Luís Coelho estreia no Museu do Fado Contos de Cordas, “um disco de contrastes”

Guitarra portuguesa, harpa e contrabaixo: é assim o disco de estreia de Luís Coelho, Contos de Cordas, que é lançado esta quinta-feira com uma apresentação ao vivo no Museu do Fado, em Lisboa, às 19h. Em Setembro chegará ao CCB.

Foto
O trio de Contos de Cordas: Luís Coelho (ao centro), Salomé Pais Matos e Carlos Menezes LUÍS CARVALHAL

Tem acompanhado vários fadistas (Paulo Bragança, Joana Amendoeira ou, mais episodicamente, Aldina Duarte, entre outros) e agora estreia-se a solo, com um álbum intitulado Contos de Cordas, que é lançado esta quinta-feira no Museu do Fado (que o edita), numa sessão já esgotada, às 19h. É um disco inteiramente instrumental, em trio, onde, à sua guitarra portuguesa, Luís Coelho quis juntar harpa e contrabaixo, tocados respectivamente por Salomé Pais Matos e Carlos Menezes. E ainda alguns músicos convidados em temas específicos: Sofia Neide (contrabaixo em Niilismo), Carlos Leitão (viola de fado em Fado do lirismo), Luís Peixoto (sanfona em A vida no campo) e Pedro Janela (que fez um arranjo de cordas e sintetizadores para o tema Crepúsculo).

A ideia de juntar a harpa à guitarra portuguesa já era antiga, mas acabou por ganhar novo fôlego devido a um convite para um espectáculo onde conheceu a harpista, como recorda ao PÚBLICO: “Conheci a Salomé no projecto Royal Fado, em que tocávamos os dois para a Yolanda Soares. Tinha já um trabalho com guitarra portuguesa, quarteto de cordas e harpa. Nessa altura, eu já tinha feito onze das doze composições do disco, algumas são bastante antigas. E esse convite permitiu-me validar a ideia que eu já tinha, de que a junção de guitarra portuguesa e harpa funcionaria.”

Harpa, uma ideia antiga

O passo seguinte foi experimentar essa junção já com composições próprias. “Em pauta, escrevi com o som de harpa, ainda antes de conhecer a Yolanda e a Salomé. Pareceu-me que podia ser uma coisa interessante. Depois, quando tive de apresentar uma prova final na Escola Superior de Artes Aplicadas (ESAA) de Castelo Branco, convidei a Salomé para tocarmos quatro ou cinco temas. Foi essa primeira experiência e foi daí que surgiu a ideia de arranjar mais temas e gravar.”

O contrabaixo chegaria um pouco mais tarde. “Veio por sugestão do Custódio Castelo [guitarrista, compositor e professor de guitarra portuguesa]. O Carlos Menezes já era o contrabaixista dele, o Custódio deu-me um apoio enorme durante o tempo de estúdio e quando lhe disse que tínhamos gravado guitarra e harpa e precisávamos de mais alguma coisa que lhes desse ‘chão’, ele passou-nos o contacto do Carlos, que abraçou de imediato o projecto e veio gravar connosco.”

Os quatro convidados vieram, cada qual, por razões específicas, que Luís Coelho explica: “No caso do Pedro Janela, ele já tinha feito um arranjo só comigo para o tema Crepúsculo, ainda antes de eu conhecer a Salomé, e agora passou esse arranjo para a gravação. O Carlos [Leitão] veio pela necessidade de ter uma viola de fado, para ter o ambiente que se pretendia no tema em que ele tocou. O Luís Peixoto acabou por ter um pequeno apontamento que veio dar uma nova cor, que remete para um universo mais campestre, mais rural e mais antigo. Quanto à Sofia [Neide], eu já tocava o Niilismo com ela, num projecto de dança contemporânea, e quis convidá-la para gravar.”

Recriar sentimentos

Nascido em Lisboa, a 6 de Dezembro de 1983, Luís Coelho começou a aprender guitarra clássica por volta dos 13 anos. “E cheguei à guitarra portuguesa por influência do meu pai, que toca guitarra portuguesa de forma amadora. No início pegava e largava, era uma relação estranha. Por volta dos 19 anos tive um impulso mais sério e quis mesmo aprender, mais para chegar às coisas do Carlos Paredes, porque fiquei bastante apaixonado pelo estilo musical dele.” Fez os testes para o Conservatório, foi aceite e ficou lá até 2009, concluindo o quinto grau. Interrompeu depois para “dar cinco anos à engenharia”, vindo a retomar as músicas no Museu do Fado e na ESAA, onde terminou a licenciatura em guitarra portuguesa.

Foto
A capa do disco

O disco que agora apresenta, Contos de Cordas, foi gravado em 2018, embora só agora surja editado. E inicialmente não tinha esse nome: “Quando propus este trabalho ao Museu do Fado, este trabalho chamava-se Epifania, no sentido em que procurava recriar um conjunto de sentimentos. Conceptualmente era isso. E, no fundo, embora tenha mudado para Contos de Cordas, um título mais apelativo, mantém esse espírito.”

Em Setembro no CCB

O nome das composições confirma-o. A par de Gáudio, Enlace, A vida no campo, Dança do sal, Saudade, há temas cujo título nos remete para zonas mais sombrias ou mais reflexivas: Angústia, Frustração, Inconstância, Niilismo. “Todo o disco está feito com base em contrastes: a um tema que remete para uma paisagem sonora alegre sucede-se outro que entra em contradição com ele.”

A apresentação no Museu do Fado, esta quinta-feira, será feita com o trio que é a base do disco. Mas já está marcada outra, para o dia 17 de Setembro, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, no ciclo Há Fado no Cais, parceria do CCB com o Museu do Fado/EGEAC. Será às 19 horas, com público (sujeito às regras da DGS), seguido de transmissão em streaming às 21h30. 

Sugerir correcção
Comentar