Fernando Gomes fala em nome de cinco federações: “Exigimos uma clara identificação dos apoios ao desporto”

Presidente da federação portuguesa de futebol denuncia quebra de 65% no número de atletas inscritos e critica “desprezo” a que o sector tem sido votado pelo Governo.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, apelou nesta quarta-feira a uma intervenção urgente do Governo para pôr um travão ao definhamento do desporto, em geral, e dos clubes, em particular. O dirigente desportivo interveio na Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto em nome de cinco federações, lamentando “o desprezo” a que o sector tem sido votado.

Foi em representação das federações de futebol e das principais modalidades colectivas de pavilhão (basquetebol, voleibol, andebol e patinagem) que Fernando Gomes deu conta dos danos que, em particular, a inactividade nos escalões de formação tem provocado.

“Estas federações tiveram uma redução de 65% dos atletas inscritos, nos sectores masculino e feminino”, denunciou o dirigente, sublinhando que dos cerca de 250 mil atletas inscritos (o que indicia uma quebra de cerca de 160 mil face ao ano anterior), entre escalões sénior e de formação, apenas 13% têm actividade desportiva.

“Não compreendemos esta situação de inactividade, atendendo a que existem vários países onde foi possível manter a actividade na formação, nomeadamente nos escalões de 10, 11 e 12 anos, em que se provou que o nível de propagação do vírus nestas idades é relativamente reduzido”, acrescentou. 

Depois de ter elencado as dificuldades de tesouraria dos clubes, já que em muitos casos o financiamento está directamente indexado às competições, Fernando Gomes lamentou que até agora não tenha havido sensibilidade do Governo para encarar estes problemas. Algo que também ficou expresso nas palavras do secretário-geral do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Araújo.

"Para outras áreas não foi necessário tanto estudo para apresentar uma solução”, apontou, apelando à resolução do “drama da paragem das actividades desportivas” e denunciando a incapacidade do Governo de apresentar uma resposta financeira adequada. Em concreto, criticou o facto de ter sido ignorada a proposta do COP, da Confederação do Desporto de Portugal e do Comité Paralímpico de incluir um apoio expresso ao desporto no orçamento de Estado para 2021.

Um tema ao qual Fernando Gomes se referiu também de um modo mais explícito. “O Estado não pode ter dois pesos e duas medidas consoante os sectores de actividade. O desporto foi obrigado a parar a sua actividade e a não ter espectadores nos recintos desportivos. Se outros sectores de actividade têm subsídios e apoios, porque também foram obrigados a parar, é mais do que justo que o Governo tenha essa capacidade de apoiar o sector o desporto de forma abrangente e generalizada”.

O facto de o Programa de Reabilitação e Resiliência, que será utilizado para apoiar diferentes sectores de actividade, não ter uma referência directa ao desporto também provoca desconforto junto do líder máximo da FPF, que tem entendido este alheamento do Governo como uma “manifestação de desprezo claro pelo movimento associativo e pelo desporto”.

Por isso, Fernando Gomes reclama uma “estratégia clara de retoma das competições” e a indicação de uma “data de referência para o início do treino sem restrições e para a competição da formação”. Mas vai mais longe: “Exigimos uma clara identificação de fundos de apoio ao desporto, para salvar milhares de clubes e associações desportivas que estão em risco de desaparecer rapidamente. Recordo que, em Outubro, o Bloco de Esquerda apresentou um projecto à Assembleia da República para a criação de um fundo de apoio ao desporto. Foi publicado em Diário da República a 5 de Fevereiro, mas, até hoje, o desporto ainda não recebeu um cêntimo para combater as despesas e o acréscimo de custos de uma pandemia que dura há quase um ano”.

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