Cartas ao director

Miséria moral… e estúpida

<_o3a_p>

Apodero-me de uma expressão que Ana Sá Lopes utilizou na sua “Anacrónica” (de passagem, não posso deixar escapar a ocasião para a felicitar por esta designação que é um “arrincanço” fabuloso) de 28.11.2021, para compor o título desta carta.<_o3a_p>

Em Março passado, quando enviei um texto ao PÚBLICO (que não mereceu as honras de publicação), questionando os governantes dos países ricos e desenvolvidos sobre o “medo” que os impedia de, em humanitária medida, fazerem quebrar as patentes das vacinas anti-covid, nunca imaginei que, no último mês do ano, a situação se mantivesse inalterada. Faltam-me palavras desonrosas para classificar a enorme hipocrisia de quantos nos martirizam o quotidiano com medidas e mais medidas para combater a pandemia, anunciadas com a pompa da vergonha e a circunstância do costume. Encaremos os factos: a União Europeia e os EUA, sem esquecer todos os outros países do soberbo G20, estão-se “borrifando” para o escassíssimo número de vacinados por esse mundo fora. Quando começarão a perceber que, à moda do chefe gaulês Abraracourcix, o “céu lhes pode cair na cabeça”?<_o3a_p>

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

<_o3a_p>

Totipotência

Lembrei-me disto ao acabar de ver a série de seis episódios - “Selvagens” - que terminou ontem na RTP2. Depois veio texto de Fernando de Oliveira Neves - “Eu amo a portugalidade”, no PÚBLICO de 2/11. A isso se juntou um curto diálogo que tive, em tempos, com o falecido Prof. Daniel Serrão. E ainda a lembrança dos trezentos anos de Inquisição. Que têm em comum os quatro? A totipotência societal ou pessoal.

A primeira mostra uma França em que é eleito Presidente da República um francês de origem argelina que, depois de vários episódios, termina com um brilhante discurso deste que mostra como a multiculturidade é difícil de atingir, com os seres humanos a serem ora civilizados ora selvagens. O segundo não rejeita o racismo português de séculos, mas como isso não impede um sentimento de portugalidade orgulhosa no mundo. No terceiro, o cientista e eticista católico disse-me que o era porque aqui nasceu, senão seria de outra religião qualquer. Do último nada é preciso dizer, quando vimos a Igreja Católica a sobreviver depois de tanto crime hediondo. Há ainda um quinto: hoje pensa-se que somos muito mais condicionados pela epigenética que pela genética. Totipotência ou... o mundo pula e avança.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

O trânsito, a poluição e os transportes públicos gratuitos 

Embora sendo um leigo na área da economia, talvez fosse pertinente ponderar a gratuitidade (ou quase gratuitidade) dos transportes públicos, eventualmente, com uma compensação financeira para as respectivas empresas através de um suplemento pelo acréscimo ponderado do valor do IMI. Para resolver a consequente falta de receitas para a sustentabilidade das empresas de transporte, talvez um dístico semelhante ao da Via Verde pudesse servir de meio de cobrança de um valor para automóveis com circulação não identificados como transportes de serviços ou afins (neste caso, seria necessário um estudo baseado em variáveis devidamente sustentadas). Com este estudo, talvez se conseguisse uma maior adesão aos transportes públicos, menos poluição, menos trânsito e mais qualidade de vida nas grandes cidades.

Luís Rodrigues, Santo Tirso 

Eutanásia ou morte assistida

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa vetou, pela segunda vez, o diploma da eutanásia, alegando que os deputados que estiveram na base do referido documento quiseram ‘alargar’ o leque de situações em que se pode recorrer à morte assistida, pelo que a recusa presidencial gerou críticas e aplausos, segundo notícias veiculadas na comunicação social escrita.

Perante situação tão melindrosa, a legislação sobre a eutanásia não podia, nem pode gerar críticas e aplausos ao mesmo tempo.

O diploma deve, isso sim, ter concordância plena de todos os intervenientes, pois é uma questão de vida ou morte que está em causa. Pelo que não deve ir contra a sólida defesa dos valores do humanismo, mas ter-se também em conta o avanço científico e de outros patamares teológicos.

Assim, a lei sobre a eutanásia deve ter o consenso inequívoco de todos os intervenientes, de modo que ninguém possa obter qualquer tipo de benesse  material, mas que a todos satisfaça à luz dos valores humanos.

José Amaral, Vila Nova de Gaia

Sugerir correcção
Ler 1 comentários