Eu podia ser o Samuel Luiz Muñiz

Samuel Luiz Muñiz, um jovem homossexual, foi brutalmente agredido até à morte, em Espanha. Fico pálido de medo só de pensar que aquele jovem gay podia ser eu, ou tu que lês este artigo; podia ser qualquer pessoa que quer viver a sua vida de forma livre.

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No passado dia 1 de Julho, Samuel Luiz Muñiz, um jovem homossexual, foi brutalmente agredido até à morte por um grupo de jovens homofóbicos, em Espanha. Ainda o mês o passado, o nosso país acordou com a notícia de um jovem trans português, que foi violentamente agredido em Inglaterra.

A brutalidade dos relatos que li chocaram-me profundamente. Fico aliás pálido de medo só de pensar que aquele jovem gay podia ser eu, ou tu que lês este artigo; podia ser qualquer pessoa que quer viver a sua vida de forma livre.

A comunidade LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, queer, intersexo, assexuais e outras identidades) continua, em 2021, a sofrer as mais variadas agressões possíveis e imagináveis. Muitas delas acabam em mortes, como foi o caso do Samuel.

Não é justo. Não é justo que alguém pelo simples facto de não se reconhecer no status-quo da heterossexualidade “cis" (cisgénero refere-se a pessoas que se identificam com o género que lhes foi atribuído à nascença) e se expressar de uma forma diferente seja impedido de ter o direito a viver. Não é justo que alguém que queira demonstrar a sua livre autodeterminação não o possa fazer de forma segura no espaço público, colocando em risco a sua própria vida.

Os governos por todo o mundo têm o dever de implementar programas de sensibilização para todas as faixas etárias sobre a LGBTQIAfobia, os programas escolares necessitam de abordar estes temas. A população tem, de uma vez por todas, de abrir os olhos para esta realidade.

Segundo Observatório Contra a Homofobia (OCH), desde do início do ano mais de 76 pessoas LGBTQIA+ foram vitimas de ataques homofóbicos apenas na zona da Catalunha. Em Marrocos, milhares de gays estão em perigo enquanto são perseguidos através de aplicações de relacionamento.

Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, no Brasil, só em 2020 foram assassinadas 175 pessoas trans — um pesadelo que também assombra o nosso país. Ninguém, jamais, pode esquecer o caso da Gisberta e as fatais e reiteradas agressões que sofreu às mãos de um grupo de menores.

Enquanto isso, a Hungria faz retrocessos LGBTQIAfobicos na sua lei, com danos gritantes na vida da sua população. O Parlamento português terá brevemente a oportunidade de condenar as políticas nefastas de Orbán e, nesse dia, a população deste país irá saber quem são aqueles que, apesar de se apelidarem de democratas, estão, na realidade, ao lado do ódio.

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Protestos em Espanha EPA/JAVIER LOPEZ
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Tanto que lutamos, tanto que exigimos ao longo de décadas a fio. E, mesmo assim, estes crimes hediondos continuam a ser uma constante pelo mundo. A luta LGBTI+ é uma luta de preservação dos direitos humanos. Milhares de pessoas por toda a Espanha levantam-se por justiça pelo Samuel, e que orgulho tenho nesta comunidade que não se cala e que continua uma luta tão digna.

Exige-se justiça para Samuel e para todos aqueles que sofrem com o preconceito. Este crime não pode cair no esquecimento. As pessoas que cometeram este horrível acto devem ser julgadas na justiça e serem responsabilizadas por este grave acto.

A sociedade tem de abrir os olhos para esta realidade que assombra milhões de pessoas por todo mundo, para que não caia nem mais uma única gota de sangue. Ontem foi o Samuel, amanhã poderei ser eu ou tu.

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