Tiago Rodrigues: “Um dos encenadores mais proeminentes da Europa”

Imprensa francesa noticia e comenta a escolha de Tiago Rodrigues como “o primeiro estrangeiro a dirigir o Festival de Avignon”.

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Tiago Rodrigues Miguel Manso

“O primeiro estrangeiro” a dirigir o Festival de Avignon — a frase, citada da AFP, é o principal denominador comum das notícias com que a imprensa francesa anunciou a escolha de Tiago Rodrigues para, a partir de Setembro do próximo ano, substituir Olivier Py à frente de um dos mais prestigiados festivais de teatro do mundo. Mas o nome do actual director do Teatro Nacional D. Maria II é também identificado como “um dos encenadores mais proeminentes da Europa”, epíteto justificado com referências à sua longa carreira, com presença regular em palcos franceses desde há meia dúzia de anos, incluindo os de Avignon.

Já o facto de o conselho de administração do festival ter escolhido anunciar o nome do futuro director no mesmo dia da abertura do festival, e com uma encenação de… Tiago Rodrigues — O Cerejal, de Tchékhov, com Isabelle Huppert —, levou a que nos meios teatrais o nome do português tivesse começado a ser sussurrado desde há já algumas semanas. “Podíamos deitar-nos a adivinhar que o homem de teatro português seria o feliz eleito”, lembrava esta segunda-feira Brigitte Salino, no Le Monde. Mas quem foi mais temerário na “adivinhação” foi mesmo a revista Télérama, que, depois de na véspera ter apresentado um perfil ditirâmbico do encenador, avançou logo ao início desta manhã que Tiago Rodrigues seria o novo director de Avignon.

Depois de comentar também a coincidência do anúncio com a estreia do festival e de O Cerejal — “Seria difícil fazer melhor como forma de entronização”, escreveu Joëlle Gayot —, a revista semanal de espectáculos dedicou uma detalhada biografia a este “talentoso homem de teatro”, sem esquecer as sucessivas criações apresentadas em França, desde que em 2014 fez By Heart no Teatro da Bastilha, e depois também em Avignon, com António e Cleópatra (2015) e Sopro (2017).

Com as suas criações, “ele impôs em França um gesto de raro humanismo, que foge da algazarra e do espectacular, preferindo-lhes os espaços despojados, o detalhe, o ínfimo e o sussurro”, escreve a jornalista, que defende mesmo para Avignon a escolha deste “homem da partilha, do encontro, da abertura a tudo o que lhe é estranho”.

Perspectivando o mandato do português, Joëlle Gayot avança que “seria uma pena vê-lo desistir de encenar”. E pergunta se ele irá conseguir manter o equilíbrio entre “os seus espectáculos, a programação do festival e a sua inserção na cidade”, lembrando que Jean Vilar, o fundador do festival em 1947, se resignou a cuidar apenas deste.

Já Anne Diatkine, do Libération, depois de noticiar a confirmação do “rumor com várias semanas” relativo à escolha do encenador português, descreve assim a atmosfera que se vivia em Avignon na véspera desse anúncio: “Um sopro de entusiasmo percorre as ruas já escaldantes, sacode os cartazes, os panfletos, os ramos e as folhas das árvores — e sabemos como os palcos de Tiago Rodrigues estão muitas vezes salpicados de folhas soltas; enfim, de tudo o que é dotado de movimento”.

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