A maré está a mudar: Zandile é a primeira “sereia negra” da África do Sul pós-apartheid

Zandile Ndlovu apaixonou-se pelo mergulho e agora abre o mar à juventude negra do país, milhões dos quais vivem em bairros de lata empobrecidos, onde as viagens à praia são um luxo e os conhecimentos de natação escasseiam.

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Cinco jovens do município de Langa, na Cidade do Cabo, enfiam-se em fatos de mergulho para uma aula de snorkelling com a primeira instrutora negra de mergulho da África do Sul — que está a mudar o rumo da história após décadas de apartheid, nos quais os desportos aquáticos eram reservados aos brancos ricos.

A Fundação Sereia Negra, de Zandile Ndlovu, pretende abrir o oceano à juventude negra do país, milhões dos quais vivem em bairros de lata empobrecidos, onde as viagens à praia são um luxo e os conhecimentos de natação escasseiam.

Sentadas em redor de Ndlovu, 33 anos, a primeira instrutora negra de mergulho livre da África do Sul, as crianças aprendem a morder o bocal de mergulho quando respiram de cara para baixo na água. Criada em 2020, a fundação suporta financeiramente as aulas, mas procura financiadores para garantir a sua longevidade.

A mergulhadora Zandile Ndlovu encoraja jovens negros a explorar o mundo marinho ao largo de Simonstown, perto da Cidade do Cabo, África do Sul REUTERS/Mike Hutchings
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A mergulhadora Zandile Ndlovu encoraja jovens negros a explorar o mundo marinho ao largo de Simonstown, perto da Cidade do Cabo, África do Sul REUTERS/Mike Hutchings

“O espaço aquático nem sempre foi diversificado e eu queria criar um ambiente onde fosse possível uma representação plural no oceano”, diz. Ndlovu desistiu do seu próprio negócio de consultoria, que geriu durante cinco anos após ter sido empregada no sector dos serviços empresariais.

“A minha maior satisfação é o momento em que uma das crianças diz: ‘Olha é um peixe, olha é uma estrela-do-mar’, porque significa que eles ultrapassaram o medo de realmente olhar para debaixo da superfície”, explica. Ndlovu fala depois de uma aula em que os estudantes entraram em águas rasas no plácido, mas gelado, oceano Atlântico ao largo de Long Beach, na Cidade do Cabo.

Antes da primeira votação democrática da África do Sul, em 1994, que pôs fim ao regime das minorias brancas, uma miríade de leis do apartheid legalizou a segregação racial em todas as facetas da vida. Os espaços públicos, tais como casas de banho e praias, eram reservados apenas para os brancos.

“Estou feliz e gostei”, disse Somila Tise, uma estudante de 12 anos, de Langa, depois de sair da água a tremar. 

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Zandile Ndlovu REUTERS/Mike Hutchings
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Ao experimentar mergulho durante umas férias em Bali, em 2016, Ndlovu apaixonou-se pelo oceano. No ano seguinte, conseguiu rapidamente o seu certificado. Em 2020, recebeu um certificado de instrutora em ‘mergulho livre’, sem equipamento.