Cartas ao director

João Miguel Tavares e Rui Tavares

O meu apelo vai em sentido contrário ao do leitor António Monteiro Fernandes (cartas da edição de ontem). Por favor, não tirem nem o João Miguel Tavares nem o Rui Tavares. Até podem mudá-los de sítio, mas não os tirem do jornal. Embora haja mais alguns, são dos poucos que levantam questões de interesse, as que deviam ser persistente e continuamente debatidas para ver se o Governo começa a fazer o que dele se espera. Do que nós precisamos é de gente que não se conforme com esta apagada e vil tristeza que politicamente nos consome e exaspera. 

João Boavida, Coimbra

(Ir)responsabilidade política

No dia 14 de Janeiro, com mais de dez mil casos diários de covid-19 confirmados e o número de mortos a subir assustadoramente, o gabinete do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior enviou uma recomendação às instituições científicas e de ensino superior no sentido de continuarem a garantir as actividades lectivas e não lectivas em regime presencial. Passados cinco dias, o primeiro-ministro declarou assumir plena responsabilidade pelo alívio das medidas de restrição no período natalício, mas teimou em manter todas as escolas abertas. Após um tão clamoroso falhanço pessoal e político, que transformou Portugal no pior país do mundo em termos de covid-19, com que cara o nosso primeiro-ministro e alguns dos seus ministros aparecem nas reuniões da presidência rotativa do Conselho da União Europeia? Triste sorte a nossa, a de ter de escolher, sempre, entre “os menos maus”.

Pedro C. Pereira, Ferragudo

Uma fronteira que não devia encerrar

Há, oficialmente, desde 31 de Janeiro, oito postos fronteiriços “maiores” entre Portugal e Espanha, abertos 24 horas ao dia, onde passou a haver controlo de fronteiras. Basta consultar a lista. Existem ainda algumas fronteiras “menores” (se é que esta expressão se adequa), como tal assinalados em mapas, só abertas parcialmente, em dias de semana. De certa forma, têm valor local. Algumas outras passagens menores, muito localizadas, constituídas quase só por caminhos, que estão sob a alçada da lei. 

Mas há um ponto que, sendo de passagem, não é fronteira nem consta dos ditos postos “maiores” ou menores, mas sempre oficiais. Trata-se da Ponte da Ajuda, sobre o Guadiana, entre Elvas e Olivença. Para Portugal, ponto de passagem entre municípios. Para Espanha, fronteira internacional. Na primeira fase da pandemia, blocos de betão cortaram-na.

Mas, como se sabe, Portugal não reconhece Olivença como legalmente parte de Espanha, ao ponto de conceder a nacionalidade portuguesa aos oliventinos (em poucos anos, quase mil oliventinos adquiriram essa nacionalidade, tendo já votado nas últimas eleições legislativas), e daí a omissão desta ponte em qualquer lista.

Tendo-se agora de novo interditado o trânsito na ponte, colocaram-se outra vez blocos de betão, embora só no segundo dia da interdição. O que não estará correcto. Relembre-se: a Ponte da Ajuda não pode estar cortada, porque não é posto fronteiriço, mas sim uma ponte legalmente parte do território português. Uma ponte “interna”, portanto. Apenas pode ser abrangida na proibição de circulação entre concelhos ao fim-de-semana. Até se poderia admitir, todavia, que o principal, neste momento, é tomar medidas para combater a propagação da pandemia. Fechem-se os olhos a este aspecto, discretamente.

Numa reportagem no Diário do Sul de 10 de Fevereiro, fizeram-se ouvir protestos de locais. Assim, Joaquin Fuentes, que dirigiu a extinta Associação Além Guadiana, mostrou o seu descontentamento “face ao actual estado de coisas. Há aqui trabalhadores transfronteiriços com empregos em Elvas e noutras povoações portuguesas”, afirmou, acrescentando “que há empresas que exportam para Portugal e que têm a ‘sua passagem lógica’ pela Ponte da Ajuda. Não se entende que ali não tenham feito excepção nenhuma para que as pessoas possam circular em alguns períodos do dia, como acontece noutros lados”, alertando que se está a prejudicar “populações de concelhos que têm relações fortes, tanto profissionais como de amizade; os oliventinos (...) fazem ouvir o seu descontentamento, numa altura em que vários habitantes trabalham em Elvas e noutros concelhos vizinhos.” Trabalhadores e empresários transfronteiriços, esses, queixam-se no artigo dos transtornos causados pela distância excessiva que têm de percorrer.

Apela-se aos jornalistas, que são pessoas atentas, no sentido de chamar a atenção para esta incoerência. Que, afinal, afecta cerca de mil portadores de Cartão de Cidadão português...

Frederico Lobo Gama​, Estremoz

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