Vereador da Protecção Civil e directora de Higiene Urbana de Lisboa foram vacinados com as sobras dos lares

As 126 doses que sobraram da administração de vacinas nos lares de Lisboa foram dadas a elementos da câmara municipal, da Polícia Municipal e do Regimento de Sapadores Bombeiros. Câmara diz que os dois responsáveis receberam vacina porque estão na “linha da frente” da operação de vacinação.

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Daniel Rocha

O vereador da Protecção Civil da Câmara de Lisboa, a directora do departamento de Higiene Urbana, assim como elementos da Polícia Municipal e do Regimento de Sapadores Bombeiros foram vacinados com as sobras das vacinas que estavam destinadas aos lares de Lisboa, confirmou o PÚBLICO junto de fonte oficial do município. A informação foi avançada esta quinta-feira pela revista Sábado, mas o próprio município já tinha revelado esta informação à agência Lusa num balanço sobre a vacinação nas estruturas residenciais para idosos e portadores de deficiência no passado dia 9.

Segundo explica o município, da primeira toma da vacina sobraram 126 doses, uma média de 18 por dia, uma vez que “há circunstâncias só conhecidas ao longo do próprio dia de vacinação que impedem a vacinação da pessoa prevista”, como por exemplo a existência de “novos casos positivos (individuais ou surtos), doença, tratamento médico ou medicamentoso por causas diversas, hospitalizações, óbitos etc.” Ora, o município detalha que foram ministradas 26 doses a elementos das equipas envolvidas directamente da operação de vacinação nos lares: 15 enfermeiros e oito elementos da Protecção Civil municipal, entre os quais o vereador que detém esta pasta, Carlos Castro. E também três elementos do departamento de Higiene Urbana, entre os quais a sua directora, Filipa Penedos, “envolvidos no processo de recolha das seringas utilizadas na vacinação”.

De acordo com a autarquia, foram contactadas as autoridades de saúde para saber que destino dar às doses que sobravam e as determinações foram no sentido de “garantir o aproveitamento total das doses existentes”, vacinando em primeiro lugar “todos os profissionais da linha da frente envolvidos na operação de vacinação”. E passar depois para a vacinação dos “grupos da primeira fase de prioridade como os bombeiros e polícias”. 

Uma norma da Direcção-Geral da Saúde (DGS) de 30 de Janeiro estabelece que “enquanto a disponibilidade das vacinas for limitada, a vacinação é priorizada para os profissionais envolvidos na emergência pré-hospitalar e no transporte de doentes urgentes, que ainda não tenham sido vacinados, os profissionais envolvidos na execução do Plano de Vacinação contra a covid-19 e os e titulares de órgãos de soberania e altas entidades públicas”, onde se incluem os presidentes de câmara, uma vez que são os responsáveis principais da Protecção Civil. Em Lisboa, essa responsabilidade está concentrada no pelouro tutelado por Carlos Castro. No entanto, o vereador terá sido vacinado por estar na “linha da frente”, uma vez que têm acompanhado a operação nos locais de vacinação do de vacinação. A mesma justificação é dada para a vacinação da directora municipal de Higiene Urbana.

Fonte da autarquia explica que, em cada dia de vacinação são levantadas as doses que correspondem apenas a “80% das pessoas previstas vacinar em cada um dos dias”. “Esta prática de segurança resulta desde logo das regras estritas quanto ao uso e conservação e das vacinas": uma vez saídos dos centros de saúde, e mesmo conservados em frio em embalagem que monitoriza o seu estado de conservação, os “frascos não perfurados devem ser usados nesse dia” e “os frascos já perfurados não podem ser transportados”. Como há profissionais que por vezes faltam, utentes doentes ou com alergias que não podem ser inoculados, acabam por sobrar doses, explica o município. 

As restantes 100 sobras “foram ministradas a profissionais dos grupos constantes na primeira fase de prioridade definida” pela DGS: “56 bombeiros voluntários" de várias corporações, próximas ao local de vacinação, que definiram quem seriam os elementos vacinados, diz fonte do município. E ainda o comandante e o subcomandante do Regimento de Sapadores Bombeiros para “garantir a cadeia de comando”. Receberam também a vacina 42 elementos da Polícia Municipal, incluindo o comandante e subcomandante.

Apesar de estes profissionais integrarem a primeira fase de vacinação prioritária definida pela DGS, os bombeiros só começaram esta quinta-feira a ser oficialmente vacinados. No entanto, à semelhança do que aconteceu em Lisboa e mesmo antes de o actual plano estar concluído e sem que houvesse qualquer indicação formal nesse sentido, há bombeiros por todo o país que foram sendo vacinados com as sobras de lares de idosos, onde têm estado muito presentes quer a transportar utentes, quer noutras operações mais complexas.

Segundo o balanço do município, a primeira toma da vacina contra a covid-19 em lares e residenciais para idosos da capital foi administrada a 6244 utentes e profissionais em 126 equipamentos, estando em falta 43 instituições. Entre 18 e 22 de Janeiro, 5410 pessoas receberam a primeira dose da vacina e, nos dias 2 e 6 de Fevereiro, foram vacinados 844 utentes e profissionais em 20 lares que “registavam surtos activos na semana de 18 a 22 de Janeiro”, detalhou o município. 

Faltava então proceder à vacinação em 43 estruturas residenciais, que abrangem 3173 idosos e profissionais, aguardando "que estejam reunidas as condições técnicas necessárias, assim que as autoridades de saúde garantam a inexistência de surtos activos”. 

A segunda dose da vacina começou já a ser administrada na segunda-feira, tendo chegado, até quarta-feira, a 3063 utentes e profissionais, disse ao PÚBLICO fonte oficial do município. 

O processo de vacinação em lares e instituições de apoio a portadores de deficiência em Lisboa está a ser coordenado pelos serviços municipais da Protecção Civil, Polícia Municipal, Higiene Urbana e Bombeiros Voluntários, em articulação com os três agrupamentos de centros de saúde da cidade (Central, Ocidental e Norte).

A Comissão Política do PSD Lisboa, liderado por Luís Newton, já veio exigir a demissão do vereador. “Quando existem portugueses em situações de risco e fragilidade que continuam a aguardar a sua vez de serem vacinados não podemos aceitar o argumento das ‘sobras’ para que estas decisões passem incólumes”, refere em comunicado. 

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