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A Póvoa de Varzim acordou com grafittis de protesto pelo clima. Mas eram só montagens

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O que é mais imoral: um graffiti ou a destruição ambiental? Foi nisto que a associação Pathos quis pôr a Póvoa de Varzim a pensar. Como? Disseminando imagens de diferentes locais da cidade com mensagens de protesto pelo clima neles gravados. "Está na hora de ouvir o planeta", "Não há planeta B", "Rezar só não chega", "Quando não houver mar, onde vais pescar?", lia-se em diversos monumentos, edifícios e cartazes que lembram as eleições autárquicas deste domingo. As imagens chocaram muitos, mas, esta terça-feira, 28 de Setembro, um dia depois de as imagens começarem a circular nas redes sociais, o choque chegou ao fim: os grafittis eram, afinal, montagens. E os edifícios estão intactos.

A acção partiu da "vontade de sensibilizar a comunidade para a importância da conservação ambiental", começou por explicar Luís Miguel Sandão, vice-presidente da associação juvenil cultural sediada na Póvoa de Varzim. Apesar de se focarem essencialmente no teatro, também faz parte do grupo a vontade de "sensibilizar a comunidade para assuntos de interesse geral", seja a conservação ambiental, a actividade política, a igualdade de género ou a importância da literacia. 

Esta acção é a prova disso: "Aproveitámos este período imediatamente a seguir às eleições e, portanto, ao período de campanha, para também, à semelhança dos vários partidos, invadir o espaço público", refere o jovem de 24 anos. O objectivo era "provocar algum questionamento acerca da moralidade deste tipo de vandalismo", para depois assumirem autoria da acção e "estabelecer este paralelismo entre o que é a imoralidade do vandalismo do espaço e de instituições públicas e o vandalismo do planeta Terra feito pela humanidade". Afinal, qual é pior? Um justifica o outro?

A táctica para fazer a acção acontecer foi simples e bastante eficaz: pediram, esta segunda-feira, 27, a algumas pessoas próximas da associação que divulgassem as fotografias adulteradas, como se tivessem sido captadas por si, para apenas esta terça-feira esclarecerem o sucedido. Até ser divulgada a explicação da campanha — da mesma forma que foram espalhadas as imagens, isto é, no Facebook —, os comentários à mesma tinham sido essencialmente de indignação; mas, assim que a associação explicou que as imagens não passavam de montagens, o cenário mudou e chegam-lhes, principalmente, mensagens positivas. "Se estes actos de vandalismo tivessem acontecido era errado; abominamos este tipo de acções. Ainda assim, houve pessoas que conseguiram retirar alguma coisa e encontraram uma intenção valiosa por detrás da acção [antes de saberem que era mentira]", remata.

"Ainda que os actos de vandalismo que ontem partilhámos tenham sido apenas fotomontagens, o vandalismo do planeta que diariamente perpetuamos é bem real — todos os dias continuamos a agredir o maior dos espaços comuns, aquele que partilhamos, que é de todos, e que está a morrer", escreveram na publicação feita no Facebook. "Incentivamos todos aqueles que se revoltaram a continuarem com essa revolta e a insurgirem-se contra o vandalismo feroz que todos praticamos diariamente", lê-se.

O protesto acontece três dias depois da última manifestação pelo clima, que na última sexta-feira levou milhares de jovens de vários pontos do mundo à rua, e é mais um grito de revolta contra a inércia de um mundo que vê o ambiente degradar-se de braços cruzados. 

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