MP abre inquérito a morte de bebé de oito dias. VMER indisponível quase sete horas

Recém-nascido com oito dias morreu no Hospital de Portalegre. Quando a família pediu socorro, Viatura Médica de Emergência e Reanimação não estava operacional. A Ordem dos Médicos quer ver situação “investigada até às últimas consequências” e o Ministério Publico já instaurou um inquérito para apurar as causas da morte do bebé de oito dias.

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VMER não estava disponível Nuno Ferreira Santos

A Unidade de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA) revelou esta sexta-feira que vai instaurar um inquérito para apurar as circunstâncias da morte no hospital de Portalegre de um bebé de oito dias, por alegada falta de socorro médico, na quinta-feira. Também o Ministério Publico já instaurou um inquérito para apurar as causas da morte do recém-nascido.

Em resposta à agência Lusa, por correio electrónico, o MP de Portalegre anunciou que foi instaurado este inquérito para a averiguação das causas da morte da criança.

A Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do hospital de Portalegre esteve cerca de sete horas inoperacional por falta de médico, na quinta-feira, admitiu a directora clínica da ULSNA. “Houve um período, entre 9h e as 15h40, em que não houve médico, embora se tivessem feito todos os esforços para colmatar essa situação”, indicou. A criança acabou por ser transportada pelos Bombeiros Voluntários, tendo falecido no hospital, avançaram a revista Sábado e o Jornal de Notícias.

A directora clínica lembrou que se vive “em período pandémico, sendo que “os médicos têm várias solicitações e, por isso, pontualmente, houve a falha neste período”. No entanto, Vera Escoto garantiu ainda aos jornalistas que “raramente” a VMER de Portalegre está inoperacional. “Quando não se consegue, porque acontece um imprevisto e dentro da nossa casa [hospital] não conseguimos colocar alguém, poderá ficar a descoberto”, admitiu, contudo.

Antes, à agência Lusa, o porta-voz da ULSNA, Ilídio Pinto Cardoso, disse que a administração daquela unidade hospitalar vai avançar com um inquérito. A administração da ULSNA reuniu-se na manhã desta sexta-feira com carácter de urgência para analisar esta situação. O PÚBLICO tentou ao longo da manhã desta sexta-feira, sem sucesso, obter esclarecimentos junto do hospital e do INEM.

Questionada pelos jornalistas para relatar o que se passou em concreto com a morte do bebé e se este ainda chegou com vida ao hospital, Vera Escoto apenas referiu que foi para dar respostas a estas questões que a ULSNA “imediatamente” abriu o inquérito. Ainda assim, avançou que foram feitas naquela unidade hospitalar, nomeadamente no Serviço de Urgência, “manobras de ressuscitação”, com vários profissionais de saúde envolvidos no processo de reanimação.

Ordem quer investigação “até às últimas consequências”

A Ordem dos Médicos quer ver “investigada até às últimas consequências” a morte do bebé, com uma semana de vida, em Portalegre.

O caso é classificado como “muito grave” pela Ordem dos Médicos, em comunicado. “A morte deste bebé tem de ser investigada até às últimas consequências para que todas as possíveis falhas sejam rapidamente corrigidas e a confiança da população na resposta de emergência seja restabelecida”, afirma o bastonário, Miguel Guimarães.

“A Ordem dos Médicos já alertou, por diversas vezes, que a Emergência Médica Pré-Hospitalar representa uma área fulcral para o sucesso do nosso sistema de saúde e que qualquer disrupção no funcionamento deste sistema pode ter consequências negativas e imprevisíveis”, afirma ainda aquele organismo.

O Jornal de Notícias e a Sábado avançaram que a família do bebé de Portalegre accionou o socorro pelas 9h33 de quinta-feira. Os bombeiros voluntários foram chamados depois de o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) ter indicado que a VMER do Hospital de Portalegre não estava operacional.

Bombeiros actuaram sem “ajuda diferenciada”

Os bombeiros tiveram que realizar manobras de suporte básico de vida sem “ajuda diferenciada”, conta ao Jornal de Notícias o comandante dos Voluntários, Pedro Bezerra. À chegada da corporação, o bebé estava “em paragem cardiorrespiratória”. Sem uma equipa especializada, os dois bombeiros que estavam no local, com formação em suporte básico de vida, agiram “de acordo com o protocolo” e transportaram o bebé de oito dias na ambulância, até ao hospital, em manobras de reanimação. O óbito viria a ser declarado já no hospital.

“Temos conhecimento de vários buracos nas escalas das equipas médicas de suporte avançado de vida em várias zonas do país. Recordamos que são estas equipas que integram as VMER e que devem ser accionadas para situações mais delicadas, como a de Portalegre, pelo que nenhuma falha é admissível”, sublinha o bastonário da Ordem dos Médicos, no mesmo comunicado.

Esta notícia surge apenas uma semana depois de o bastonário da Ordem dos Médicos ter enviado um ofício ao presidente do INEM, precisamente pelas centenas de horas que as VMER estavam inoperacionais, lembra a Ordem.

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