Cartas ao director

Salário mínimo na florescente economia paralela

Segundo um estudo tornado público o salário mínimo nacional representará cerca de 70% da remuneração média, “fazendo de Portugal um país de salários mínimos”. Ora, quem tenha um mínimo de informação dos “salários líquidos” praticados em Portugal não ignora que uma percentagem elevadíssima de assalariados em microempresas, que constituem a larga maioria do tecido empresarial português, são “oficialmente” remunerados pelo salário mínimo, mas na realidade recebem complementarmente montantes em dinheiro vivo que em muitos casos chegam a duplicar as remunerações liquidas recebidas. Tal situação convém simultaneamente ao empregador e ao empregado, que desta forma contribuem menos para a Segurança Social, sendo que, neste estado de coisas, os constantes aumentos de salário mínimo, têm como efeito a redução dos “salários líquidos”, já que os empregadores confrontados com os aumentos de salários mínimos sujeitos a descontos, reduzem proporcionalmente os “complementos” em dinheiro vivo, isentos de descontos.

Carlos Caldas, Lisboa

Conjugações sábias

Haverá dias raríssimos em que a conjugação astral parece ser coisa de sábios previdentes, e esse foi, por certo, o caso do dia 16 de Novembro de 1922, em que nasceram o prof. José-Augusto França, nome maior e mais internacionalizado da nossa História da Arte, em Tomar, e José Saramago, o nosso Prémio Nobel da Literatura, na próxima vila da Azinhaga. Ambos fariam noventa e nove anos, se não tivessem partido do nosso convívio, Saramago em Lanzarote, em 2010, e o prof. França em Jarzé (Angers), a 19 de Setembro passado. Mas as suas obras persistem, bem vivas, como seu máximo legado. Lembro, por isso, as palavras de um menos conhecido mas exaltante ensaio do prof. França, História: Que História ?’ (Ed. Colibri, 1996; reed. 2005) e que até poderiam ter sido subscritas por ambos, o historiador-crítico e o romancista... Aí, lembra-nos JAF que “a História é feita de céu e de terra, e seja qual for a ordem de preferência, a nossa obrigação é procurar num sítio e no outro (mesmo no céu, por inocente utopia) os factos e as crenças que lá estejam, os eventos e os mitos, que eventos são, de outra ordem”.

Vítor Serrão, Lisboa

Os noticiários televisivos

Não interessa qual é a televisão - em todos os canais é igual -, os telejornais apresentam durante largos minutos notícias com alta carga negativa e sobre acontecimentos triviais. As pessoas assistem todos os dias incrédulas ao sensacionalismo, são confrontadas com a ideia de que as notícias negativas são as melhores para serem consumidas por todos, tudo isto, por causa das audiências.

Parece que o país não tem assuntos (problemas) para abordar de forma esclarecedora. Os largos minutos são aproveitados para produzir grande impacto para dar lugar às emoções e à dramatização. Há uma forte componente de desresponsabilização junto da opinião pública. Não nos esqueçamos do poder da televisão para a fixação de opinião pública.

As graves lacunas que o país atravessa são para ser divulgadas. Contudo, apostar no caminho da formatação do negativismo é demasiado perigoso e com graves consequências para uma sociedade que queremos com mais conhecimento e saudável. Não nos esqueçamos do grau de ansiedade em que vivemos, agravado com a covid-19..

Pierre Bourdieu afirmou que “a televisão faz correr um não menor risco à vida política e à democracia”.

Carlos Oliveira, Funchal

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