ADN em cabelo com 131 anos confirma o parentesco de antigo líder indígena com um bisneto vivo

Através de ADN extraído de um cabelo, cientistas confirmaram uma relação familiar entre o líder indígena Touro Sentado, que morreu em 1890, e de Ernie LaPointe, de 73 anos.

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Cabelo de onde se extraiu o ADN de Touro Sentado Eske Willerslev

Uma amostra do cabelo do antigo líder indígena Touro Sentado, que viveu no século XIX, ajudou cientistas a confirmar que é bisavô de um homem do Dakota do Sul ainda vivo. Tudo aconteceu devido ao uso de um novo método para análise de linhagens familiares com fragmentos de ADN de pessoas mortas há já muito tempo.

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Uma amostra do cabelo do antigo líder indígena Touro Sentado, que viveu no século XIX, ajudou cientistas a confirmar que é bisavô de um homem do Dakota do Sul ainda vivo. Tudo aconteceu devido ao uso de um novo método para análise de linhagens familiares com fragmentos de ADN de pessoas mortas há já muito tempo.

Os investigadores divulgaram esta quarta-feira que o ADN extraído de um cabelo, que estava guardado no Instituto Smithsonian, em Washington (Estados Unidos), confirma uma relação familiar entre Touro Sentado, que morreu em 1890, e de Ernie LaPointe, de 73 anos, que vive em Lead, no Dakota do Sul.

“Sinto que esta investigação ao ADN é outra forma de identificar a ligação ao meu bisavô”, disse Ernie LaPointe, que tem três irmãs. “Desde que me lembro, as pessoas têm questionado a ligação relativamente ao nosso antepassado. Essas pessoas têm apenas dor de cotovelo – e, provavelmente, irão duvidar destes resultados também.”

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Retrato de 1885 do Touro Sentado Instituto Smithsonian/National Portrait Gallery

Este estudo representa a primeira vez que o ADN de uma pessoa já morta há muito tempo foi usado para demonstrar uma relação familiar entre um indivíduo vivo e uma figura histórica – e mostra o potencial para se fazer o mesmo noutros casos em que o ADN pode ser extraído de vestígios como cabelo, dentes e ossos.

O novo método foi desenvolvido por uma equipa de cientistas liderada por Eske Willerslev, director do Centro de Geogenética da Fundação Lundbeck, na Dinamarca, e geneticista na Universidade de Cambridge. Os investigadores demoraram 14 anos até descobrirem uma forma de extrair ADN válido a partir de cabelo, que foi entregue ao Instituto Smithsonian por Ernie LaPointe e as suas irmãs em 2007.

Eske Willerslev conta que leu numa revista sobre a entrega dessa amostra de cabelo de Touro Sentado ao Instituto Smithsonian e tentou falar com Ernie LaPointe. “LaPointe pediu-me então para extrair ADN dela [da amostra] e compará-lo com o seu ADN para determinar uma relação”, disse Eske Willerslev, coordenador da investigação publicada na revista Science Advances esta semana. “Tinha muito pouco cabelo e havia uma quantidade limitada de ADN. Demorou imenso tempo até que se conseguisse desenvolver um método que, com base em ADN antigo reduzido, se conseguisse fazer uma comparação para pessoas vivas ao longo de múltiplas gerações.”

A nova técnica centrou-se no que é hoje conhecido como “ADN autossómico” em fragmentos genéticos extraídos de cabelo. Análises tradicionais envolvem ADN especifico no cromossoma Y transmitido por linha paterna ou ADN específico nas mitocôndrias transmitido pela mãe. Já o ADN autossómico não é específico de um género.

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Ernie Lapointe, o bisneto do Touro Sentado Ernie Lapointe

“Já havia métodos [para fazer esta procura no ADN], mas exigiam quantidades substanciais de ADN ou não permitiam chegar ao nível dos bisnetos”, afirma Eske Willerslev. “Com o nosso novo método, é possível definir relações familiares mais profundas ao usar pequenas quantidades de ADN.”

O Touro Sentado ajudou a juntar as tribos Sioux das Grandes Planícies contra os colonos brancos que tiravam as suas terras, bem como contra as forças militares dos Estados Unidos que tentavam forçar os nativos americanos a sair do seu território. O Touro Sentado liderou os “guerreiros” nativos americanos que exterminaram as tropas federais lideradas por George Custer, na Batalha de Little Bighorn, de 1876, no que é hoje o estado do Montana.

Há dois locais de sepultamento apontados para o Touro Sentado, um em Fort Yates (no Dakota do Norte) e outro em Mobridge (no Dakota do Sul). Ernie LaPointe referiu que não acredita que em Fort Yates haja vestígios do seu bisavô. “Sinto que os resultados de ADN podem identificar os vestígios sepultados em Mobridge, no Dakota do Sul, como local onde está mesmo o meu antepassado”, nota Ernie LaPointe, levantando a possibilidade de mudar os vestígios de Mobridge para outro local no futuro.