Cartas ao director

Um país de pernas para o ar

Percebemos que um país está de pernas para o ar quando um delegado de saúde e a DGS permitem a realização de um jogo de futebol com uma das equipas em inferioridade numérica por causa de vários casos de covid em vez de cumprirem a sua função, transferindo a protecção da saúde pública para os intocáveis homens do futebol. Percebemos que o país está ao avesso quando se gasta rios de dinheiro na polémica vacina contra a covid-19 em crianças e adolescentes esquecendo que o Programa Nacional de Vacinação do Estado já devia ter financiado há anos as vacinas contra a varicela, hepatite A, meningite de alguns serogrupos e rotavirus (somente gratuita para grupos de risco), que são fortemente recomendadas por pediatras e médicos de família. Percebemos que o PSD está do lado contrário de uma democracia quando os seus militantes elegem alguém que parece uma muleta do Governo e sonha com um bloco central após as legislativas em vez de fazer a necessária oposição. 

Emanuel Caetano, Ermesinde

Vitória de Portugal mas derrota do PSD

No sábado ocorreram as eleições directas do PSD e além de Rui Rio e dos seus apoiantes quem também saiu vencido foram todos os portugueses. Passo a explicar: caso Paulo Rangel fosse a eleições legislativas ocorreria o inevitável, nem o PSD nem o PS teriam maioria absoluta e sendo assim, iria ocorrer uma crise política desnecessária num período conturbado (com a entrada do PRR e o aparecimento de uma nova estirpe do SARS-CoV-2); contudo Rangel seria o que o PSD precisava para uma oposição firme ao PS.

Por outro lado, como Rio ganhou Portugal agradece, parece ser possível haver um bloco central na próxima legislatura, mas será o que o PSD precisava neste momento? Parece-me que não. Com esta eleição ganhou Portugal, o PS de António Costa mas não o PSD.

Gonçalo Leal, Lisboa 

“O querido SNS”

Em carta dirigida ao PÚBLICO, o leitor Carlos Santos Pereira, elogiou os partidos PS e PCP como fundadores do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Na carta entende que a causa das dificuldades porque passa, neste momento, o SNS, se deve aos “desígnios de replicação de Cuba”. Em primeiro lugar, julgo que  Carlos Santos Pereira não conhece o SNS de Cuba, se conhecesse sabia que em virtude dele a mortalidade infantil no país é das mais baixas das Américas assim como a esperança média de vida é igualmente das mais elevadas. Quanto ao SNS português, o seu maior problema é a transferência cada vez maior dos fundos públicos para o sector privado. Penso que antes de debitar ideologia, devia consultar as estatísticas.

Mário Pires Miguel, Reboleira

Minhotos e transmontanos não são índios<_o3a_p>

No início do século XIX, os seringueiros abasteceram a Europa e os EUA de látex, a “borracha natural”. Os povos indígenas da Amazónia brasileira em nada beneficiaram da prosperidade proporcionada pelo Ciclo da Borracha, tendo ficado entregues a um destino ainda mais miserável, quando a produção se mudou para a Ásia.<_o3a_p>

No final de 2019, as povoações indígenas do Equador foram invadidas por madeireiros. Procuravam a balsa, madeira rígida e leve, que faz parte da composição de pás das turbinas eólicas. O preço da balsa caiu, e o subsequente colapso da balsa fez lembrar o que sucedeu dois séculos antes com a febre da borracha. Os negócios extractivistas aproveitam-se da miséria e vulnerabilidade das povoações locais.

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À entrada para a terceira década do século XXI, descobre-se que o subsolo da Estremadura espanhola e do Minho e Trás-os-Montes de Portugal contém lítio e terras raras. Segundo dados do Eurostat, o Norte e a Extremadura são as regiões mais pobres de Portugal e Espanha, com 65% e 64% do PIB médio da UE, respectivamente. Talvez por isso, as empresas de mineração têm demonstrado interesse nas reservas de lítio destas regiões deprimidas. Mas isto só acontecerá se o povo do Minho e Trás-os-Montes permitir. Porque os minhotos e transmontanos, que não são ingénuos e vulneráveis como os índios da Amazónia, terão a última palavra.

<_o3a_p>​Luís Ferreira Guido, Santo Tirso

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