Potências mundiais e Irão sem progressos nas negociações sobre programa nuclear

A retoma das conversações em Viena ficou marcada pelas exigências do novo Governo iraniano que ameaçam enterrar definitivamente o acordo de 2015.

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Representantes das equipas negociais sobre o acordo nuclear iraniano esta semana em Viena EU DELEGATION IN VIENNA / Reuters

As negociações entre as cinco potências mundiais e o Irão sobre o programa nuclear iraniano estão perto de cair por terra. Os diplomatas europeus dizem que Teerão está a afastar-se de compromissos que haviam sido acertados recentemente.

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As negociações entre as cinco potências mundiais e o Irão sobre o programa nuclear iraniano estão perto de cair por terra. Os diplomatas europeus dizem que Teerão está a afastar-se de compromissos que haviam sido acertados recentemente.

As equipas negociais do Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China (os EUA participam apenas de forma indirecta) estiveram reunidas esta semana com representantes do Irão em Viena com o objectivo de dar uma nova vida ao acordo alcançado em 2015, que veio impor limites ao desenvolvimento do programa nuclear iraniano. Os EUA abandonaram o tratado em 2018, durante a Administração de Donald Trump, e, desde então, reimpuseram várias sanções financeiras contra o regime.

Nos últimos anos, os restantes signatários do acordo têm tentado voltar a alcançar um campo comum que possibilite reactivar as disposições principais do documento. As conversações tinham sido suspensas durante cinco meses por causa das eleições iranianas. 

No entanto, as negociações que decorreram até esta sexta-feira em Viena saldaram-se em “desapontamento e preocupação”, de acordo com fontes diplomáticas europeias, citadas pela Reuters.

Em causa, dizem as delegações europeias, estão as exigências do Irão relacionadas com a remoção imediata e incondicional de várias sanções económicas, algumas das quais não relacionadas com o programa nuclear. “Teerão está a afastar-se de quase todos os compromissos difíceis elaborados após meses de trabalho duro”, afirmam os diplomatas dos três países europeus.

“Há cinco meses, o Irão interrompeu as negociações. Desde então, o Irão fez avançar rapidamente o seu programa nuclear. Esta semana, recuou em relação a todo o progresso diplomático que havia sido feito”, lamentam.

O impasse levou as delegações envolvidas a adiar as conversações em curso, que serão retomadas na quarta-feira, para que as equipas negociais possam rever as suas posições. No entanto, o tom de pessimismo mantém-se perante a perspectiva de novas reuniões: “Não é certo como é que estas novas brechas podem vir a ser fechadas num prazo realista e tendo por base os rascunhos iranianos”, dizem os diplomatas.

Na base do desentendimento parece estar a revisão feita pelo novo Governo iraniano, eleito em Junho, de perfil ultraconservador, das exigências para regressar ao cumprimento do acordo. Teerão quer alterar as quotas de exportação de petróleo e de aquisição de moeda estrangeira, diz o Guardian. Em troca, o regime promete respeitar os limites previstos no acordo referentes ao enriquecimento de urânio.

Há poucos sinais de que o Irão pretenda suavizar as suas exigências. O chefe da equipa negocial, Ali Bagheri Kani, afirmou que as propostas apresentadas em Viena estão em linha com as disposições do acordo de 2015 e, por isso, “não podem ser rejeitadas”. “A outra parte deve agora avaliar estes documentos e preparar-se para ter negociações com o Irão tendo por base estes documentos”, disse Kani às agências noticiosas oficiais do regime.

O colapso das negociações pode enterrar em definitivo as hipóteses de se alcançar algum tipo de acordo que limite o desenvolvimento nuclear do Irão – o regime insiste que os seus objectivos não são militares, mas tem impedido o acesso de equipas de inspectores internacionais.

As potências ocidentais têm a possibilidade de apresentar uma queixa formal junto do Conselho de Segurança da ONU contra o Irão pela quebra das disposições do acordo de 2015. Porém, diz o Guardian, Teerão poderia responder a essa acção abandonando o Tratado de Não-Proliferação e fazendo depender o seu regresso de um eventual ingresso de Israel.