O Ardina está decepado mas só voltará a ter mão — e jornal — após as obras do metro terminarem

Não é a primeira vez que a obra escultórica sofre um acidente. Mais esculturas são alvo de vandalismo noutras cidades do país, muitas vezes com o foco no lucro da venda do bronze.

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A estátua d'O Ardina está sem braço há mais de seis meses Nelson Garrido

Não é a primeira vez que a estátua d'O Ardina, na Praça da Liberdade, sofre acidentes. Mas, da última vez em que isso aconteceu, foi vandalizada. Há seis meses, tiraram-lhe uma mão e também lhe roubaram o jornal de bronze que o mesmo membro segura. Desde essa altura, mantém-se no mesmo estado em que ficou desde a subtracção das duas partes. A câmara do Porto diz que o restauro só estará concluído depois das obras da futura Linha Rosa do metro terminarem. Por força da mesma empreitada, outras obras escultóricas serão removidas temporariamente da praça pública.

O acto de vandalismo ocorreu a 30 de Junho do ano passado, quando um homem de 29 anos arrancou um dos membros da estátua e por arrasto o acessório que lhe confere a identidade. Na mesma madrugada, na sequência de uma rixa entre dois indivíduos, as forças de segurança receberam um alerta. E quando se deslocaram ao local interceptaram o responsável pelo acto, ainda em flagrante. Ao tentar fugir, a mesma pessoa que tentou roubar parte da estátua, deixou as duas peças para trás, tendo sido recuperadas nessa altura pelos agentes, mantendo-se agora a parte que foi retirada da obra em posse da autarquia.

Meio ano depois, a estátua da autoria do escultor Manuel Dias, instalada no perto do antigo café Imperial em 1990, ainda não foi restaurada. Mas há um motivo para os trabalhos de restauro ainda não terem iniciado: há uma obra em curso na mesma zona — a construção da Linha Rosa — e, por isso mesmo, a autarquia diz estar a aguardar pelo momento em que empreitada seja concluída. O motivo que justifica esta opção, de acordo com a câmara, é a necessidade de a obra do escultor nascido em Espinho ter de ser retirada temporariamente do sítio onde está para dar espaço para que os trabalhos decorram.

Lucrar com o bronze

Esta não será a única escultura a ter de sair da baixa do Porto na sequência da expansão da linha do metro. A estátua O Porto, de 1818, idealizada pelo escultor João de Sousa Alão e arrancada ao granito portuense pela mão do mestre pedreiro João da Silva, e a estátua de Abel Salazar, no jardim do Carregal da autoria do escultor Hélder Carvalho, já saíram das ruas e estão neste momento nas reservas da autarquia, em Ramalde. O mesmo acontecerá com o busto do Duque de Wellington, localizado no início da Rua do Rosário, onde nascerá a nova estação que servirá o Hospital de Santo António.

Todas as obras escultóricas serão repostas depois das obras, orçadas em 400 milhões de euros, da futura Linha Rosa, que ligará a Estação de São Bento à Casa da Música, na Boavista, terminarem. Estima-se que em 2024 as obras estejam concluídas.

São vários os registos nesta e noutras cidades de roubos de partes de estátuas levados a cabo por quem tenta ganhar alguns cobres, tentando capitalizar o valor do bronze. Outras vezes, acontece apenas por mero vandalismo. Mas algumas vezes também acontece por acidente, como já tinha sucedido com a estátua d’O Ardina em 2018. Em Abril desse ano, uma jovem alemã encostou-se à estátua para registar em fotografia uma memória da sua passagem pela cidade do Porto. Enquanto fazia pose para o registo, depois de ter-se apoiado na mesma, a escultura caiu, tendo causado à turista “ferimentos ligeiros”. Dizia a PSP na altura que a escultura já apresentava alguns sinais de fragilidade.

Em Matosinhos, há uma obra escultórica de bronze que repetidamente foi alvo do furto de um membro em particular. Na praia da Boa Nova, em Leça da Palmeira, já não é a primeira vez que uma das pernas de uma das musas de António Nobre, peça de autoria de Salvador Barata Feyo, de 1970, é roubada, obrigando a autarquia a repô-la.

No ano passado, também desapareceu a vespa de bronze, construída para assinalar os 50 anos do Vespa Clube de Lisboa, uma peça com cerca de 300 quilos, feita em bronze e pregada ao chão instalada na Avenida Infante Santo. E em Outubro de 2021, a espada da escultura de D. Afonso Henriques, em Guimarães, da autoria de Soares dos Reis, voltou a desaparecer.

No Porto, a câmara diz que os custos da obra de restauro d'O Ardina ficarão a cargo da autarquia.

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