Excepção para Novak Djokovic mal recebida

O líder do ranking mundial viu confirmada a sua presença no Open da Austrália.

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Novak Djokovic Reuters/KELLY DEFINA

Foi o próprio Novak Djokovic a anunciar, através das redes sociais, que ia a caminho da Austrália, para participar no primeiro torneio do Grand Slam do ano. Estava desfeito o tabu das últimas semanas quanto à presença do número um do ranking mundial no Open da Austrália, que sempre se recusou a ser vacinado contra a covid-19, o que o impedia, desde logo, de entrar na Austrália. Mas ao mesmo tempo que os seus fãs celebravam a notícia, cresciam as interrogações e até alguma perplexidade sobre o que levou os dois comités governamentais de avaliação a abrirem uma excepção e permitirem a entrada no país de uma pessoa não vacinada.

A isenção de estar vacinado foi concedida a Djokovic após “um processo rigoroso envolvendo dois painéis independentes de médicos especializados”. Um deles, o Independent Medical Exemption Review Panel, foi nomeado pelo Departamento de Saúde do estado de Victoria e avalia se os requerimentos estão de acordo com as directrizes do ATAGI (Australian Technical Advisory Group on Immunisation). Ou seja, confirmam se o requerente cumpre um dos cinco requisitos para a isenção:

1. Ter sido vítima de uma doença cardíaca inflamatória nos últimos três meses.

2. Ter sido vítima de uma doença aguda grave, que obrigou a uma intervenção cirúrgica.

3. Ter testado positivo ao covid-19 depois de 1 de Agosto de 2021.

4. Ter sofrido consequências graves após receber uma vacina contra o covid-19.

5. Se a pessoa vacinada apresenta um risco para si própria ou para outros no decurso do processo de vacinação.

“A avaliação é feita de forma cega; eles não sabem quem é o requerente”, garantiu Craig Tiley, presidente da federação australiana, organizadora do Open, antes de acrescentar: “A razão para ser atribuída a isenção mantém-se privada, só conhecida entre o painel e o requerente.”

Recorde-se que Novak e a sua mulher Jelena contraíram covid-19 no Verão de 2020, quando organizaram um conjunto de torneios, Adria Tour, na zona do Adriático, para que vários tenistas de topo regressassem à competição depois da paragem dos circuitos ATP e WTA forçada pela pandemia.

Nos últimos dias, o tenista sérvio de 34 anos recusou dizer se tinha sido vacinado, mas a sua posição anteriormente manifestada, de ser contra as vacinas, deixou poucas dúvidas. E a desistência de participar na ATP Cup reforçou essa convicção na opinião pública.

Djokovic tinha desistido de liderar a selecção da Sérvia na ATP Cup, que decorre esta semana na Austrália, e encontrava-se em Marbella a treinar-se com bolas iguais às que vão ser utilizadas no Open, pelo que o optimismo quanto a uma isenção já era notório.

Em contraponto, o norte-americano Tennys Sandgren, quarto-finalista no Open em 2018 e 2020, e o francês Pierre-Hugues Herbert, top-10 no ranking de pares, já tinham anunciado a sua ausência por não estarem vacinados e não cumprirem nenhum dos requisitos para a isenção.

Mas há quem questione a justiça de um tenista não vacinado poder competir e não outros, como por exemplo, a jogadora russa Natalia Vikhlyantseva, que recebeu a vacina Sputnik V, não reconhecida pelas autoridades australianas. Ou o jovem Aman Dahiya que não poderá entrar no Open da Austrália júnior porque a vacinação de menores de 18 anos ainda não começou na Índia.

Entre os jogadores, as reacções à presença de Djokovic na Austrália têm sido cautelosas. O australiano Alex de Minaur, a competir na ATP Cup, foi dos primeiros a comentar a presença de Djokovic.

“Penso que é muito interessante. É tudo o que vou dizer. Ouvi dizer que houve outros casos que também receberam isenções e só espero que cumpram o critério”, adiantou o 34.º do mundo.

Já Jamie Murray, um dos melhores tenistas do mundo em pares, foi peremptório. “Se fosse eu que não estivesse vacinado, não teria recebido uma isenção”, disse o britânico.

Enquanto se espera por uma eventual justificação mais concreta para a isenção, crescem as expectativas quanto à reacção desta decisão por parte dos australianos, que têm assistido ao aparecimento de mais de 30 mil novos casos desde o início do ano, muito por culpa da nova variante omicron. O jornal Herald Sun mostrava-se incrédulo com a decisão, num artigo com título “You Must Be Djoking”.

Djokovic já venceu o Open da Austrália por nove vezes e, este ano, ambiciona conquistar o 21.º título do Grand Slam, e destacar-se de Rafael Nadal e Roger Federer com quem partilha o recorde de 20 majors.

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