Benfica segue em frente rumo ao abismo

Os “encarnados” perderam nesta quarta-feira frente ao Gil Vicente, em casa, com um desempenho quase sempre pobre.

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Reuters/PEDRO NUNES

Mais um jogo, mais um prego no caixão do Benfica. A equipa “encarnada” perdeu (1-2) nesta quarta-feira frente ao Gil Vicente, no Estádio da Luz, em jogo da ronda 20 da I Liga. Com este resultado, a equipa de Nélson Veríssimo fica a 12 pontos do FC Porto e pode ficar a seis do Sporting, que ainda joga nesta jornada. Já os minhotos continuam o grande campeonato e chegam aos 33 pontos, a cinco do Sp. Braga. Para já, o quinto lugar está seguro.

Os jogadores do Benfica vão voltar a dormir com a melodia de um coro de assobios “tocada” pelos adeptos, nesta quarta-feira, no Estádio da Luz. E nem a maior boa vontade esfria o ímpeto desse coro: o Benfica continua a perder pontos no campeonato, já saiu cedo da Taça de Portugal, falhou na final da Taça da Liga e já só um brilharete na Champions, por irreal que pareça, pode justificar um mínimo sorriso no final da temporada. E olhando para o nível exibicional, até Nélson Veríssimo perde, todas as semanas, argumentos de peso para dizer que merece comandar as tropas em 2022-23.

Nesta partida, o resultado surpreendeu, já que nem no reino animal se espera que um galo de Barcelos voe mais do que uma águia, mas, olhando para o que se passou no relvado, o desfecho tem toda a lógica.

O Benfica foi melhor em alguns momentos do jogo, mas nunca de forma prolongada – e muito menos avassaladora. Já o Gil Vicente pareceu quase sempre confortável no plano defensivo e capaz de ferir mais do que os “encarnados”, sem sequer atacar com muitos jogadores.

4x3x3 mascarado de 4x4x2

Para este jogo, Nélson Veríssimo montou o Benfica em 4x3x3, no papel, mas, na prática, o sistema foi frequentemente um 4x4x2, pelo posicionamento de Paulo Bernardo, que jogou muito tempo como segundo avançado, próximo – e por vezes ao lado – de Gonçalo Ramos.

Mais do que detalhes tácticos ou técnicos, o Benfica foi essencialmente uma equipa desprovida de movimento. À excepção de Diogo Gonçalves, o mais dinâmico, a restante equipa, sobretudo no plano ofensivo, nunca esteve disposta a criar linhas de passe, fugir às marcações e oferecer soluções aos médios.

Os dados do GoalPoint são claros a esse respeito: Weigl e Meïté acabaram a primeira parte com progressão negativa por passe certo – “trocado por miúdos”, isto significa que os passes que acertaram foram quase sempre para o lado e para trás, com baixo grau de dificuldade, e, portanto, com pouca contribuição para a progressão ofensiva da equipa. Com Paulo Bernardo permanentemente em zona ofensiva, o espaço de criação do Benfica tinha pouca arte, algo piorado pela falta de movimento dos atacantes.

Do lado contrário, o Gil Vicente tinha o jogo como queria. O bloco defensivo não era muito desafiado e, ofensivamente, a passividade do Benfica sem bola não era diferente da que tinha com ela.

Assim, aos 11’, foi relativamente fácil aos minhotos chegarem ao golo. Numa transição, Samuel Lino pôde correr pela esquerda, com Weigl a assistir na primeira fila, Meïté na segunda e André Almeida ainda mais longe, na terceira, depois de ter ficado “a pé” no ataque. A propósito: apesar de o Gil ter atacado quase sempre pelo lado direito do Benfica, Almeida terminou a primeira parte com... zero acções defensivas.

Aos 15’, 16’, 22’ e 41’ houve mais lances perigosos da equipa do Gil Vicente, que nem precisava de atacar com muitos jogadores para ser ameaçadora – bastava só atacar, que os jogadores benfiquistas, geralmente, assistiam tranquilamente.

O Benfica, que mantinha a pouca capacidade de jogar entre linhas e arrastar marcações, só criou perigo em bola corrida por duas vias: ou em incursões individuais dos defesas (Vertonghen e Grimaldo) ou em bolas na profundidade (ambas desperdiçadas por Gonçalo Ramos).

Daqui saía que nem na identificação das características do jogo os “encarnados” foram sagazes, já que sempre que chamavam à pressão alta a equipa do Gil, que subia bastante a linha defensiva (honra seja feita a um bloco de pressão sempre bem coordenado entre todos os sectores), tinham muito espaço para explorar nas costas – fizeram-no apenas duas vezes.

Mais Gil Vicente na segunda parte

É certo que já tinha introduzido a bola na baliza aos 8’, num lance invalidado por falta ofensiva de Vertonghen, mas o Benfica foi, globalmente, pouco mais do que sofrível na construção de jogo ofensivo.

Assim sendo, voltou do intervalo com João Mário e sem Meïté, pedindo mais “perfume” em zona de criação, e com Rafa e sem Gonçalves, pedindo mais velocidade, vivacidade e jogo entre linhas (apesar de o substituído ter sido o menos amorfo na primeira parte).

Resultado: pouco ou nenhum. O Benfica manteve o jogo parco em qualidade durante 20 minutos, fase em que o Gil Vicente avisou aos 63’ – Léautey, isolado, permitiu defesa a Vlachodimos – e marcou aos 64’: Aburjania marcou com as costas, após um canto, num lance em que Vertonghen foi batido com facilidade.

Quer num lance, quer no outro, os jogadores do Benfica não foram diferentes do que tinham sido até então: passivos e sem vontade aparente de tirar algo deste jogo. Nem aí nem nos 25 minutos que ainda se jogaram em ritmo de passeio, num jogo cuja segunda parte teve mais posse de bola por parte do… Gil Vicente.

Aos 89’, sem que muito o fizesse prever, o Benfica reduziu num cabeceamento de Gonçalo Ramos após um cruzamento de Rafa. Foi apenas um detalhe irrelevante na partida.

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