Partido de Obrador penalizado nas eleições legislativas mexicanas

A ambição do Presidente era alcançar uma maioria qualificada em conjunto com os seus aliados. Conseguiu, porém, vencer pelo menos dez eleições estaduais.

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Apesar da violência durante a campanha eleitoral, a participação nas intercalares mexicanas foi positiva ALAN ORTEGA / Reuters

O Movimento Regeneração Nacional (Morena), do Presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, manteve a sua posição como maior partido na Câmara dos Deputados após as eleições legislativas deste domingo. No entanto, em conjunto com os seus aliados, não conseguiu alcançar a maioria qualificada necessária para alterar a Constituição, tal como o chefe de Estado desejava.

No domingo, os mexicanos foram chamados a votar em várias eleições em simultâneo: para a Câmara dos Deputados, para 15 governos estaduais, e milhares de autarquias. Estas eleições intercalares foram encaradas como um referendo à primeira metade do mandato de AMLO, como é conhecido o Presidente, bastante marcada pela pandemia da covid-19, responsável por mais de 228 mil mortes no México.

Os resultados parciais revelados na madrugada desta segunda-feira mostram uma vitória agridoce do Morena. O partido de Obrador conseguiu cerca de 200 lugares na Câmara dos Deputados, confirmando-se ter ficado bastante abaixo dos 256 obtidos em 2018 e que lhe garantiam sozinho a maioria no hemiciclo de 500 deputados.

Apesar de se tratar de uma vitória, AMLO falhou o objectivo de alcançar com os seus aliados do Partido Verde Ecologista do México (PVEM) e do Partido do Trabalho (PT) a maioria qualificada de 334 deputados que lhe iria permitir alterar a Constituição e fazer aprovar reformas importantes.

Na sua conferência de imprensa matinal, Obrador preferiu sublinhar a manutenção da maioria parlamentar, que disse ser suficiente para que sejam aprovados programas de apoios sociais. O Presidente aplaudiu a forma como decorreram as eleições que disse terem sido “livres, limpas, como não acontecia antes”.

Quando chegou ao poder, em 2018, AMLO prometeu a chamada “quarta transformação”, que passaria por uma série de reformas económicas e sociais para mudar o México. A vitória de Obrador veio romper com um domínio de quase um século de dois partidos conservadores: o Partido Revolucionário Institucional (PRI) e o Partido de Acção Nacional (PAN).

Assolados por escândalos de corrupção e incapacidade em gerir a insegurança criada pelo narcotráfico, estes partidos tradicionais foram derrotados em toda a linha em 2018, mas três anos depois começam a dar os primeiros sinais de alguma recuperação. Ambos obtiveram melhores resultados – o PRI passou de 48 para 69 deputados, enquanto o PAN subiu de 77 para 111 – conseguindo evitar a maioria qualificada do Morena e dos seus aliados.

A nível territorial, os resultados parciais indicam vitórias do Morena em 10 dos 15 estados em disputa, embora este número ainda possa subir com o progresso da contagem dos votos, diz o jornal Excelsior. Se o cenário mais favorável se confirmar, o partido governamental passa também a controlar metade dos governos estaduais.

No entanto, a ambição de governar Nuevo León, coração industrial e económico do México, segundo o El País, não foi alcançada. O estado foi vencido pelo candidato do Movimento Cidadão, um pequeno partido de centro-esquerda.

Um dos recados mais sérios para o partido de Obrador foram as várias derrotas nos municípios metropolitanos da Cidade do México, onde perdeu 10 das 16 eleições em disputa para a oposição conservadora.

A campanha eleitoral ficou marcada por uma onda de violência em que foram assassinados 36 candidatos, sobretudo a nível local. Apesar do sentimento de insegurança, as eleições tiveram uma participação de 52%, de acordo com as autoridades eleitorais, algo visto como positivo, sobretudo por estar em causa eleições intercalares, geralmente menos interessantes do que as presidenciais para o eleitorado.

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