Níveis muito “alarmantes” de desmotivação e ansiedade preocupam estudantes

Congelar a matrícula ou desistir do curso já passou pela cabeça de quase metade (43,8%) dos 483 inquiridos pela associação de estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade NOVA de Lisboa. O ensino está a ser “catalogado como não prioritário”, alertam.

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Thomas Ulrich/Pixabay

Mais psicólogos na faculdade, pedem os universitários que responderam ao inquérito online da associação de estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade NOVA de Lisboa (AEFCSH), que considera “essencial e premente o retorno às actividades lectivas presenciais”. “Esta é uma situação que não defende os interesses dos estudantes, tão pouco deve ser banalizada como ferramenta a recorrer de imediato em situações de agravamento da pandemia ou com qualquer outro pretexto, pelo seu carácter intrusivo no espaço individual de cada um, e pelo seu potencial em agudizar desigualdades socioeconómicas”, defendem.

Durante mais um confinamento, congelar a matrícula ou mesmo desistir do curso já passou pela cabeça de quase metade dos 483 inquiridos, quer por dificuldades económicas, quer por problemas em aceder às aulas e conteúdos ou adaptar-se ao ensino online. A maioria deles não se sente apoiada pela faculdade num momento em que quase todos sentem a sua saúde mental a deteriorar-se (89,9%). 

A associação, que partilhou as respostas com o P3, pinta um anfiteatro cheio de estudantes desmotivados (85,3%), ansiosos (72%) e com perturbações de sono (56,3%). “Muitos estudantes dizem ainda estar a sentir sintomas de depressão, cansaço e fadiga relacionados com as horas passadas em frente ao computador, e agravamento de situações psiquiátricas previamente já diagnosticadas, bem como situações ainda mais graves”, dizem, em comunicado.

O inquérito da AEFCSH esteve disponível entre 16 de Fevereiro e 2 de Março de 2021. A maioria dos estudantes que respondeu está a licenciar-se (82,2%) e uma pequena parte está a tirar o grau de mestre (15,5%) ou a doutorar-se (2,3%). Destes, 41 estudantes estão a tentar escrever a tese durante uma pandemia — e 70,7% dizem que o confinamento está a dificultar a tarefa. 

​Quando lhes pedem para avaliar de 1 a 5 a adaptação ao ensino à distância, 41,6% dão nota 3, enquanto 42.3% se dividem entre o 4 e o 5. As dificuldades técnicas (60%), falhas de comunicação (50,1%), problemas com a adaptação dos docentes (41,2%), dificuldades em aceder à bibliografia e a pausa nas aulas práticas são as principais desilusões apontadas à mudança que querem temporária. 

Noutra cidade, durante o confinamento, sete em cada dez estudantes da Universidade de Coimbra (UC) pensaram, pelo menos uma vez, em abandonar o ensino superior, mostrava um estudo promovido pela Associação Académica de Coimbra (AAC), em Fevereiro. Quarenta por cento dos estudantes da UC disseram que pensaram “muitas vezes” ou “sempre” em abandonar os estudos, principalmente os que são naturais de regiões do interior do país.

Pagar residência enquanto estão em casa

Em Lisboa, a associação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas​ encontra um significado no número quase insignificativo de inquiridos alojados em residências e a receber apoios sociais. “Por um lado, o facto de muito poucos estudantes estarem alojados nas residências vem comprovar a insuficiência do actual número de camas, traduzindo-se na sujeição de um elevadíssimo número de estudantes à especulação imobiliária”, dizem. 

Depois, “quase todos evidenciam descontentamento face à manutenção dos pagamentos após terem regressado às suas terras de origem”, “situação que vem perverter o próprio conceito de Acção Social”, alertam os estudantes que vão entregar os resultados do inquérito à direcção da faculdade e aos serviços de acção social.

Também em número muito reduzido, “mas existente”, há dez estudantes sem computador e quatro sem acesso a Internet. Para a AEFCSH, as respostas “extremamente alarmantes” afirmam “a urgência em promover um investimento estrutural no ensino superior”, que, defendem, são o “reflexo de décadas de desinvestimento no ensino superior largamente agravadas pelas especificidades do actual contexto pandémico”. “Defendemos um ensino que sirva para desenvolver o país e que não seja catalogado como não prioritário, com consequências extremamente graves para o futuro”, concluem.

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