Podem parar a guerra só por um bocadinho?

O meu pai não foi à guerra. Ainda o ano de 1961 estava longe de figurar no calendário, quando, antecipando o pior como Cassandra, se decidiu por tomar ares além-fronteiras. Com mais três companheiros de aventura, tomou ares e um carro de praça que o levou de Olhão (terra natal) até Hamburgo, na Alemanha. Lá chegados, um dos desertores avant la lettre, morto já de saudades do cheiro nauseabundo da maresia olhanense e da família, não aguentou e voltou para trás no mesmo táxi. Tinham passado por Paris. Na cidade das Luzes — “uma punhalada no coração”, chamou-lhe o americano Jack Kerouac — haviam testemunhado um remake de O Beijo do Hotel de Ville do fotógrafo Robert Doisneau, poucas-vergonhas impossíveis de presenciar na pátria amada, solo benzido onde a defesa das públicas virtudes era levada muito a sério, descontados, naturalmente, os vícios privados da burguesia (para mais interditos e absurdos para além de beijos na boca, cf. Proibido, António Costa Santos, Editora Guerra & Paz).

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