Boomerang employee: o que considerar antes de voltar a um antigo emprego

Voltar é responsabilidade dupla. Por um lado, é a responsabilidade natural de começarmos algo novo e, por outro, de provarmos as nossas novas capacidades e crescimento enquanto estivemos fora. É um acto de coragem nosso e um acto de confiança da empresa e é por isso que tem de ser tão bem ponderado.

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Mario Gogh/Unsplash

Boomerang employee”: este é o termo usado para definir um colaborador que decide deixar a empresa onde trabalha e para onde acaba por voltar mais tarde. A minha primeira impressão ao descobrir isto foi: “Se existe um termo é porque é comum”. 

Há um ano voltei à IMBS, de onde saí em 2019 para abraçar um novo desafio profissional. Antes de falar do porquê de voltar, importa falar do porquê de sair. Razões financeiras, experiência, cultura de gestão, falta de vida pessoal — são inúmeros os motivos que podem levar alguém a despedir-se. No meu caso, foi apenas sede por um novo desafio, que me desse mais bagagem na área.

Passado um ano, surgiu a questão: devo voltar? Ao trabalhar em contexto de agência, mesmo que só por um ano, senti que tinha ganhado muita experiência em várias áreas e que, realmente, para além de gostar, era boa naquilo que fazia. No meu dia-a-dia e, ao longo desse ano, pensava muitas vezes no que poderia ter feito na minha antiga função e que não fiz. Não fiz porque não tinha as noções reais do potencial da comunicação e do marketing aplicadas a contexto empresarial, que a licenciatura me deveria ter dado, mas que só consegui aprender “com as mãos na massa”.

Ao ponderar regressar, foram várias as questões que coloquei em cima da mesa.

  1. O que me levou a sair? Esta, obviamente, é a primeira barreira a ultrapassar. Perceber se a razão pela qual quisemos sair ainda existe. A título de exemplo, há algumas questões difíceis de ultrapassar: a cultura empresarial era tóxica? Existia “choque” com a gestão? Se não, e se nos sentimos mais capacitados e vemos potencial de crescimento, podemos partir para a próxima etapa da decisão.
  1. A relação patronal continua intacta? É comum ouvirmos que, caso exista essa possibilidade, devemos deixar sempre a porta aberta quando saímos de qualquer emprego. Isto implica uma clara sinceridade no momento de saída sobre o motivo pelo qual tomámos a decisão. Antes de voltarmos, devemos ter absoluta certeza que não existe qualquer tipo de mau estar ou ressentimento. Quando decidi apresentar a minha carta de rescisão, tive, obviamente, uma conversa aberta com os meus chefes sobre o porquê da minha saída. Apesar de ser sempre um momento difícil, principalmente quando já mantemos uma boa relação, a confiança não pode ser quebrada e, para isso, a abertura entre ambas as partes é essencial.
  1.  Vou voltar ao mesmo posto? É natural que, durante o tempo em que estivemos fora, tenham acontecido mudanças de gestão, de equipa, de local. Apesar de ser terreno conhecido, existe sempre um ponto de partida que temos de tomar como natural. Quem regressa não quer voltar exactamente para onde estava. Mostrar novas capacidades e expor o que podemos trazer de novo à empresa em questão são pontos fundamentais para não “voltar ao mesmo”.
  1. O trabalho vai ser desafiante? Pensar no que vamos fazer no dia-a-dia e se isso nos vai fazer sentir profissionalmente realizados é essencial para não cair em erros. Perceber se temos a oportunidade de fazer a diferença é importante para ambas as partes no momento da decisão. Muitos de nós deixam organizações pois não se sentem concretizados a algum nível. Por vezes, é necessário mudarmos para percebermos o que nos faz falta; no entanto, é importante avaliar objectivamente que tipo de trabalho vamos fazer, para não nos precipitarmos.

Voltar é responsabilidade dupla. Por um lado, é a responsabilidade natural de começarmos algo novo e, por outro, de provarmos as nossas novas capacidades e crescimento enquanto estivemos fora. É um acto de coragem nosso e um acto de confiança da empresa e é por isso que tem de ser tão bem ponderado. 

Costumo dizer que “voltei para onde sou feliz”. Por isso, o meu conselho final é esse: percebam onde, como e a fazer o quê é que vocês são felizes e não tenham medo de ir atrás disso.

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