Edward Osborne Wilson: um biólogo e naturalista universal

Os contributos de Wilson para as ciências da vida são diversos e extraordinários, sendo por muitos designado um “herdeiro natural de Darwin” ou o “Darwin do século XXI”.

Edward Osborne Wilson (E. O. Wilson), um dos biólogos mais influentes de sempre, nasceu a 10 de junho de 1929 em Birmingham, Alabama, nos Estados Unidos, e morreu em 26 de dezembro de 2021, em Burlington, Massachusetts, aos 92 anos. De acordo com notas biográficas públicas, terá sido o divórcio dos pais, quando ele tinha apenas oito anos, que o levou a procurar conforto na observação da natureza. Durante uma atividade de pesca perdeu um olho, e o próprio relatou: “A atenção do meu olho sobrevivente virou-se para o chão.” Começou assim cedo a sua paixão pelo estudo das formigas, tornando-se um dos seus maiores especialistas. Doutorou-se na Universidade de Harvard, onde realizou todo o seu percurso académico.

Os seus contributos para as ciências da vida são diversos e extraordinários, sendo por muitos designado um “herdeiro natural de Darwin” ou o “Darwin do século XXI”. Destaco os trabalhos desenvolvidos com Robert MacArthur, que conduziram à Teoria da Biogeografia de Ilhas, publicada em 1967, um dos mais notáveis trabalhos de ecologia que ainda hoje é uma referência, em particular para a biologia da conservação.

A atividade científica de Wilson também foi alvo de forte controvérsia, oferecendo uma explicação para o altruísmo: os indivíduos podem adotar comportamentos que não os servem diretamente se tal favorecer a transmissão do seu património genético. Esta “seleção de parentesco”, observada particularmente nos insetos sociais, inspirará a sua reflexão sobre a importância da genética no comportamento animal, a base do seu livro mais polémico – Sociobiology: The New Synthesis (1975), em que o último capítulo é dedicado ao comportamento humano.

Mas a atividade a que se dedicou intensamente e desde sempre foi a conservação da biodiversidade, termo que ajudou a divulgar através de outro best-seller: The Diversity of Life (1992), em que Wilson chama a atenção para o impacto de uma única espécie (a nossa) sobre as outras formas de vida. Em 2014, defendeu uma proposta radical, apresentada no seu projeto Half Earth – Our Planet Fights for Life (2016), em que propõe reservar metade de todo o planeta para a natureza e assim evitar a extinção das espécies, incluindo o Homo sapiens. Esta proposta de Wilson mereceu uma apreciação inicial muito crítica, mas hoje inspira a agenda política global para a biodiversidade! Considerando que o atual nível de proteção é insuficiente, uma das principais propostas para a 15.ª reunião da Conferência das Partes da CBD, que ocorrerá em 2022, visa aumentar as áreas protegidas e outras medidas de conservação baseadas na área – 30% do planeta até 2030 (terra e mar).

Um dos seus livros que li com entusiasmo, The Creation: An appeal to Save Life on Earth (2006), é especialmente cativante. Uma espécie de carta em que Wilson é o remetente, sendo o destinatário um pastor batista anónimo do Sul dos EUA. Com uma argumentação brilhante, Wilson quer convencer o pastor a contribuir para a união de esforços entre crentes e não crentes na preservação da vida na Terra, independentemente das respetivas convicções metafísicas. Porque acredita que, “se religião e ciência se pudessem reunir sob o teto comum da conservação biológica, o problema seria rapidamente resolvido”. Wilson não apela à conciliação entre religião e ciência sobre a origem e complexidade da vida, afirmando mesmo que tal conciliação não é possível; o que pretende e acha possível é uma união de esforços para salvar a vida na Terra, porque a preocupação é comum, ou seja: a salvaguarda da maravilhosa obra do Criador, para uns; a preservação da dádiva de milhões e milhões de anos de evolução, para outros.

Wilson foi também um grande amigo do Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique. Ajudou muito a promover o parque que visitou várias vezes e onde foi inaugurado um laboratório com o seu nome para estudar e proteger a biodiversidade da região. No livro A Window on Eternity: A Biologist's Walk through Gorongosa National Park (2014) Wilson descreveu as maravilhas de um parque que considerou o mais rico do mundo pela sua ecologia singular.

Para David J. Prend, presidente do conselho de administração da Fundação E. O. Wilson para a Biodiversidade: “Wilson era um verdadeiro visionário com uma capacidade única de inspirar e entusiasmar. Ele expressou, talvez melhor do que ninguém, o que significa ser humano”.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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