Líder do CDS usa argumentos de Portas para antecipar congresso

Francisco Rodrigues dos Santos rejeita a ideia de “tirar espaço aos opositores” internos. Foram distribuídas convocatórias antigas de conselhos nacionais com prazos curtos assinadas por portistas

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Francisco Rodrigues dos Santos diz que o CDS não pode perder meses em "guerras internas" LUSA/RODRIGO ANTUNES

No arranque de um conselho nacional que já se adivinhava conturbado, o líder do CDS fez, esta manhã de sábado, uma pausa na sua participação da reunião (depois de fazer a intervenção de abertura) e falou aos jornalistas para realçar a vitória autárquica do partido e para contrariar a contestação interna à antecipação do congresso para Novembro.

Francisco Rodrigues dos Santos apontou exemplos do passado, todos eles subscritos por elementos das direcções de Paulo Portas, actuais apoiantes de Nuno Melo na disputa interna, e citou até o antigo líder para argumentar a favor da decisão da actual direcção.

“Tenho uma acta de Paulo Portas a dizer que quatro meses era muito tempo para um congresso e que nem era preciso esperar pelas eleições do PSD”, disse, assegurando que a “radiografia” sobre os timings do congresso é semelhante à actual embora sem revelar o momento em que esse argumento foi usado no passado. De qualquer forma, a actual direcção pretende uma antecipação de dois meses – a proposta é que se realize a 27 e 28 de Novembro – face ao mês de Janeiro, a data normal.

Francisco Rodrigues dos Santos defendeu que não se pode “desperdiçar” meses em “guerras internas” e justificou a pressa com a necessidade de “preparar o partido para eleições legislativas” com vista a “levar a marca do CDS ao Governo de Portugal”. 

O líder do CDS recusou a ideia de que a antecipação do congresso electivo impede Nuno Melo de fazer campanha interna. “Não, não tiro espaço aos opositores. Eles estão em campanha há muito tempo. Cruzei-me com muita gente que em vez de campanha para o nosso partido, estiveram a fazer campanha para o congresso”, afirmou, acrescentando que “não será por falta de tempo nem de meios” que Nuno Melo conseguirá afirmar-se como candidato.

Os críticos internos têm contestado o prazo curto de marcação do conselho nacional (em que é agendada a data do congresso de disputa de liderança) que, desta vez, foi de seis dias. O líder centrista assegurou a legalidade do prazo, disse ter invocado o carácter de urgência na convocatória (e por isso pode encurtar para um prazo inferior a 10 dias) e apontou vários exemplos de conselhos nacionais anteriores marcados com menor antecedência. Um deles, o de Março de 2005, foi marcado com três dias de antecedência e assinado pelo então secretário-geral Pedro Mota Soares, actual apoiante de Nuno Melo.

“Todos aqueles que se assumem portistas, que se dizem fiéis sucessores de Paulo Portas, hoje criticam por usar rigorosamente a mesma fórmula que Paulo Portas usou quando era presidente do partido”, afirmou, acusando os críticos de “discrepância e incoerência” no discurso: “Esses senhores que me criticam são como Frei São Tomás, faz o que eu digo não faças o que eu faço”.

Foram distribuídos à comunicação social várias convocatórias de conselhos nacionais anteriores para marcação de congresso com um prazo menor de dez dias, sendo que alguns correspondem a momentos de transição de lideranças. Mas o último, de 2019, em que Rodrigues dos Santos e João Almeida disputavam a liderança, foi convocado seis dias antes.

Francisco Rodrigues dos Santos também aproveitou para refutar os números avançados pelos críticos em torno dos resultados eleitorais autárquicos, referindo que “não percebe” os dados da “equipa de Nuno Melo” quando a sua direcção já “detectou irregularidades em mandatos eleitos em 2017”, o que considera pôr em causa o apuramento interno.

Mais uma vez, e depois de questionado sobre o comentário do antigo vice-primeiro-ministro na TVI sobre o resultado “sombrio” do partido, o antigo líder do CDS veio a lume: “Era Paulo Portas que dizia que não contavam os votos, e eram os autarcas eleitos.” A oposição interna tem sublinhado a descida da votação do partido nas listas em que o CDS concorreu sozinho. Mesmo no número de autarcas eleitos as versões são diferentes. 

Questionado sobre a crítica que Nuno Melo fez, no sábado, à actual direcção de pretender ser oposição ao PS e ser parceiro do PSD ao mesmo tempo que tenta negociar medidas no Orçamento do Estado, Francisco Rodrigues dos Santos ripostou contra o seu adversário em congresso. “O que o Nuno Melo propõe é uma oposição destrutiva”, afirmou, reiterando que o CDS “tem feito oposição ao PS” e que “isso não inviabiliza” que não apresente propostas nem que o PSD seja o “parceiro natural”.

“Quero lá saber se é o Chega, o PAN, o Bloco que votam as propostas, quero é que elas sejam aprovadas”, disse, acrescentando que o antigo vice-presidente faz “muitas críticas” ao mesmo tempo que o seu lema de campanha é “‘tempo de construir’”.

Quanto à interpretação que faz da presença de Telmo Correia, líder da bancada, na apresentação da candidatura à liderança de Nuno Melo e o abraço entre os dois, o actual líder desvalorizou: “Interpreto com normalidade e espírito democrático.”

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