A internacionalização e a atração de talento

A internacionalização do ensino superior pode também ser vista como uma atividade de exportação. Nalguns países o impacto desta forma de exportação é já muito significativo.

A nossa sociedade está cada vez mais interligada e a população mundial move-se com facilidade crescente, graças a transportes acessíveis e fronteiras permeáveis. Neste contexto, a internacionalização das instituições de ensino superior (IES) é inevitável, porque decorre da internacionalização da própria sociedade.

A liberdade de movimento através de um planeta que parece cada vez mais pequeno facilitou a criação de redes globais de produção de conhecimento e formação, e tornou possível a mobilidade de docentes e de estudantes. Isto deu a muitos jovens a possibilidade de terem uma experiência académica em pontos do mundo distantes do seu país de origem.

Em Portugal, o aumento progressivo de estudantes de nacionalidade estrangeira nas IES portuguesas é uma das manifestações mais visíveis da internacionalização. Os números são expressivos. No ano letivo 2020/21, e apesar das restrições sentidas na mobilidade internacional, frequentaram o ensino superior português 58.960 estudantes de nacionalidade estrangeira, o que corresponde a um aumento de cerca de 76% relativamente a 2014/15.

Os países mais representados são o Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola, França e Espanha. Todos se podem considerar países próximos de Portugal, em determinado sentido: linguístico, geográfico ou cultural.

A internacionalização ajuda a criar um ambiente académico diverso, que promove a criatividade e a inovação, mas tem outras vantagens. É importante atrair talento a nível global para desenvolver a economia, cada vez mais baseada no conhecimento. O processo pode ainda contribuir para o desenvolvimento de países terceiros, incluindo alguns com os quais temos relações históricas e fortes. Mas a internacionalização do ensino superior pode também ser vista como uma atividade de exportação. Nalguns países o impacto desta forma de exportação é já muito significativo.

O Governo português previa que o número de estudantes internacionais no ensino superior pudesse duplicar entre 2020 e 2023, a nível nacional. Se assim fosse, o número ultrapassaria claramente a centena de milhar, o que significaria cerca de um quarto do número total de estudantes.

O impacto da pandemia reduziu o ritmo da internacionalização. O efeito poderá continuar a notar-se por mais algum tempo, pelo que os números estimados antes da covid-19 poderão não ser atingidos para já. Contudo, a recuperação gradual da normalidade deverá levar à recuperação das tendências de crescimento que se registavam antes da pandemia, e importa estarmos preparados para tal.

Para extrair todos os benefícios que a internacionalização crescente nos pode trazer são necessárias políticas públicas adequadas e um investimento sustentado nas IES, que são a chave para atrair e fixar talento, e cuja missão é cada vez mais complexa devido à necessidade de acolher, integrar e qualificar públicos cada vez mais diversos.

Por isso a concertação de esforços entre as instituições de ensino superior, quer no âmbito do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, quer através de projetos de internacionalização específicos, é tão importante. Um exemplo de um destes esforços é o Universities Portugal, uma iniciativa comum de promoção internacional das universidades, cofinanciada por Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, nomeadamente o Compete 2020.

O debate público sobre estas matérias é um dos objetivos centrais da Conferência Universities Portugal: oportunidades da transformação digital na internacionalização do Ensino Superior, que decorre, em formato online, nos próximos dias 25 e 26 de novembro.

Todos estão convidados a contribuir e todos temos a ganhar com isso.

Vale a pena considerar.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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