Yoshiro Mori vai demitir-se depois de ter dito que “as mulheres falam demasiado”

O presidente dos Jogos de Tóquio e antigo primeiro-ministro japonês abandona o cargo nesta sexta-feira depois de comentários sexistas durante uma reunião.

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Yoshiro Mori vai apresentar a demissão nesta sexta-feira Reuters/Issei Kato

Yoshiro Mori, presidente do comité organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, deverá apresentar formalmente a demissão do cargo na sequência dos comentários sexistas que fez durante uma reunião do organismo. Mori, de 83 anos e antigo primeiro-ministro do Japão, sofreu uma enorme pressão pública para abandonar o cargo depois de ter sugerido que “as mulheres falam demasiado” e que, por isso, “em conselhos com muitas mulheres, as reuniões levam muito tempo”.

As declarações de Mori foram tornadas públicas há uma semana por um diário japonês e, na altura, o dirigente pediu desculpa por elas sem encarar a hipótese de se demitir, algo que irá acontecer nesta sexta-feira durante uma reunião especial do comité, segundo adiantou o canal televisivo NHK. Houve múltiplas reacções a pedir a “cabeça” de Mori, incluindo dos próprios patrocinadores dos Jogos, como a Toyota, cujo presidente Akio Toyoda se mostrou “desiludido” com os comentários de Mori.

Havia um compromisso dos Jogos de Tóquio para que a cúpula do comité organizador fosse composto por 40% de mulheres, algo que está longe de acontecer – apenas cinco em 24 membros. E foi neste contexto que Mori proferiu as suas polémicas declarações. “Se aumentarmos o número de mulheres, temos de garantir que o tempo que têm para falar é limitado. Elas não conseguem calar-se, o que é muito aborrecido. As mulheres têm um forte sentido de competição. Se uma pessoa levanta a mão, outras provavelmente pensam: também preciso de dizer alguma coisa”, disse ainda Mori.

Mori, que foi primeiro ministro do Japão entre 2000 e 2001, é conhecido por ter cometido muitas gaffes. Ainda antes de ser eleito, sugeriu aos japoneses que não iriam votar nele para ficarem na cama no dia das eleições. Já como primeiro-ministro, continuou a jogar golfe depois de lhe terem comunicado que um submarino norte-americano tinha afundado, por acidente, um navio de pesca japonês. Mais recentemente, em plena pandemia, disse que iria continuar a trabalhar para não ser infectado com covid-19 – mas sem máscara.

A demissão de Mori é mais um problema para os já muito problemáticos Jogos de Tóquio, adiados por um ano devido à pandemia da covid-19, com tudo o que isso implica. Calcula-se que o custo adicional para os Jogos seja de 2,3 mil milhões de euros, o que faz crescer para mais do dobro do que estava inicialmente orçamentado – o custo inicial em 2013 era de seis mil milhões, mas este já cresceu para 12,7 mil milhões.

E os desafios logísticos para organizar o evento em contexto de pandemia nada têm a ver com os Jogos passados. Já foram divulgados os manuais de instruções para as comitivas que vão estar em Tóquio, com regras muito restritivas e apertado controlo sanitário, não sendo ainda seguro que os Jogos se realizem com espectadores nas bancadas.

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