Covid-19 e Polónia provocam queda de 39,4% dos lucros do BCP em 2020

Banco lucra 183 milhões de euros num exercício penalizado pela subida acentuada das imparidades para acomodar os efeitos da covid-19 e o impacto negativo do risco associação aos créditos concedidos na Polónia.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O Millennium bcp fechou 2020 com um resultado líquido de 183 milhões de euros, um valor que representa uma quebra de 39,4% face aos 302 milhões do ano anterior.

Em comunicado enviado ao mercado, esta quinta-feira, o banco liderado por Miguel Maya sublinha que “esta evolução encontra-se fortemente condicionada pelos impactos decorrentes da pandemia provocada pela covid-19”, que se traduzem em “imparidades adicionais para risco de crédito, na necessidade de reavaliação dos fundos de reestruturação empresarial e na redução dos proveitos gerados pelas comissões relacionadas com a actividade bancária”.

Para além deste efeito, a instituição justifica ainda a queda dos resultados com “o reforço da provisão extraordinária constituída pela subsidiária polaca para fazer face ao risco legal associado aos créditos hipotecários concedidos em moeda estrangeira, que ascendeu a 151,9 milhões de euros em 2020 (51,9 milhões de euros em 2019)”.

No total, o nível de imparidades e provisões de crédito ascendeu a 841,2 milhões de euros no último ano, sendo que destas “as dotações para imparidade do crédito (líquidas de recuperações) fixaram-se em 509,9 milhões de euros em 2020, situando-se num patamar superior aos 390,2 milhões de euros reconhecidos no ano anterior”. Um montante directamente relacionado com os efeitos económicos da pandemia, “na medida em que os riscos que lhe estão associados levaram à necessidade de reforço das imparidades para a carteira de crédito”, resumiu o banco em comunicado.

Excluindo este efeito, o “resultado core [estratégico] consolidado do Millennium bcp evoluiu favoravelmente, ao situar-se 2,8% acima dos 1085,9 milhões de euros apurados em 2019, totalizando 1116,5 milhões de euros”. Uma consequência do crescimento de 5,9% para 636,6 milhões de euros em Portugal, que mais que compensou a ligeira quebra sentida na actividade internacional para 479,8 milhões, “condicionado pela desvalorização cambial do metical face ao euro, que penalizou, em grande parte, o contributo da operação em Moçambique”. Em sinal contrário esteve o desempenho positivo do mercado polaco, que continua a beneficiar da compra do Euro Bank em Maio de 2019.

Em Portugal, para além dos impactos negativos das provisões de crédito provocadas pela covid-19, a margem financeira cresceu 2,1% para os 805,4 milhões de euros, com o banco a continuar a beneficiar dos baixos custos de financiamento graças à intervenção do Banco Central Europeu no mercado.

A atenuar este efeito positivo esteve “o desempenho da carteira de dívida pública portuguesa, na medida em que a redução do investimento em títulos emitidos pelo Tesouro Português, no último trimestre de 2019, por via das alienações efectuadas, penalizou a margem financeira do ano corrente, não tendo os novos títulos adquiridos este ano sido suficientes para compensar a perda de rendimento verificada, devido às menores taxas de remuneração implícitas”.

Nas comissões cobradas em Portugal, o seu valor total desceu 0,3% para os 481,5 milhões de euros, suportado pelas comissões relacionadas com os mercados que, ainda assim, não compensaram a descida de 423 milhões para 405,7 milhões de euros, verificada nas comissões do negócio bancário na sequência do impacto da pandemia. Um efeito da menor actividade com cartões e transferências, em particular. 

Os custos com o pessoal em Portugal registaram uma redução de 2,0% para 364,0 milhões de euros em 2020. “Estes montantes não incluem os itens específicos que ascenderam a 31,6 milhões de euros em 2020 e a 40,1 milhões de euros em 2019, relacionados, em ambos os anos, com custos de reestruturação e com custos com a compensação pelo ajuste temporário dos salários”, explica o banco, que conclui que “a evolução favorável dos custos com o pessoal, na actividade em Portugal, encontra-se influenciada pela redução do número de colaboradores que, em termos líquidos, passou de 7204 colaboradores no final de Dezembro de 2019, para 7013 colaboradores em 31 de Dezembro de 2020, pese embora se tenha assistido, durante o último ano, à contratação de novos colaboradores, sobretudo com competências para reforçar as áreas digitais”.

No crédito, a carteira cresceu 4,8% em Portugal para 38.473 milhões de euros no final do ano, um crescimento que “reflecte em grande parte o crédito concedido ao abrigo das linhas de crédito lançadas pelo Governo para fazer face aos impactos provocados pela pandemia associada à covid-19”.

No que diz respeito à solidez do banco, os rácios de referência mantiveram-se estáveis e acima dos mínimos exigidos pelas autoridades.

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