Alentejo

Como a Torre do Relógio da Amareleja mantém “uma relação com o céu”

©Estúdio Peso
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Um relógio fora de horas e a pressão dos habitantes fez com que a Torre do Relógio da Amareleja, no Alentejo, sofresse uma requalificação. Após várias intervenções populares, a obra oficial começou em 2015, com uma proposta de projecto que compreendia a conclusão do edifício e a realização de uma cobertura. Numa fase inicial, a ideia era apenas tratar a cobertura do espaço. “Mas, depois, percebeu-se a importância que o edifício tinha para a população”, explica Tiago Mota Saraiva, arquitecto responsável pelo projecto, do atelier Mob. A torre foi requalificada, mantendo a função original: a de ser um espaço polivalente.

“As camadas de intervenções, feitas ao longo do tempo pelos locais, vão-se percebendo no edifício”, comenta Tiago Mota Saraiva, mas o objectivo da requalificação é poder distinguir o antes e o depois. Porém, tal tarefa não foi fácil, visto que a empresa teve de jogar com os requisitos de três clientes: os habitantes, a diocese de Beja (proprietária do edifício) e a Câmara Municipal de Moura (promotora da obra).

Ao longo de várias épocas, o edifício assumiu diferentes funcionalidades, entre as quais a de local de enterramentos durante um surto de peste, no século XIX. E, por isso, embora não tenha havido muita escavação, mal a equipa de construção começou os trabalhos foram encontrados 13 corpos deste período.

Como a Amareleja é um local propício a temperaturas mais quentes, a intenção era que o edifício fosse “low tech e tivesse uma ventilação natural, para que se gaste pouco com a manutenção”, refere o arquitecto. “O desejo era que se mantivesse uma relação com o céu” e, por isso, a cobertura foi o maior desafio a nível técnico, uma vez que permite uma abertura.

A nível arquitectónico, Tiago Mota Saraiva destaca o uso do aço corten para a cobertura que, com o tempo, “foi absorvido pela paisagem”. No interior, o edifício foi alvo de limpezas e pintado de branco. Já no exterior, fizeram um emparelhamento das pedras e pintaram a torre com um amarelo-Alentejo e vermelho-Málaga – cores frequentemente usadas na vila.

“Foi preciso falar com as pessoas para que não perdessem o vínculo com o edifício e, por outro lado, sermos capazes de proporcionar um equipamento útil. Não havendo um valor patrimonial, há um valor histórico identitário da população, um património da terra”, sublinha. Por enquanto, o espaço ainda não se encontra aberto ao público.

Texto editado por Ana Maria Henriques

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