Covid-19. Variante britânica constitui 65% dos novos casos em Portugal

As variantes de Manaus (Brasil) e África do Sul somaram novos casos em Fevereiro. Foram encontrados oito novos casos da variante sul-africana e quatro novos casos da variante brasileira. “Todos foram reportados de imediato à DGS”, garante o investigador. Neste momento estão controladas sendo que “a maior parte dos casos já tiveram alta”.

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Daniel Rocha

A variante do coronavírus identificada primeiramente no Reino Unido constitui cerca de 65% dos novos casos detectados em Portugal até à semana passada – três semanas depois das previsões dos especialistas. Um “bom” resultado das medidas de confinamento, disse o investigador do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) João Paulo Gomes, na reunião que juntou peritos e políticos no Infarmed, esta segunda-feira.

Numa actualização sobre as variantes genéticas actualmente presentes em Portugal, o investigador do INSA deu conta que esta estirpe tem uma menor representação em Portugal do que em alguns países europeus, como o Reino Unido e a Irlanda (onde esta variante constitui 90% dos casos detectados) ou mesmo a Dinamarca (com 80% na semana passada).

As variantes de Manaus (Brasil) e África do Sul somaram novos casos em Fevereiro. Foram encontrados oito novos casos da variante sul-africana (que já soma 12 casos no total) e quatro novos casos da variante brasileira (com 11 casos no total). “Todos foram reportados de imediato à DGS”, garante o investigador. Neste momento, esses casos estão controlados sendo que “a maior parte dos casos já tiveram alta”.

Ao longo deste mês, a rede nacional de laboratórios analisou 1100 amostras, provenientes de 17 dos 18 distritos (“uma representatividade geográfica robusta”, de acordo com João Paulo Gomes). Analisando os dados desde Novembro até Fevereiro, conclui-se que a estirpe que surgiu em Espanha e se espalhou por toda a Europa em Novembro (que, nesse mês, constituía 90% dos casos encontrados em Portugal) “está a perder terreno devido à variante do Reino Unido”, que está a provocar a maioria dos casos em Fevereiro.

O especialista alerta ainda para a necessidade de monitorizar a variante L452R, mutação que partilha algumas características com a variante da Califórnia, e que “decresceu um pouco, mas está em 40 concelhos no país”.

Atenção aos países com menor vigilância das variantes

João Paulo Gomes apresentou ainda algumas reflexões sobre a testagem em massa — e os testes rápidos, que não detectam as variantes e que irão complicar a monitorização — e sobre o desconfinamento. “Não existe uma saúde dos portugueses isolada da Europa e do resto do mundo”, afirma.

Dando o exemplo da entrada de novos casos em território português no início da pandemia, no ano passado, o especialista indica que um grupo de apenas “três ou quatro pessoas” foi o causador de mais de 4000 casos em território nacional, concentrados na região Norte e Centro. Na primeira vaga do país, quatro países foram os “principais causadores” dos casos em Portugal: Reino Unido, Espanha, França e Itália. 

“Isto vai voltar a acontecer. Estamos todos a desconfinar. Estas variantes continuam a circular e novas variantes virão, potencialmente tão ou mais gravosas do que as que” já existem, afirma. As mutações “estarão melhor adaptadas para lidar com o nosso sistema imunitário” e as autoridades devem ter “atenção redobrada” para com países “com menor vigilância de variantes”, afirma.

Como sugestão, o especialista aponta a necessidade de agir ao nível dos concelhos, tal como aconteceu durante a primeira vaga, em Março de 2020, com a cerca sanitária a Ovar, “sob pena de se disseminar para o país inteiro”.

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