Mais um candidato presidencial preso na Nicarágua

Arturo Cruz, ex-embaixador nos Estados Unidos, foi detido no aeroporto poucos dias depois de outra candidata ter sido colocada em prisão domiciliária.

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Arturo Cruz foi preso no aeroporto de Manágua no regresso dos EUA Jorge Torres / EPA

O candidato à presidência da Nicarágua Arturo Cruz foi detido no sábado, poucos dias depois de outra opositora ao regime de Daniel Ortega ter sido colocada em prisão domiciliária.

Cruz, antigo embaixador nos Estados Unidos, foi preso no aeroporto de Manágua à chegada de Washington, de acordo com o relato do seu gabinete à Reuters. O Ministério Público diz que a detenção do político foi baseada numa investigação em que foram encontradas “fortes provas de que atacou a sociedade nicaraguense”, embora não tenha especificado do que se trata.

A prisão de Cruz surge apenas três depois de Cristiana Chamorro, também ela candidata às eleições presidenciais, ter sido indiciada por “lavagem de dinheiro, bens e activos” e colocada em prisão preventiva. As acusações contra Chamorro, filha da antiga Presidente Violeta Chamorro, inviabilizam a sua candidatura e facilitam a reeleição de Ortega para um quarto mandato consecutivo.

O secretário-geral da Organização de Estados Americanos, Luis Almagro, exigiu a libertação de Cruz e disse que as acções das autoridades nicaraguenses são “contrárias a eleições livres e justas”. “É inaceitável a manipulação das forças de segurança e da Justiça para prender candidatos opositores”, afirmou Almagro.

Os EUA também condenaram a detenção do candidato presidencial e, através da subsecretária do Departamento de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Julie Chung, avisou que, “com Ortega, a Nicarágua está a tornar-se um pária internacional”.

O afastamento de mais um candidato opositor revela a abordagem política cada vez mais musculada do regime nicaraguense. Cruz foi detido ao abrigo da “Lei de defesa dos direitos do povo à independência, soberania e autodeterminação”, aprovada no ano passado e que, para muitos observadores, tem a única finalidade de punir os críticos do Governo de Ortega.

É provável que a repressão contra a oposição não fique por aqui. O próximo a ser visado, segundo o El País, é Félix Maradiaga, pré-candidato às eleições que se notabilizou durante os protestos de 2018 e que já foi acusado de “terrorismo” e de ligações ao narcotráfico. Explica o mesmo jornal que a candidatura de Maradiaga pode ser bloqueada porque o político não viveu continuamente na Nicarágua durante os quatro anos anteriores às eleições – teve de se auto-exilar no estrangeiro após as manifestações.

A repressão na Nicarágua tem aumentado desde os protestos de 2018, que representaram o mais sério desafio à governação de Daniel Ortega, no poder desde 2007 – e antes entre 1979 e 1990. Para conter as várias manifestações ao longo daquele ano, foram mortas pelo menos 328 pessoas, de acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

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