Autarca de Esposende pede a exoneração do director do ACES local

Em causa está o processo de vacinação de idosos e doentes de risco daquele município e Barcelos. Orientação do ACES Local previa a vacinação dos utentes de Esposende em Barcelos. Benjamim Pereira acusa Fernando Ferreira de ou não ter percebido “o que foi dito pela ARS do Norte” ou de estar a “prestar serviço à estrutura do PS” de Esposende.

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Presidente da Câmara de Esposende, Benjamim Pereira Renato Cruz Santos

O presidente da Câmara de Esposende, Benjamim Pereira, exigiu à Ministra da Saúde a “exoneração e retirada imediata de funções” do director executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Cávado III, Fernando Ferreira. Em causa está a orientação do ACES daquela zona para o processo de vacinação contra a covid-19 do grupo de idosos com mais de 80 anos e dos doentes de risco entre os 50 e os 79 anos. Benjamim Pereira afirma que Fernando Ferreira “não teve um comportamento exemplar” e justifica a exigência de demissão com dois motivos: ou director daquele ACES desconhece o Plano de Vacinação Nacional ou estará a “partidarizar” a situação.

Ao PÚBLICO, o autarca explica que Fernando Ferreira “reiterou, por duas vezes” que não seria possível realizar a vacinação em Esposende, “porque o plano não permitia isso”, cita. Logo, os 1250 munícipes que integram o grupo a vacinar teriam de se deslocar a Barcelos, que integra o ACES Cávado III. “Na reunião de dia 1 [segunda-feira], convocada pelo senhor director e em que estiveram também as juntas de freguesia, manifestei o meu desagrado quanto a isso, porque entendi que iríamos colocar as pessoas em risco”, conta. Ainda assim, o presidente da autarquia diz “ter acreditado” nessa informação, aceitando “mobilizar” os transportes para Barcelos. Entretanto, o PS de Esposende lamentou, numa publicação do Facebook na noite do dia seguinte, que Benjamim Pereira tivesse aceitado “de forma irresponsável” o transporte de idosos do concelho. O presidente do município diz ter contactado Fernando Ferreira acerca “deste comunicado”, questionando-o sobre alguma “possível alteração” no plano de vacinação, obtendo a mesma resposta.

Por isso, no dia 4 (quinta-feira), o autarca levou uma moção dirigida à Ministra da Saúde, Marta Temido, “para tentar garantir” a vacinação daquele grupo de utentes em Esposende. O documento foi aprovado “por unanimidade” na reunião do executivo municipal. Durante a tarde do mesmo dia, o PS de Esposende divulgou, novamente no Facebook, que os idosos e doentes de riscos seriam, afinal, vacinados no concelho.

“Como se percebe que o PS tenha acesso a estas notícias e eu, que sou presidente da Câmara, não”, questiona Benjamim Pereira. “Ou o senhor director do ACES do Cávado III não percebeu o que foi dito pela ARS [Administração Regional de Saúde] do Norte ou sou levado a pensar que estaria a prestar serviço à estrutura do PS”, aponta. Contactado pelo PÚBLICO, Fernando Ferreira negou qualquer ligação partidária: “Não sou político, não sou partidário. Não favoreço ninguém. Eu venho de Gondomar para trabalhar para o ACES.”

“Depois, ao falar com presidentes de outros municípios, soube que estava previsto haver centros de vacinação em vários locais do mesmo ACES”, explica Benjamim Pereira. Em igual sentido, o secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, informou o autarca de que nunca havia sido definido um limite de centros de vacinação por ACES, “mas sim a existência de pelo menos um”. “Só ser possível um ou ter de haver pelo menos um é muito diferente”, repara, dizendo que essa informação contradiz a indicação do ACES.

O director do ACES local garante ter informado o presidente da Câmara de Esposende “que o processo estava dependente da criação de condições” para um eventual centro de vacinação em Esposende. “É um processo dinâmico de gestão, está tudo em aberto”, lembra Fernando Ferreira. Já o presidente da autarquia refere ter sido informado que essa abertura “não era possível neste momento”: “Disse-me que isso não estava fechado, mas não agora. Reportou para uma segunda fase de vacinação, no futuro, com a massificação da vacina.”

Benjamim Pereira diz ter sido “quebrada a relação de confiança entre o município” e espera que “a ministra tome a decisão correcta, porque assim não dá para trabalhar”. Por sua vez, Paulo Cunha, presidente da distrital de Braga do PSD, expressou o apoio à posição do autarca de Esposende e exigiu a intervenção de António Costa no processo de vacinação, noticia a Lusa.  

De qualquer forma, o autarca de Esposende assegura que o município “está disponível” para a instalação de um centro de vacinação. Segundo o Diário do Minho, fonte do ACES local confirmou, “sem referir o local, que a vacinação dos esposendenses vai decorrer” no concelho. Por outro lado, de acordo com Fernando Ferreira, a vacinação dos utentes de Barcelos (cerca de 10.000) não será nas Piscinas Municipais, mas sim “noutro espaço, com melhores condições e acessibilidade”. O director do ACES do Cávado III não especifica o local.  

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