Destapados os segredos genéticos das múmias egípcias

Os antigos egípcios tinham mais parecenças genéticas com as populações do Próximo Oriente do que com as da África subsariana.

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Sarcófago encontrado no sítio de Abusir el-Malek ASMB/Sandra Steiss

A análise do ADN de múmias encontradas num local outrora conhecido pelo seu culto ao deus egípcio da vida após a morte trouxe informações intrigantes sobre as pessoas do Egipto Antigo, incluindo a descoberta surpreendente de que tinham escassas ligações genéticas à África subsariana.

Uma equipa de cientistas examinou o ADN de 90 múmias do sítio arqueológico de Abusir el-Malek, 115 quilómetros a sul do Cairo, naquele que é o estudo genético de múmias mais detalhado até à data. O ADN foi extraído dos dentes e ossos das múmias de uma grande sepultura associada ao deus Osíris. As mais antigas datam de 1388 a.C. durante o Novo Império, um ponto alto na influência e cultura do Egipto. As mais recentes são do ano 426 d.C., séculos depois de o Egipto se ter tornado uma província romana.

No caso das 90 múmias, o ADN analisado foi o mitocondrial, que está fora do núcleo das células e é transmitido apenas pela mãe. Além disso, para três indivíduos mumificados, a equipa fez ainda análises de associação para o genoma completo (incluindo o ADN no núcleo das células), para procurar variações genéticas que permitissem identificar certas características.

“Tem havido muita discussão sobre os antepassados genéticos dos antigos egípcios”, disse o arqueogeneticista Johannes Krause, director do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana (em Jena, Alemanha), que coordenou este estudo publicado na revista Nature Communications. “Os egípcios modernos são descendentes directos dos antigos egípcios? Houve continuidade genética no Egipto ao longo dos tempos? Os invasores estrangeiros mudaram a composição genética: por exemplo, os egípcios tornaram-se mais ‘europeus’ depois de Alexandre, o Grande, ter conquistado o Egipto?”, acrescentou Johannes Krause. “O ADN antigo permite abordar estas questões.”

Os genomas mostraram que, ao contrário dos egípcios modernos, os egípcios antigos não tinham nenhuma ou tinham pouca afinidade genética com as populações subsarianas, embora algumas, como as da Etiópia antiga, tivessem tido interacções significativas com o Egipto. As ligações genéticas mais próximas eram com as pessoas do antigo Próximo Oriente, estendendo-se por partes do Iraque e da Turquia, bem como de Israel, Jordânia, Síria e Líbano.

No Norte de África, no cruzamento de continentes no antigo mundo mediterrânico, o Egipto foi durante milénios uma das civilizações mais avançadas na antiguidade, conhecido pelo seu poder militar, arquitectura impressionante, incluindo as gigantescas pirâmides e imponentes templos, bem como arte, hieróglifos e um panteão de divindades. A mumificação era usada para preservar os corpos dos mortos para a vida após a morte. As múmias agora estudadas eram de pessoas da classe média, não da realeza.

Os investigadores encontraram ainda uma continuidade genética que se prolongou desde os tempos do Novo Império até aos tempos romanos, com os antecedentes subsarianos a aumentarem substancialmente há cerca de 700 anos, por razões ainda não esclarecidas. “Não houve mudanças detectáveis para aqueles [primeiros] 1800 anos de história egípcia. A grande mudança aconteceu entre essa altura e agora”, rematou Johannes Krause.

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