serve como uma luva. O doping russo, patrocinado pelo estado ou não, tirou ao desporto o que devíamos celebrar, os valores olímpicos”, reforçou.

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