Suspeito de ataque contra salões de massagens asiáticos pode enfrentar pena de morte

Debate sobre as motivações do atirador continua centrado nos crimes de ódio contra a comunidade ásio-americana. Porta-voz da polícia, que destacou suposta “dependência de sexo” por parte do atirador, publicou mensagem anti-China nas redes sociais.

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Robert Aaron Long, de 21 anos, é acusado de matar oito pessoas, entre as quais seis mulheres asiáticas SHANNON STAPLETON/Reuters

Robert Aaron Long, o principal suspeito dos tiroteios em três salões de massagens no estado norte-americano da Georgia, na terça-feira, foi acusado formalmente de oito homicídios e pode vir a ser condenado à pena de morte.

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Robert Aaron Long, o principal suspeito dos tiroteios em três salões de massagens no estado norte-americano da Georgia, na terça-feira, foi acusado formalmente de oito homicídios e pode vir a ser condenado à pena de morte.

Segundo a polícia, o homem de 21 anos disse que é dependente de sexo e afirma que foi motivado por uma vontade de “eliminar a tentação”. Mas o facto de seis das vítimas serem mulheres asiáticas deixou a comunidade ásio-americana dos EUA em estado de choque.

No último ano, as queixas de crimes de ódio no país contra cidadãos de origem ou ascendência asiática subiram de uma média anual inferior a 200 para quase 4000 – um facto que as vítimas e as associações de defesa dos direitos civis atribuem, em parte, à teoria da conspiração de que a pandemia de covid-19 foi criada de propósito pelo Governo chinês.

Em particular, os representantes da comunidade ásio-americana nos EUA acusam o ex-Presidente Donald Trump de fomentar e legitimar os ataques do último ano, ao insistir em referir-se ao vírus SARS-Cov-2 como o “vírus chinês”.

Na terça-feira, pouco antes de as notícias dos tiroteios na Georgia terem começado a dominar a atenção do país, Trump voltou a referir-se ao SARS-CoV-2 como o “vírus da China” numa entrevista ao canal Fox News.

“Nós pusemos a economia num patamar que o mundo nunca tinha visto”, disse o ex-Presidente dos EUA. “Éramos a inveja do mundo quando fomos atingidos pela covid – ‘o vírus da China’, como eu lhe chamo –, e depois disso fomos abaixo como qualquer outra economia.”

Arma legal

Segundo a polícia do condado de Cherokee (o local do primeiro dos três ataques de terça-feira, 70 quilómetros a norte de Atlanta), o atacante conduziu uma carrinha ao longo da estrada que liga a sua área de residência à capital do estado da Georgia e parou em três salões de massagens.

No primeiro, matou quatro pessoas com uma pistola de 9mm que tinha comprado no mesmo dia de forma legal, segundo o vendedor. Mais à frente, à entrada de Atlanta, matou mais quatro pessoas em outros dois salões de massagens, localizados em lados opostos da estrada.

Das oito vítimas, sete eram mulheres – seis funcionárias asiáticas dos salões de massagens e uma cliente branca. No local do primeiro ataque foi também morto um homem branco, no interior do salão, e um hispânico foi atacado quando saía de uma loja contígua, ficando ferido com gravidade.

O consulado da Coreia do Sul em Atlanta anunciou, na quarta-feira, que quatro das mulheres mortas são de origem coreana, mas ainda não foram reveladas as nacionalidades de todas as vítimas.

Morte ou prisão perpétua

Na quarta-feira, Robert Aaron Long foi formalmente acusado de oito crimes de homicídio premeditado e um crime de ofensa à integridade física grave e vai ter esta quinta-feira a primeira audiência judicial.

A Georgia é um dos estados norte-americanos onde se aplica a pena de morte, por injecção letal. Se vier a ser condenado por homicídio premeditado, Long pode ser condenado à morte (se, entretanto, o Ministério Público local pedir essa condenação, o que ainda não foi confirmado).

Ao contrário do que acontece em outros estados norte-americanos, se o júri do julgamento na Georgia não aprovar por unanimidade a condenação à morte, Robert Aaron Long não terá direito a um novo julgamento – em vez disso, será automaticamente condenado a uma pena de prisão perpétua, com ou sem possibilidade de sair em liberdade condicional.

Após o ataque de terça-feira, várias personalidades e empresas de todos os sectores da sociedade norte-americana juntaram-se a uma campanha de condenação do ódio contra asiáticos nos EUA.

“O racismo contra os asiáticos mata. É real. E está a crescer e a ficar mais forte”, disse Andrew Yang, ex-candidato às eleições primárias no Partido Democrata para a Casa Branca e actual candidato à câmara de Nova Iorque.

Nascido nos EUA e filho de imigrantes de Taiwan, Yang disse que não tem dúvidas sobre as motivações do atacante. “Como ásio-americano, o que eu sinto é exactamente aquilo que aconteceu: mulheres asiáticas foram o alvo de um crime de ódio devastador, trágico e sem sentido.”

Mensagem anti-China

Na quarta-feira, o porta-voz do gabinete do xerife do condado de Cherokee, Jay Baker, recentrou o debate em torno das motivações do atacante, ao dizer, numa conferência de imprensa, que Robert Aaron Long é “dependente de sexo” e “queria eliminar a tentação” dos salões de massagens. 

As declarações de Baker estão a ser muito criticadas pelas organizações de defesa dos direitos civis, que o acusam de tentar encontrar atenuantes para um ataque que teve como alvo principal mulheres asiáticas. E sublinham que não é habitual ouvir-se a polícia a fazer comentários sobre as conversas com suspeitos quando os atacantes não são brancos.

“Ele fartou-se e estava mesmo a chegar ao limite”, disse o capitão Jay Baker na quarta-feira. “Ontem teve um dia mau e acabou por fazer isto.”

Na noite de quarta-feira, começou a ser partilhada uma mensagem que Baker publicou no Facebook, no dia 17 de Março de 2020, em que o porta-voz da polícia do condado de Cherokee mostrou concordar com a acusação de que a pandemia de covid-19 foi provocada pela China.

“Adoro a minha t-shirt! Aproveitem enquanto não se esgotam”, disse Baker, a acompanhar a fotografia de t-shirts com a inscrição “Covid 19, vírus importado da ‘Chy-na’”.