A viropolítica em que vivemos

A palavra mais “viral” do ano, aquela que mais se propagou através dos meios de comunicação de massa, é a mesma do ano anterior: a palavra “vírus”. A partir do momento em que a propagação do coronavírus se tornou pandémica, a atenção mental e mediática a este acontecimento ganhou uma escala mundial e “viralizou-se”. Se aos dois estratos de viralidade mencionados — a viralidade biológica de um pedaço de código genético que se infiltra numa célula e a viralidade mediática responsável pela reprodução de certas imagens, ideias, palavras — acrescentarmos a viralidade informática que enlouquece ou aniquila o software dos nossos computadores, entramos numa sobreposição que nos conduz ao “capitalismo viral”, um objecto de análise a que o imaginário político da pandemia deu uma forma mais acabada. Para os meios informáticos, dotados de ubiquidade e postos ao serviço de uma governação securitária, todos nós, cidadãos, somos vírus, inimigos numa guerra permanente. O recente episódio da detenção de João Rendeiro na África do Sul mostra bem a ingenuidade do fugitivo, que pensava que não seria detectado e poderia reconstruir a sua vida num lugar remoto, como o puderam fazer os nazis que fugiram para países da América Latina, onde assumiram uma nova identidade civil.

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