Raisi toma posse no Irão insistindo no fim das sanções

Discurso do novo Presidente foi inflamado mas também conciliatório. EUA pedem regresso urgente às negociações sobre o nuclear em Viena.

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Ebrahim Raisi prestando juramento na tomada de posse no Parlamento em Teerão ABEDIN TAHERKENAREH/EPA

O Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, tomou esta quinta-feira posse no Parlamento do país. “Na presença do Corão sagrado e perante a nação, juro a Deus omnipotente proteger a religião oficial do país e a República Islâmica, assim como a constituição do país”, declarou, perante os deputados e os dignitários estrangeiros convidados para a cerimónia.

Com a chegada de Raisi à Presidência, todos os ramos do poder no país estão agora nas mãos de responsáveis da linha dura leais ao Líder Supremo, o ayatollah Ali Khamenei. O antecessor de Raisi, Hassan Rohani, que negociou o acordo sobre o nuclear iraniano de que mais tarde os EUA de Donald Trump se retiraram, era visto como um contra-peso, o último globalista, ou pragmático, entre os cargos chave.

Se a selecção dos candidatos fez com que a vitória de Raisi fosse uma certeza antes do dia da eleição, é menos claro o que é que a sua presidência poderá fazer mudar nas negociações que decorrem em Viena sobre o programa nuclear, já que o responsável pela política externa é Khamenei.

No seu discurso, Raisi repetiu a necessidade de levantar as sanções impostas ao Irão desde que os EUA se retiraram do acordo sobre o nuclear, dizendo que vai apoiar “quaisquer planos diplomáticos” para levantar as sanções. “O povo iraniano espera que o novo Governo melhore as suas condições de vida”, declarou. “Quaisquer sanções ilegais norte-americanas contra a nação iraniana têm de ser levantadas.”

O diário israelita Haaretz notava que Raisi foi alternando a retórica inflamada com gestos conciliatórios. Prometeu que o país vai “resistir a políticas expansionistas dos poderes arrogantes e opressivos”, em todo o mundo, “na Europa, América, Iémen, África, Síria” (no Iémen o Irão apoia os combatentes houthi e, na Síria, as forças leais ao regime de Bashar al-Assad). Mas também declarou que o país está empenhado no diálogo com o mundo e que estende a mão em paz aos países vizinhos.

Dissidentes iranianos temem que Raisiprotegido de Khamenei, possa trazer ainda mais repressão. O Presidente está desde 2019 sujeito a sanções dos EUA pelo papel na execução de milhares de prisioneiros políticos em 1988 (execuções que o país nunca admitiu).

Quanto ao nuclear, as conversações entre o Irão e os seis países que assinaram o acordo original (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia – e ainda a Alemanha) não têm conseguido ultrapassar alguns pontos contenciosos, e não é ainda certo quando irão recomeçar.

O Departamento de Estado dos EUA apelou ao recomeço das negociações, dizendo esperar que os iranianos tivessem o mesmo grau de urgência que os Estados Unidos, segundo a agência Reuters. “As negociações não se podem arrastar eternamente”, disse o porta-voz Ned Price, mas acrescentou que não vai ser imposto um prazo limite.

Enquanto isso, e talvez num sinal de que as negociações estão a avançar, Israel, que tem sido contra um acordo nuclear com o Irão, afirmou na quarta-feira que Teerão está a apenas dez semanas de ter material atómico de uso militar. O Irão nega que o seu programa de energia atómica tenha fins militares; na tomada de posse, Raisi voltou a dizer que “não há lugar para uma arma atómica na doutrina de defesa iraniana”. 

O fim das sanções é essencial para o primeiro objectivo de Raisi, que é o alívio da difícil situação económica do país.

Na região mantém-se a tensão depois de um ataque a um petroleiro de uma empresa israelita ao largo da costa de Omã na semana passada. Num comunicado conjunto, EUA, Israel e o Reino Unido acusaram o Irão, e Washington garantiu que se seguiria uma “resposta apropriada”. Londres anunciou que vai pedir a discussão do caso no Conselho de Segurança da ONU desta sexta-feira.

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