Distantes de nós, tão perto de nós

Sonho? Realidade? É um podcast. Chama-se Renegades: Born in the USA. Não passa de uma conversa entre dois homens. Que digo eu? Não passa?! É muito mais do que isso.

Foto
DR

Estranhos. Longos. Tão estranhos e tão longos. De tão estranhos e de tão longos, parecem ser apenas um. Dia. Sempre o mesmo. Como se não tivesse princípio ou fim. Como se cada um de nós fosse Bill Murray preso num qualquer feitiço do tempo. Sem marmota. Sem a festa fresca, fria, frívola, do Groundhog Day. Sem o encanto doce dessa Andie MacDowell de 1993. Aqui estamos. Em dias cinzentos, como na canção dos Xutos, mesmo quando são de sol. Mas então, de súbito, algo irrompe por entre a desolação e o desconsolo, a depressão e o irreprimível sentimento de perda de vermos, ao longe e por vezes tão perto que arrepia, perderem-se vidas que são sempre preciosas. Algo que nos toca no mais profundo do nosso ser, nos devolve o humanismo, coloca a solidariedade no lugar que merece — o coração de todos — e nos leva a pensar que, afinal, não somos assim tão diferentes se nos concentramos no bem comum.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Estranhos. Longos. Tão estranhos e tão longos. De tão estranhos e de tão longos, parecem ser apenas um. Dia. Sempre o mesmo. Como se não tivesse princípio ou fim. Como se cada um de nós fosse Bill Murray preso num qualquer feitiço do tempo. Sem marmota. Sem a festa fresca, fria, frívola, do Groundhog Day. Sem o encanto doce dessa Andie MacDowell de 1993. Aqui estamos. Em dias cinzentos, como na canção dos Xutos, mesmo quando são de sol. Mas então, de súbito, algo irrompe por entre a desolação e o desconsolo, a depressão e o irreprimível sentimento de perda de vermos, ao longe e por vezes tão perto que arrepia, perderem-se vidas que são sempre preciosas. Algo que nos toca no mais profundo do nosso ser, nos devolve o humanismo, coloca a solidariedade no lugar que merece — o coração de todos — e nos leva a pensar que, afinal, não somos assim tão diferentes se nos concentramos no bem comum.

Podemos sentir-nos mais próximos de pessoas que não conhecemos? Que são nossos vizinhos, moramos frente a frente, à excepção de a rua não se fazer de asfalto, mas das águas irrequietas de um oceano? Que vivem a milhares de quilómetros? Num país que é tantas vezes maior e, umas vezes, melhor (outras nem por isso), do que este pequeno espaço que partilhamos? Seremos capazes de acreditar mais nessas pessoas do que em quem, todos os dias, nos aparece em diferentes espaços, com diferentes promessas e diferentes tons de voz e de vós, deixando diferentes respostas que acabam por ter o mesmo desfecho adiado, ilusório, falhado? Talvez as vossas respostas sejam diferentes da minha, mas eu respondo sim a todos os pontos de interrogação que para trás ficaram.

Springsteen e Obama. Freehold, New Jersey e Honolulu, Hawai. Um universo de diferenças? Sem dúvida. Mas também tantas afinidades. A família, a infância, os primeiros passos, a juventude; os ambientes, os amigos, as namoradas, os erros, as vitórias e as derrotas, virtudes e defeitos; a inteligência e a ignorância à volta, o pesadelo do racismo e o espírito ambicioso do sonho americano na mesma sociedade; o respeito pelo próximo, pelo valor do trabalho, a mesma luta, com diferentes meios e a demorar mais ou menos tempo, por um país mais justo, menos desigual, mais equilibrado. Vozes que acabam por ecoar em todo o mundo.

Como podem ser tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão próximos naquilo que confessam: o sentimento de se estar a mais e de tudo se fazer para não se ser apenas mais um; a timidez que, afinal, o que quer mesmo é gritar, por muito estranho que pareça; a humildade que só ganha sentido porque começa por se alimentar do ego e só é verdadeira por deste se distanciar, do pedestal imaginário descendo para manter os pés sobre a poeira do chão. E, nesse esforço de não desperdiçar oportunidades na “land of the free”, na “home of the brave”, chegar ao triunfo. Suado, com preços a pagar, mágoas e perdas, desesperos e desilusões, mas também risos e ganhos.

Sonho? Realidade? É um podcast. Chama-se Renegades: Born in the USA. Não passa de uma conversa entre dois homens. Que digo eu? Não passa?! É muito mais do que isso. Cada qual ao seu jeito, no seu estilo, com os seus truques e trunfos, capazes de enfeitiçar multidões como se fizessem crer a cada uma daquelas pessoas anónimas que é para ela e só para ela que se canta ou fala. Nunca é assim, como sabemos todos. E, no entanto, cada um de nós acredita. E escuta como se prepara o futuro revisitando o passado sem perder de vista o presente. Podemos dizer o mesmo aqui quando, cheios de vazios consensos e de diplomas que só parecem cromos repetidos, se nos dirigem Dupond e Dupont de fato e gravata? Distantes de nós, tão perto de nós: Bruce e Barack.