Tudo tem a sua origem (causa e efeito): o stress pós-traumático e a depressão

Soube, há uns anos, que sofro de stress pós-traumático. Estava tudo lá, simplesmente nunca quis saber. Culpei-me, anos a fio, por situações sobre as quais não tinha o mínimo controlo.

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Há dias, quando escrevia sobre depressão e ansiedade, com tudo o que isso tem (ainda) de tabu e de delicado, não me debrucei propriamente sobre o início. A pressa do nosso quotidiano faz-nos procurar bálsamos, soluções rápidas para os efeitos, julgando-os, sem dedicar especial tempo às causas.

A propósito, escrevia que é fácil chamar ignorantes às pessoas, o difícil é fazer por perceber a razão pela qual elas o são. É transversal a todos os assuntos: a origem/causa é fulcral para o entendimento de um determinado fenómeno.

Soube, há uns anos, que sofro de stress pós-traumático. Estava tudo lá, simplesmente nunca quis saber (também porque, durante muito tempo, não o sabia, efectivamente). Culpei-me, anos a fio, por situações sobre as quais não tinha o mínimo controlo. O transtorno de stress pós-traumático, a que alguns chamam ou chamarão “mais uma doença da moda”, explica-se através de reacções disfuncionais muito ou moderadamente intensas e desagradáveis, que têm início, ou que se manifestam, após a ocorrência de um evento traumático.

A pessoa afectada, por algum impulso exterior ou interior, poderá reviver esse evento, experienciando dor e ansiedade, transportando o momento passado para o momento presente que está a viver. Muitas pessoas são afectadas de tal maneira que ficam marcadas para a vida, ocasionando efeitos persistentes e graves, debilitando-as. Há três sentimentos na linha da frente deste transtorno: medo, impotência ou terror.

É possível que a pessoa tenha vivenciado um único evento traumático ou, como ocorre com frequência, vários eventos traumáticos: eu entro para a estatística da segunda possibilidade. Ainda não se sabe por que razão um dado evento traumático pode causar TSPT vitalício a algumas pessoas, mas não causar absolutamente nada a outras. O TSPT não desaparece totalmente, mas geralmente fica menos intenso com o passar do tempo. No entanto, algumas pessoas ficam (gravemente) incapacitadas/incomodadas/incapazes de agir. Eu penso que fico a meio caminho entre ambas.

Sintomas? A situação visita-nos a qualquer momento, bastando para isso um qualquer gatilho que nos remeta para lá; efeitos negativos sobre os pensamentos (uma mistura de ansiedade com sofrer por antecipação com tensão, alerta, atitude defensiva) e o humor; reacções desconexas e tidas como estranhas; experienciar raiva por não se conseguir reverter a situação. Há ainda, dentro do TSPT, a questão da personalidade esquiva: quando a pessoa evita, de forma persistente, actividades, situações ou pessoas que possam recordá-la do trauma (e que funcionam como um gatilho). Sou uma dessas pessoas (embora, nos tempo que correm, esteja muito melhor).

É comum as pessoas não se conseguirem lembrar de partes do evento traumático, a chamada amnésia dissociativa. No meu caso, tentei reprimir (algo que não é, a médio ou longo prazo, possível) as memórias, durante anos, com os riscos inerentes, como o entorpecimento emocional, a dificuldade de concentração e, até, problemas em adormecer. Nota: o sentimento de culpa é muito frequente.

Algumas pessoas acabam por desenvolver alguns rituais tendo por finalidade, crê-se, aliviar a ansiedade: roer as unhas, arrancar cabelos, ranger os dentes, morder as mãos (já fiz todos!). Tudo isto, ou retalhos disto, ou pequenos farrapos disto, poderão desembocar numa depressão. É quase certo que o faça. Muita gente sofre de depressão e não sabe.

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