Líderes tigré reclamam controlo da capital da região e pedem apoio humanitário

O controlo de Mekelle pelas forças tigré é um ponto de viragem no conflito de oito meses e terá sido conseguido com uma grande contra-ofensiva apoiada pela população.

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Uma mulher forçada a deslocar-se para um abrigo temporário em Shire, na região de Tigré, devido à violência BAZ RATNER/Reuters

A Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT) anunciou esta terça-feira que controla a capital da região de Tigré, após ter sido declarado um cessar-fogo unilateral, e comprometeu-se a forçar a retirada dos “inimigos” do Governo federal. Foi ainda pedido o apoio das agências humanitárias, a quem garantiu que o acesso será facilitado.

Fontes citadas pelo diário Addis Standard garantem que na segunda-feira a FLPT tinha irrompido na cidade, um ponto de viragem no conflito de oito meses. No mesmo dia, as autoridades interinas enviadas por Adis Abeba pediram um cessar-fogo até Setembro, justificando a decisão para o cultivo agrícola e para garantir o acesso da ajuda humanitária.

Getachew Reda, porta-voz da FLPT, garantiu que as forças tigré têm “100% do controlo de Mekelle”, segundo a Reuters. O controlo foi recuperado “com uma grande contra-ofensiva apoiada por grande parte da população”, disse o analista William Davison, do  International Crisis Group

O Governo etíope não confirmou, para já, ter perdido o controlo da cidade de Mekelle, que foi tomada na sequência da ofensiva iniciada em Novembro de 2020 contra a FLPT, com o apoio eritreu. Mas também há relatos da retirada das forças eritreias de três cidades principais da região: Shire, Axum e Adwa.

Os locais disseram à BBC estar a celebrar a retirada das tropas federais. Uma testemunha também disse à AFP que “toda a gente está fora de casa, entusiasmada, e ouve-se música a tocar nas ruas”.

Apesar da conquista temporária, os líderes tigré comprometeram-se em forçar a retirada dos “inimigos” do Governo federal: “O governo de Tigré apela às nossas pessoas e ao Exército de Tigré que intensifiquem a sua luta até os nossos inimigos deixarem por completo Tigré”, disseram num comunicado. “O governo e o Exército de Tigré vão levar a cabo as actividades necessárias para garantir a sobrevivência e segurança da nossa população”, continuaram.

Segundo o porta-voz da FLPT, Faseha Tesema, “a grande maioria da população está agora sob o governo de Tigré”. Tesema também pediu à “ajuda internacional” que chegue e apoie “grande maioria dos tigré que necessitam, dado que a situação no terreno permite facilitar a entrega da ajuda”, explicou em declarações à BBC.

O acesso da ajuda humanitária parece ser, aliás, uma das prioridades, porque a população da região foi “submetida a todo o tipo de atrocidades, incluindo o uso da fome como arma” na ofensiva contra os líderes tigré, na qual as forças etíopes contaram com o apoio militar eritreu.

Na sequência do conflito, milhares de pessoas morreram, quase dois milhões foram deslocados e a fome chegou a pelo menos 350 mil pessoas na região. O acesso das agências humanitárias tinha também sido bloqueado pelas forças governamentais.

No último reacendimento da violência, na semana passada, 64 pessoas morreram e 180 ficaram feridas depois de um ataque aéreo levado a cabo pelas forças etíopes ter atingido um mercado na cidade de Togoga.

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