Benfica-Sporting. No “derby eterno” não haverá vénia ao campeão

Será sob uma nuvem de fair-play versus indiferença que se jogará, neste sábado (18h, BTV), o derby de Lisboa. Jorge Jesus não quer fazer guarda de honra, porque nunca a recebeu, e Rúben Amorim não faz questão de a receber, apesar de crer que, um dia, será prática comum.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

Deve o Benfica fazer uma “guarda de honra” ao Sporting? Há quem diga que não, argumentando que não é prática comum em Portugal – e muito menos entre os três “grandes” –, e quem diga que sim, num exemplo supremo de consideração pelo campeão nacional, sob a lógica de “temos de começar por algum lado”.

Sobre um dos temas mais badalados da semana importa, mais do que a opinião popular, a posição do Benfica. E essa é clara: os “encarnados” não querem venerar o campeão nacional. Congratular, sim. Homenageá-lo na Luz, não.

Será sob esta nuvem de fair-play versus indiferença que se jogará, neste sábado (18h, BTV), o “derby eterno”.

Jorge Jesus, treinador do Benfica, remeteu a decisão para o clube. Ainda assim, mostrou estar de acordo com a posição dos “encarnados”, apelando até ao orgulho e à memória: argumenta que, quando foi campeão, não teve direito a homenagens deste tipo.

“Não é por mim, é pelo que é tradição no futebol português. Já venci três vezes [o campeonato nacional] e ninguém me fez guarda de honra. Isso não é normal. O normal é dar os parabéns, que é aquilo que já fiz”, resumiu o técnico, na antevisão da partida.

Já Rúben Amorim deixou no ar o desejo de que esta seja uma prática no futebol português, mas desvalorizou a posição do Benfica. Para o técnico “leonino”, a falta da vénia não é importante.

“A verdade é que não é tradição fazer a guarda de honra. Poderá vir a ser, mas não é. Dando-nos os parabéns, ficamos satisfeitos. Para nós, não é caso o Benfica não nos fazer a vénia”, apontou. E acrescentou: “É fácil para mim, que sou campeão, mandar palpites sobre se fazia ou não uma guarda de honra. Até porque é difícil para os adeptos entenderem essa situação [guarda de honra]. Não há essa cultura”. “Mas alguém tem de a criar”, finalizou.

O Benfica não quer fazer a guarda de honra e o Sporting não faz questão de a receber, pelo que o assunto fica encerrado.

A honra não é só na guarda

O assunto da guarda de honra só terá tido tanta importância, porque o futebol tem, neste jogo, relevância menor do que é habitual. Mas por falar em honra… é por ela que joga o Sporting.

Com os “leões” já campeões, este derby, que até poderia ter sido o jogo do título, tem relevância reduzida para uma equipa que joga, sobretudo, pela honra: a de terminar o campeonato sem perder um único jogo.

“Não vamos a casa de outro clube de cabelo pintado. Nem vamos lá festejar nada. Vamos lá para jogar a sério e ver coisas, aproveitando todos os minutos para crescer. Temos o objectivo de não perder nenhum jogo nesta temporada”. Para tal, o Sporting tem de evitar a derrota frente a um Benfica cujos objectivos não estão tão “vazios”.

É certo que o segundo lugar do campeonato é difícil, pelos quatro pontos (com seis em disputa) de vantagem do FC Porto, mas continua a ser, matematicamente, um objectivo possível – e, depois da queda frente ao PAOK, no play-off de 2020, bem importante seria ter a fase de grupos da Liga dos Campeões já garantida por via do segundo lugar no campeonato.

Além deste “detalhe europeu”, o Benfica de Jorge Jesus passa por uma fase em que a retórica comunicacional, que aponta para uma equipa forte e em bom nível, raramente tem tido comprovação prática – mesmo nas vitórias, os desempenhos têm sido globalmente cinzentos.

Para Jesus, nada seria melhor do que uma demonstração cabal de força – no resultado e na exibição – frente ao grande rival, até pela confiança que daí adviria para o derradeiro objectivo de conquistar a Taça de Portugal.

Para os “encarnados” há, ainda, o prazer de evitar o tal campeonato imaculado dos “leões” – que Jorge Jesus assumiu como uma motivação real, mas secundária.

Nota final para o árbitro escolhido para este jogo. Tiago Martins, de Lisboa, será o homem do apito, numa escolha que pode fazer prever uma partida com algum contacto permitido aos jogadores.

O juiz de 40 anos é o árbitro da I Liga com menor média de faltas apitadas por jogo (24,84) e corre, a par de Manuel Mota, num “campeonato” diferente dos demais: todos os outros, exceptuando Artur Soares Dias (29,06), já superam as 30 faltas por jogo.

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