Afinal, quem denunciou Anne Frank e a família terá sido…

Novo livro acompanha a mais recente investigação em torno do possível informador que levou os nazis a descobrirem o esconderijo que a autora do célebre diário ocupava, havia já dois anos, com a sua família e mais quatro pessoas. Começa a ser vendido esta terça-feira.

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Diário de Anne Frank está traduzido em 60 línguas e terá já sido lido por mais de 30 milhões de pessoas Katie Falkenberg/Los Angeles Times/Getty Images

Não há razão para evitar spoilers quando se escreve um artigo sobre um livro que se propõe dar conta de uma investigação que poderá ter resolvido um caso com mais de 75 anos, ainda para mais em se tratando de um mistério que envolve uma protagonista, à partida improvável no contexto de uma guerra mundial, que milhões de pessoas em todo o mundo ficaram a conhecer a partir do diário que deixou. Quem denunciou Anne Frank e a sua família? Porquê?

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Não há razão para evitar spoilers quando se escreve um artigo sobre um livro que se propõe dar conta de uma investigação que poderá ter resolvido um caso com mais de 75 anos, ainda para mais em se tratando de um mistério que envolve uma protagonista, à partida improvável no contexto de uma guerra mundial, que milhões de pessoas em todo o mundo ficaram a conhecer a partir do diário que deixou. Quem denunciou Anne Frank e a sua família? Porquê?

Há seis anos que uma equipa de cerca de 20 historiadores, criminalistas, cientistas forenses, analistas de dados e até um rabi, liderada por um agente do FBI já reformado mas muito determinado, procura respostas para estas e outras perguntas.

A equipa encabeçada pelo antigo agente da polícia de investigação norte-americana, Vincent Pankoke, chegou à conclusão de que “muito provavelmente” a denúncia terá partido de Arnold van den Bergh, um rico notário judeu.

De acordo com a agência de notícias Reuters, que cita o diário holandês NRC, Bergh terá dito às autoridades, com o objectivo de se salvar a si e aos seus, onde estavam escondidas, havia então já dois anos, a adolescente judia, a sua família e mais quatro pessoas. Porquê? Em que circunstâncias? Pois, para saber é preciso ler The Betrayal of Anne Frank: A Cold Case Investigation, o livro com que Rosemary Sullivan acompanha a investigação do começo ao fim, com atenção ao detalhe, entusiasmo e sem moralismos, escreve o diário The New York Times.

A autora canadiana, que assina 15 outros títulos, entre eles a biografia A Filha de Estaline (Temas e Debates), faz deste livro que começa a ser vendido esta terça-feira uma crónica muito vívida, garante ainda a crítica literária do NYT, Alexandra Jacobs, graças à experiência que tem no tratamento de temas relacionados com a Segunda Guerra Mundial.

Dois anos escondidos

A família de Anne Frank foi descoberta no anexo/sótão de uma casa junto a um dos muitos canais de Amesterdão a 4 de Agosto de 1944. Desde que o seu diário se tornou conhecido que se tem tentado saber como é que as autoridades nazis descobriram o esconderijo, e foram já muitos os nomes avançados como denunciantes.

Em 2016, uma investigação promovida pela Casa de Anne Frank, museu instalado no local onde a jovem judia se refugiou entre Julho de 1942 e Agosto de 1944, chegou mesmo a concluir que o grupo foi encontrado por acaso, quando a polícia responsável pelo combate à pequena criminalidade económica fazia buscas no imóvel, acreditando que albergava um negócio ilegal de senhas de racionamento.

Recorrendo às novas tecnologias – foi criada uma complexa base de dados com listas de colaboradores e informadores dos nazis, registos da polícia e outros documentos históricos, bem como os resultados de investigações anteriores –, a informação reunida foi cruzada com um mapa da cidade em que se assinalou a localização de vários possíveis suspeitos, averiguando-se, em seguida, se conheciam o esconderijo, se tinham algum motivo para denunciar os Frank e se tiveram oportunidade de o fazer.

O livro, pode ler-se no site da editora Harper Collins, apresenta o leitor à equipa de investigação, mostra como viveram durante dois anos aquelas oito pessoas no anexo e traça o perfil de alguns dos suspeitos identificados ao longo dos anos, ao mesmo tempo que faz um retrato de Amesterdão durante a Segunda Guerra, uma cidade onde até os mais ricos, educados e cuidadosos não podiam confiar em ninguém.

Guardado por Miep Gies, que ajudou a família Frank no seu esconderijo, e publicado em 1947 pelo pai de Anne, Otto, o único sobrevivente do grupo, O Diário de Anne Frank está hoje traduzido em 60 línguas e terá já sido lido por mais de 30 milhões de pessoas, tendo-se transformado num dos mais tocantes testemunhos do Holocausto, apesar das muitas críticas que podem tecer-se à primeira edição, desprovida de uma série de passagens do original em que a adolescente escrevia, entre outras coisas, sobre a sua relação difícil com a mãe, Edith.

Depois de descobertas pelas autoridades, Anne Frank e a família foram deportadas para campos de concentração. Anne morreu com tifo em 1945, em Bergen-Belsen, poucos dias depois da irmã, Margot. Tinha 15 anos.

Terá sido mesmo o notário Arnold van den Bergh quem lhes pôs os nazis à porta naquele dia de Agosto de 1944? Tudo parece indicar que sim, mas isso não significa que uma investigação futura não possa contestar esta e outras conclusões.