Prevê-se mais uma corrida dura para Miguel Oliveira no Qatar. Porquê?

Na segunda prova do Mundial, a KTM não espera um resultado fulgurante. Melhorias significativas, talvez no Algarve.

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Miguel Oliveira em Losail DR

Há poucas pistas no mundo que a KTM mais desdenhe do que a de Losail, no Qatar. Azar dos Távoras, esta é a pista que recebe não uma, mas duas corridas de MotoGP - ambas no arranque da temporada.

Na primeira, há uma semana, a melhor KTM, a do português Miguel Oliveira, ficou no 13.º lugar. Na segunda, marcada para amanhã, nem o mais optimista fã da marca austríaca esperará um resultado fulgurante - pódios e vitórias terão, em tese, de ficar para mais tarde, até porque estas motos nunca ficaram acima do 12.º lugar na corrida qatarense.

O próprio piloto de Almada, que já mais do que uma vez se lançou na corrida ao título, é comedido quando se trata de falar em competir no Qatar. “O objectivo para esta ronda é fazer melhor, claro, e tentar acabar umas posições mais acima. Como vamos consegui-lo é que é um bocado mais matreiro”, explicou.

Mas por que motivo esta pista motiva tanta modéstia nas KTM? A resposta tem várias camadas, mas gira em torno de dois factores-base: falta de pontos de travagem e pneus inadequados.

A KTM é conhecida por ser uma moto que faz a diferença em travagens fortes - ao contrário, por exemplo, das mais velozes Ducati, fãs de longas rectas. O circuito de Losail é, porém, parco em travagens fortes. É uma pista que requer suavidade nos travões, com mais desacelerações do que travagens a fundo.

Mas há mais. Para travagens bruscas, a moto requer um pneu dianteiro mais forte, pela estabilidade - é por isso que a KTM gosta de usar os compostos mais duros na dianteira. O problema é que os pneus mais duros, ideais para esta moto, não são boas apostas em Losail: pelo tipo de viragens e pelas temperaturas.

A corrida no Qatar é feita à noite, quando o tempo e a pista estão mais frescos, pelo que esta temperatura mais amena prejudica o tal composto duro, sempre mais eficaz em ambientes e asfaltos quentes.

Aqui entra uma outra camada de análise, que é a gama de pneus que a Michelin disponibiliza para cada prova. Nenhuma moto consegue ser eficaz em Losail com o composto médio desenvolvido pela fornecedora de pneus, pelo que a KTM é forçada a usar em corrida um pneu macio (mais aderente, mas de maior desgaste) com o qual não se sente confortável.

“Não é uma escolha livre. Usamos esse pneu porque não conseguimos usar outro”, apontou Oliveira, antes da primeira corrida, criticando a ausência de um composto um pouco mais duro que tenha bom desempenho nesta moto. “Usámos um pneu duro nos testes, quando estava quente, e fomos competitivos. Deveríamos ter mais opções de pneus, até porque passámos meses a desenvolver a moto para um pneu e, depois, temo-lo removido das opções para a corrida”, lamentou.

No meio desta encruzilhada entre o tipo de circuito, as virtudes (inutilizadas) da KTM, as temperaturas e a gama de pneus disponível, Miguel Oliveira e os restantes pilotos da marca austríaca viverão, previsivelmente, mais um fim-de-semana duro no Médio Oriente.

Ainda assim, nem tudo é mau. As duas corridas no Qatar surgem no arranque da temporada e, a ter de passar dificuldades em Losail, a KTM preferirá, em tese, passá-las agora e não daqui a umas semanas, quando os resultados e a moto estiverem em velocidade de cruzeiro nas mais convenientes pistas da Europa. A primeira é já a 18 de Abril, no Algarve, onde Oliveira venceu em 2020.
 

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